Maestro e músicos celebram inauguração da Casa da Música da Ospa: ‘muda tudo’
Luís Eduardo Gomes
A Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) inaugurou em 24 de março a nova Casa da Música, um espaço no Centro Administrativo do Estado destinado para ensaios e apresentações da orquestra, o primeiro espaço próprio da sinfônica em quase 68 anos de história. Com a mudança, as apresentações da série principal da Ospa passarão a ser realizados nos sábados, às 17h, em vez das noites de terça-feira. Segundo o maestro e diretor artístico Evandro Matté, o novo espaço traz um ganho de acomodações e de qualidade musical para a orquestra, pois permitirá que os músicos ensaiem e se apresentem no mesmo local.
Evandro diz que, pelos primeiros ensaios, já é possível perceber que o novo espaço oferece um ganho técnico para orquestra. “Agora a gente tem a possibilidade de trabalhar muito bem as questões de dinâmica, de fraseado. A gente tem um espaço com uma acústica adequada. E, principalmente, como os concertos de obras mais elaboradas, de composições mais complexas, vão ser aqui dentro, então a gente consegue executar no espetáculo aquilo que é trabalhado durante a semana, coisa que antes não era possível. A gente fazia num lugar e ia pro outro, aí muda acústica, muda a estrutura, muda tudo e você não consegue trabalhar”, explica.
Ele destaca ainda que, além da acústica, ensaiar sob as mesmas condições de iluminação e de temperatura que terão nas apresentações também deixam os 102 músicos da orquestra mais à vontade para realizar um trabalho melhor. Nesse sentido, compara o novo espaço ao de um médico que sai de um consultório em condições precárias para outro todo equipado. “Você tem que ter um espaço adequado, uma luz adequada e uma acústica adequada para poder fazer o trabalho e nós não tínhamos isso. A partir de agora, a Ospa passa a ter isso e passar a se ouvir de uma forma diferente. No momento em que ela se ouve melhor e tem uma situação confortável para trabalhar, ela vai poder fazer uma música de melhor qualidade”, afirma.
Os músicos gêmeos, Ariel e Gabriel Policarpo também saúdam as melhorias técnicas que a Casa da Música traz para a orquestra, além de um ganho em autoestima por estarem tocando em um espaço “moderno, bonito e agradável”. “Vai ser uma mudança muito grande porque podendo ter um trabalho de maior nível, de maior qualidade, poder trazer mais pessoas e levar a cultura para um maior número de pessoas é uma conquista muito grande”, diz Ariel, que toca violino. “Em termos de acústica, um espaço assim é o mínimo que a gente precisa para ter um trabalho de qualidade para gente poder se escutar e também levar pro público ver como chegar lá, é um outro tipo de trabalho”, complementa Gabriel, que toca viola.
Apresentações aos sábados
O maestro diz que a Casa da Música será o local em que serão feitas as apresentações da Série Pablo Komlós, a principal da Ospa. Além dela, há a Série Araújo Vianna, em que a orquestra toca versões instrumentais de músicas populares, a Série Interior – de oito a dez datas em cidades do interior -, além da Série de Música de Câmara, apresentações em igrejas e para crianças. “Aqui na Casa da música teremos uma média de dois programas por mês. Os outros dois programas mensais serão divididos entre todos as outras séries”, diz. Este ano, ainda ocorrerão apresentações especiais de uma ópera e de um ballet no Theatro São Pedro, em comemoração aos 160 anos da casa, e uma turnê com datas em São Paulo, Buenos Aires e Montevidéu.
A Casa da Música tem espaço para abrigar cerca de 1,1 mil pessoas e, com cadeiras extras, pode chegar a 1.140 lugares. Nos dias de eventos, o público terá acesso ao estacionamento do Centro Administrativo do Estado. A expectativa é que sejam lançados passaportes anuais para as apresentações da Ospa, planos de fidelidade e até ocorra a venda de poltronas da sala.
Apesar de já inaugurada, apenas uma apresentação foi realizada até agora na Casa da Música e, nesta semana, apenas o segundo ensaio, uma vez o espaço de 2,5 mil m² ainda está sendo finalizado. Evandro destaca que estão concluídos a Sala de Concertos, o saguão e um espaço que abrigará um bar/restaurante, mas ainda estão sendo realizadas obras para que a Casa da Música abrigue, em uma área de 1 mim m², uma sala de receitais, salas de estudo, etc, com previsão de conclusão até novembro. Quando pronta, a obra deve trazer, além de benefícios técnicos, economia para a orquestra. “Nós vamos ter uma economia anual, só de transporte, de R$ 150 mil, porque a gente ensaiava num lugar e tocava em outro, levando instrumento, fora que destrói os equipamentos vocês ficar levando para todos os lados”, diz.
Formação de jovens
Diretor da Escola de Música da Ospa e clarinetista da orquestra, Diego Grendene de Souza destaca que o novo espaço também trará benefícios para a Ospa Jovem, que passará a ensaiar no local duas vezes por semana. “É muito importante também eles poderem usar o mesmo espaço que a orquestra usa, porque a escola tem um viés profissionalizante. O nosso objetivo é formar músicos de orquestra, embora, ao contrário do que muita gente pensa, não é uma coisa automática a pessoa estudar na escola e vir tocar a aqui”, diz. O ingresso na Ospa é feito via concurso público.
Próximos concertos
Neste final de semana, a Ospa realiza as séries Música de Câmara (sábado, dia 7, 17h, no Museu Júlio de Castilhos) e Araújo Vianna (domingo, 8, 11h, no auditório Araújo Vianna). A próxima apresentação na Casa da Música, da Série Pablo Komlós, será realizada no próximo dia 14, às 17h, na Sala de Concertos. No dia 20, às 20h30, será feita a apresentação da Série Interior na Paróquia São Vicente de Paulo, em Cachoeirinha.
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