A última carta de Clarice Lispector
Lançado originalmente em 2009, Clarice, deu aos brasileiros uma nova imagem de Clarice Lispector e também consagrou a sua obra no exterior. Hoje chega às livrarias uma nova edição da biografia escrita por Benjamin Moser, revista, ampliada e com material inédito: fotos, cartas e manuscritos nunca antes vistos fazem parte do livro.
Filha de imigrantes judeus, Clarice teve uma infância de privações, marcada pela dificuldade de adaptação da família ao Brasil e pela morte precoce da mãe. Mais tarde, casou-se com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem viveu na Suíça e nos Estados Unidos. Dividida entre a vida doméstica e as ambições literárias, separou-se em 1959 e tomou o navio de volta ao Rio de Janeiro com os dois filhos para dedicar-se à carreira de escritora.
Mãe solteira numa época em que o divórcio não era legalizado no Brasil, ela batalhou para sobreviver. Escrevia crônicas em jornais e revistas, dava dicas de moda e etiqueta para damas da sociedade. Enfrentava angústia e solidão e amargava, apesar do prestígio junto aos críticos, a pecha de “autora difícil”, o que nem sempre lhe garantiu acesso às editoras.
Se hoje Clarice é uma figura mítica das letras brasileiras – bela, misteriosa e brilhante -, sua vida foi recheada de percalços que a tornam mais complexa do que mostra a imagem oficial. Ao empreender uma síntese inédita entre vida e obra de uma autora clássica, Benjamin Moser deu uma contribuição de extrema importância para a cultura brasileira.
Para comemorar este lançamento, publicamos aqui no blog a última carta escrita por Clarice Lispector, em 1977, e também uma galeria com algumas das fotos da escritora que você encontrará nesta edição.
Em 1977, Clarice Lispector recebe um convite para ir ao Maranhão. Na resposta enviada no dia 20 de outubro daquele ano, Clarice se queixa da saúde, mas ja diz estar “quase boa”. A viagem, porém, nunca aconteceu: dias depois ela foi internada. Clarice faleceu no dia 9 de dezembro de 1977, e esta foi a última carta que escreveu.
Rio, 20 de outubro 1977
Aurora,
Telefonei para você umas três vezes e só da última recebi a notícia de que você estava em Brasília e depois iria à Europa.
O que eu queria lhe dizer era que concordo plenamente na minha ida a S. Luís (terra do grande Ferreira Gullar) mas que dependia minha viagem de uma melhora de saúde (já estou quase boa). Por favor, telegrafe-me quando chegar de Brasília ou Europa, a fim de combinarmos a minha ida.
Você prefere que eu vá no meio da semana (quando os alunos ainda estão na Universidade) ou fim de semana?
Aguardo sua resposta. E divirta-se Europa
Sua,
Clarice