Top 10: Os melhores filmes de 2015 (e o pior de todos)

mosaico filmes prontoMilton Ribeiro

Um inglês, um cubano, um polonês, um brasileiro, um português, um italiano, um búlgaro, um chileno e dois estadunidenses. E não foi nossa intenção impedir que um país dominasse a lista, apenas aconteceu.

Ah, as listas de fim de ano… Como suportá-las? E como não lê-las, nem que seja para se irritar com a ausência do filme querido ou com a presença daquilo que se detestou visceralmente? Como resultado de ampla discussão no ambiente Sul21, chegamos a dez filmes que foram comparados e colocados em ordem de preferência. É a cultura pública e comum de nosso tempo.

A maioria talvez estranhe a presença de Ida e Whiplash. Eles parecem mais antigos pelo fato de terem participado da festa do Oscar 2015, só que estrearam nos primeiros meses deste ano em Porto Alegre.

Segue a lista:

~ 1 ~
45 anos, de Andrew Haigh


Kate Mercer (Charlotte Rampling) está planejando a festa de comemoração dos 45 anos de casamento. Porém, cinco dias antes do evento, o marido (Tom Courtenay) recebe uma carta: o corpo de seu primeiro amor foi encontrado congelado no meio dos Alpes Suíços. A estrutura emocional dele é seriamente abalada e Kate já não sabe se vai ter o que comemorar durante a festa, após saber de alguns detalhes do caso. Os veteranos Rampling (69 anos) e Courtenay (78) levaram os prêmios de melhor atriz e ator do Festival de Berlim deste ano e dão um show à parte. Ingmar Bergman cansou de nos mostrar que dois grandes atores às voltas com um bom texto pode dar resultados de primeira grandeza. É o caso. O jovem cineasta Andrew Haigh demonstra grande talento e delicadeza para captar as nuances de um casal que sai (muito) fora do prumo.

~ 2 ~
Numa Escola de Havana, de Ernesto Daranas

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Chala é um garoto de 11 anos com uma vida familiar difícil e um comportamento problemático na escola. Quando sua professora Carmela, a única pessoa que Chala respeita, tem que se ausentar por motivos de saúde, sua substituta o transfere para um internato. Ao voltar, Carmela tenta reverter a decisão, mas os compromissos que ela terá que assumir irão colocar os dois em risco. Numa Escola de Havana faz um retrato da educação em Cuba a partir da emocionante relação de um estudante rebelde com sua professora. O filme foi visto por mais de 400 mil espectadores em seu país, um fenômeno que conseguiu o milagre de ser aprovado tanto pelo jornal Granma (pró governo), quanto pela blogueira Yoani Sánchez. Porém, para além da política, trata-se de uma bela abordagem sobre o papel dos pais e da escola na educação.

~ 3 ~
Ida, de Pawel Pawlikowski

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Anna (Agata Trzebuchowska) cresceu num convento na Polônia dos anos 1950 e 60. Quando está prestes a se tornar freira, visita sua única parente viva, uma tia que revela um segredo que irá mudar sua maneira de enxergar a si própria: Anna, na verdade, é de uma família judia que foi morta pelos nazistas. A partir daí, descobre que seu nome verdadeiro é Ida e parte em uma jornada de auto-conhecimento com sua tia Wanda ao ir em busca do túmulo de seus pais. Logo, a jovem precisa escolher entre a realidade que a acolheu e permitiu que ela sobrevivesse ao Holocausto e sua identidade biológica, além de tentar reprimir os sentimentos que começa a nutrir por um jovem saxofonista. Todo em preto e branco, o que aproxima ainda mais o espectador da época em que se passa, o filme resgata a história da Polônia ao abordar a invasão nazista e o extermínio de judeus, os anos sob o stalinismo e o poder da igreja católica no país.

~ 4 ~
Que horas ela volta?, de Anna Muylaert

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Que Horas ela Volta? conta a história de Val (Regina Casé), uma pernambucana que se muda para São Paulo para trabalhar como doméstica e babá do menino Fabinho (Michel Joelsas), ao mesmo tempo que deixa aos cuidados da avó sua filha Jéssica (Camila Márdila). Após 13 anos de serviço Val, tornou-se uma segunda mãe para Fabinho e também a administradora absoluta da casa dos simpáticos patrões Barbara (Karine Telles) e Carlos (Lourenço Mutarelli), A ação do filme começa quando Val recebe a notícia que sua filha vem para São Paulo prestar vestibular. Val pede o apoio dos patrões que aceitam hospedar a menina junto com a mãe no quartinho dos fundos.
A família de Fabinho recebe a menina de forma cordial, mas como ela não segue as regras invisíveis de comportamento e protocolos esperados para ela, a situação se complica. Esses conflitos farão com que Val precise encontrar um novo equilíbrio na sua vida.

~ 5 ~
As Mil e Uma Noites — Volume 1: O Inquieto, de Miguel Gomes

As Mil e Uma Noites -- Volume 1 O Inquieto
O Inquieto é a primeira parte de uma epopeia portuguesa que tem como base a estrutura narrativa do clássico As Mil e uma Noites. Nesta versão, são narradas histórias mirabolantes de um país arruinado pelo comando de “belzebus”, como a certa altura são descritos os governantes de Portugal. Estas servem de substituição aos contos narrados por Xerazade que, para adiar a derradeira noite de núpcias em que morrerá, entretém o cruel rei Shariar, alimentando sua curiosidade. Filme de crítica social, O Inquieto cria um mundo fantástico através de um roteiro corrosivo e trocista. Dividido em três atos, todos eles sustentados por tons distintos, O Inquieto abre a série que elabora uma sátira à política, não só portuguesa, como também europeia.

~ 6 ~
Mia Madre, de Nanni Moretti

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Para começar, talvez seja adequado dizer que Mia Madre foi considerado o melhor filme do ano pelo Cahiers du Cinéma. A revista francesa de crítica de cinema, fundada em 1951 por André Bazin, é rigorosa e… Bem, Mia Madre é excelente mesmo! Como em O Quarto do Filho (2001), Moretti volta ao drama, mas com certo humor. O tema central está na crise de uma diretora de cinema angustiada pela iminente perda da mãe e pela produção de um filme complicado, especialmente pelas confusões causadas por seu vaidoso ator norte-americano. Quem conhece a obra do diretor, percebe o quanto este novo filme é autobiográfico — embora Moretti tenha mudado o sexo da protagonista e reservado para si mesmo um papel secundário.

~ 7 ~
Whiplash, de Damien Chazelle

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Andrew Neiman é um jovem e ambicioso baterista de jazz, cujo único objetivo na vida é chegar ao topo em seu conservatório de música de elite na costa leste dos EUA. Atormentado pela carreira fracassada do pai como escritor, Andrew anseia dia e noite por se equiparar aos grandes gênios da música. Terence Fletcher, um professor reconhecido tanto por sua capacidade como instrutor quanto por seus métodos terríveis, é o regente da melhor banda de jazz da escola. Fletcher descobre Andrew e transfere o aspirante a baterista para a sua banda, mudando para sempre a vida do rapaz. A paixão de Andrew por atingir a perfeição rapidamente se converte em uma obsessão, enquanto seu professor implacável continua a pressioná-lo ao limite da sua capacidade — e da sua sanidade.

~ 8 ~
A Lição, de Kristina Grozeva e Petar Valchanov

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O enredo gira em torno da rígida e correta professora primária Nadezhda (Margita Gosheva). Quando descobre um furto de dinheiro dentro da sala de aula, a personagem dica obcecada em descobrir quem foi o culpado. Às voltas com problemas familiares, a personagem se envolve em uma série de situações que a fazem questionar os limites da ética, da moral e do certo/errado. A partir daí, o espectador é levado a refletir sobre questões inevitavelmente presentes na vida em sociedade, como o julgamento alheio, a burocracia, e a empatia com o outro. Marcado por um tom realista e dramático, o filme ganha contornos inesperados. A personagem é colocada à prova em suas convicções quando percebe a complexidade que simples ações cotidianas podem conter. A Lição foi inspirado na história de um professor búlgaro e é a primeira parte de uma trilogia pautada pela proposta de transformar em filme notícias de jornal.

~ 9 ~
A Criada, de Sebastián Silva

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Um belo filme. Raquel (Catalina Saavedra) trabalha há 23 anos como empregada doméstica e babá em uma família chilena. Ela é aceita como “parte da família”, mora no quarto dos fundos e faz suas refeições separada dos moradores da casa. Com a intimidade que se desenvolveu ao longo das décadas, Raquel não hesita em criticar atitudes dos donos da casa e dos filhos destes, o que acaba gerando problemas com a filha adolescente. Quando os conflitos aumentam, a mãe descarta a possibilidade de demitir a empregada, preferindo contratar uma segunda ajudante. Percebendo a diminuição de sua influência dentro do lar, Raquel fará de tudo para se impor contra as candidatas a auxiliares. Vencedor de vários festivais alternativos, impressiona pela segurança narrativa e pelo elegante final.

~ 10 ~
Vício Inerente, de Paul Thomas Anderson

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O grande diretor de Sangue Negro, O Mestre, Magnólia e Boogie Nights: Prazer sem Limites, PT Anderson, de apenas 45 anos, traz para as telas um romance de Thomas Pynchon. A trama é intrincada como os romances de Pynchon. O que importa é como as situações são criadas. Larry “Doc” Sportello é um detetive particular drogado, vivido por Joaquin Phoenix. Doc é procurado por Shasta (Katherine Waterston), sua ex-namorada que confessa estar sendo pressionada pela esposa (Serena Scott Thomas) de seu amante Michael Wolfmann (Eric Roberts) para dar fim ao sujeito e apoderar-se de sua fortuna. A jovem, no entanto, acaba desaparecendo. Doc também é contratado por Hope Harlingen (Jena Malone), ex-viciada, agora conselheira de jovens drogados, que deseja encontrar o marido desaparecido, Coy Harlingen (Owen Wilson). Trata-se de um ex-comunista que se tornou informante do Programa de Contrainteligência – cujo objetivo, entre outros, é o desmoralizar os grupos de esquerda. Complicado e ótimo.

O pior dos piores:
Macbeth, de Justin Kurzel

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Este Macbeth certamente não é o pior filme de 2015, mas talvez seja aquele de maior desproporção entre pretensão e realização. A pretensão é monstruosa, o resultado… O ódio fica justificado aqui, num texto singelo que inclui as 8 principais lambanças da produção.