Guia21 recomenda ‘Daphne’, ‘Pra ficar na História’, ‘Torquato Neto – Todas as Horas do Fim’, ‘Uma Espécie de Família’ e mais

Milton Ribeiro

Duas mulheres, Daphne e Malena, uma inglesa e uma argentina. A primeira perde-se na vida urbana de Londres. A segunda sai de Buenos Aires para buscar, no interior da Argentina, a criança que vai adotar para preencher sua vida. Este são os temas gerais de Daphne e de Uma Espécie de Família, só que bada é o que parece, nem é tão fácil quanto parece.

Dois documentários. Pra ficar na História e Torquato Neto – Todas as Horas do Fim. Um sobre o quase anônimo descendente de italianos Luiz Henrique Fitarelli, que criou uma Vila cheia de antiguidades a qual leva seu nome; outro sobre o compositor, poeta, jornalista e o escambau piauiense Torquato Neto, um dos gênios da Tropicália, presente inclusive na capa do famoso disco.

E há muito mais. Abaixo, maiores detalhes de tudo isso.

Este pequeno Guia é um resumo. Não se trata de uma programação completa, mas de recomendações dos melhores espetáculos que assistimos. O critério é a qualidade. Se você tiver sugestões sobre o formato e conteúdo de nosso guia, por favor, comente. Boa semana! De segunda a sexta, atualizamos nosso Guia21 com a programação do que acontece em POA.

Cinema – Estreias

Daphne (****)
(Daphne), de Peter Mackie Burns, Reino Unido, 2016, 88 min


Aos 31 anos, Daphne tem a sensação de que sua vida está parada, pois se sente jovem demais para se estabelecer e velha demais para ficar zoando por aí. Para se distrair, se mantém ocupada com pessoas, amigos e amantes. Após presenciar um assalto, Daphne é a forçada a confrontar esse limbo existencial, analisando de perto a pessoa que se tornou. Daphne (Emily Beecham) não é propriamente uma pessoa carismática, pelo contrário. Embora cercada constantemente de gente, são poucas as ligações genuínas que ela estabelece. Com a mãe há uma relação tensa, haja vista a primeira cena delas juntas, com uma chegando sem avisar e a outra fazendo nenhuma questão de expressar carinho. Daphne é o retrato da jovem que lhe empresta o nome, cuja grossa casca de cinismo recobre uma série de dúvidas, fragilidades e dificuldades para sedimentar os elos afetivos. O diretor Peter Mackie Burns não manifesta qualquer traço de condescendência com sua protagonista. (Com o Papo de Cinema).


No Espaço Itaú 2, às 14h e 21h50
No Guion Center 1, às 15h50 e 19h35
No Guion Center 3, às 13h45

Pra ficar na História (****)
de Boca Migotto, Brasil, 2018, 75 min

Foto: Globo Filmes

O veterinário Luiz Fitarelli é um homem apaixonado pela sua história. Neto de italianos, desde cedo passou a colecionar objetos sobre a imigração italiana. Com o tempo, também passou a colecionar casas. Com as casas, construiu uma vila do final do século XIX, um museu a céu aberto. A forte ligação com suas raízes e o desejo da perpetuação da memória aproximam o cineasta Boca Migotto do veterinário Luiz Henrique Fitarelli, figura central do documentário Pra Ficar na História. Não por caso, a certa altura da projeção, os papéis deles se invertem, com o documentarista, agora na posição de entrevistado, sendo questionado por seu objeto de estudo e expondo o interesse particular pela cultura do estado natal de ambos, o Rio Grande do Sul – algo já evidenciado em seus trabalhos anteriores, como o recente Filme Sobre um Bom Fim (2015). No caso de Fitarelli, esse interesse é direcionado especificamente à história da imigração italiana, uma paixão que o levou, ainda jovem, a colecionar fotografias, móveis e outros objetos relacionados ao tema, culminando na compra de casas e na construção de uma vila típica do século XIX com o intuito de, no futuro, abrigar um museu etnográfico. (Com o Papo de Cinema).


Na Cinemateca Capitólio, às 20h50
Na Sala Eduardo Hirtz, às 15h15

Torquato Neto — Todas as Horas do Fim (****)
de Eduardo Ades e Marcus Fernando, Brasil, 2017, 88 min


Torquato Neto vivia apaixonadamente as rupturas. Atuando em múltiplas frentes – no cinema, na música, no jornalismo – o poeta piauiense engajou-se ativamente na revolução que mudou os rumos da cultura brasileira nos anos 1960 e 1970. Foi um dos pensadores e letristas mais ativos da Tropicália. É possível que você já tenha cantarolado versos criados por Torquato Neto e nem tenha se dado conta. Nomes importantes da música brasileira gravaram suas canções e também realizaram parcerias com o poeta, tais como Gal Costa, Nara Leão e Gilberto Gil. Seu trabalho esteve nos discos e nas bocas de artistas talentosos, mas nem por isso é fácil entender suas rimas e seus experimentos. Torquato Neto: Todas as Horas do Fim, dirigido pela dupla Eduardo Ades e Marcus Fernando, é um documentário, mas também não é. É uma homenagem, mas também é registro. É puro Torquato. (Com o Papo de Cinema).


No CineBancários, às 17h

Uma Espécie de Família (***)
(Una Especie de Familia), de Diego Lerman, Argentina / Brasil / França / Polônia / Dinamarca, 2017, 96 min


Malena recebe uma ligação que mudará sua vida: o bebê que adotou está prestes a nascer. Ela viaja para buscá-lo e logo se vê chantageada pelos pais biológicos do recém-nascido. Ou paga a quantia de US$ 10 mil ou a criança será enviada para um orfanato. Malena passa a ser atormentada por dilemas morais e legais que a fazem se questionar sobre o quão longe está disposta a ir para obter o que mais deseja. O longa se inicia de forma enigmática, acompanhando Malena (Bárbara Lennie), médica que atravessa a noite na estrada, partindo de Buenos Aires para uma pequena cidade do interior ao encontro de Marcela (Yanina Ávila), jovem de origem humilde, prestes a dar à luz. Durante boa parte do primeiro ato, Lerman envolve o espectador em dúvidas, incitando suposições ao entregar o mínimo de informações sobre a personalidade ou as reais motivações de Malena, bem como acerca da natureza de sua relação com Marcela – talvez uma ex-paciente. Uma característica estendida ainda a todas as outras figuras que cruzam o caminho das duas mulheres. (Com o Papo de Cinema).


No Espaço Itaú 2, às 15h50, 17h50 e 19h50
No Guion Center 1, às 14h e 21h15

Cinema – Em cartaz

O Filho Uruguaio (****)
(Une Vie Ailleurs), de Olivier Peyon, França, 2016, 96 min


É no Uruguai que Sylvie finalmente encontra a pista sobre o paradeiro de seu filho, sequestrado há quatro anos pelo ex marido. Com a ajuda preciosa de Mehdi, ela vai recuperá-lo, mas ao chegar lá, nada acontece como previsto: a criança, criada por sua avó e sua tia, parece feliz e radiante. Sylvie percebe que Felipe cresceu sem ela e que agora sua vida é em outro lugar. Os franceses Sylvie (Isabelle Carré) e Mehdi (Ramzy Bedia) chegam ao Uruguai em busca do filho dela, sequestrado pelo pai há mais de cinco anos. Cabe ao assistente social ajudar a mãe nessa reaproximação difícil, e mais, se necessário, no rapto do próprio filho para repatriá-lo à força. Está deflagrada a situação intrincada que norteia o longa-metragem dirigido por Olivier Peyon. O registro é naturalista, sem composições visuais complicadas. Isso nos aproxima cruamente das vivências das pessoas enredadas nessa circunstância repleta de meandros e complexidades, fragmentos então abordados com sensibilidade. (Com o Papo de Cinema).


No Guion Center 3, às 15h25 e 19h10

Projeto Flórida (****)
(The Florida Project), de Sean Baker, EUA, 2017, 111 min


​Halley e sua filha Moonee, de seis anos, vivem em um motel barato à beira de uma rodovia na cidade de Orlando. Enquanto a mãe vive entre um trabalho mal pago e uma vida caótica, Moonee e suas amigas do motel ao lado passam os dias explorando prédios abandonados, tomando sorvete e pregando peças nos funcionários do motel – tendo como alvo especial o sempre paciente Bobby. A questão geográfica é muito importante em Projeto Flórida, o mais recente longa-metragem do cineasta Sean Baker. Tudo transcorre nas circunvizinhanças dos parques temáticos de Orlando, numa temporada movimentada de verão. A localização é crucial porque a partir dela se estabelece o forte contraste que permeia as diversas questões abordadas, sendo a principal delas a condição de vida precária de uma parcela dos norte-americanos. Longe de escrutinar os personagens essencialmente em busca de sua miséria, seja ela a material ou a existencial, a câmera percorre livremente o cotidiano empobrecido das pessoas instaladas num hotel de curta temporada, no qual não é possível esticar demasiadamente a estadia. Há três perspectivas principais se intercalando. A primeira, e mais importante, é a das crianças. A segunda, a dos adultos, especialmente das mães solteiras penando para pagar o aluguel. A terceira, a de Bobby, gerente do estabelecimento, vivido excepcionalmente por Willem Dafoe. (Com o Papo de Cinema).

https://youtu.be/MnTm4w5ehlU
No Espaço Itaú 1, às 13h30
No GNC Moinhos 3, às 14h
No Guion Center 3, às 17h10

Trama Fantasma (*****)
(Phantom Thread), de Paul Thomas Anderson, EUA, 2017, 131 min


Década de 1950. Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) é um renomado e confiante estilista que trabalha ao lado da irmã, Cyril (Lesley Manville), para vestir grandes nomes da realeza e da elite britânica. Sua inspiração surge através das mulheres que constantemente entram e saem de sua vida. Mas tudo muda quando ele conhece a forte e inteligente Alma (Vicky Krieps), que vira sua musa e amante. Trama Fantasma é um raro filme sobre o potencial destrutivo dos relacionamentos amorosos. Alma não é a primeira musa inspiradora de Reynolds, e nem seria a última. O homem poderoso, acostumado a ter dezenas de funcionários, familiares e mulheres bajulando-o diariamente, escolhe Alma como quem compra um novo vaso para a sala de estar. Ela fica surpresa quando descobre que seu corpo comum se presta aos vestidos de luxo confeccionados por ele. O melhor aspecto do roteiro de Paul Thomas Anderson é confrontar o homem branco, heterossexual e privilegiado a uma mulher igualmente forte. Alma não está disposta a acatar todas as ordens do macho caprichoso. Aos poucos, começa a testar os limites da autoridade masculina, impondo-se e provocando uma verdadeira revolução dentro do patriarcado rígido da casa de costura Woodcock. O filme alimenta uma guerra progressiva e silenciosa, um ataque violento disfarçado pela elegância das roupas, das palavras. Por trás de tanta cortesia, as pessoas se detestam. (Com o AdoroCinema).


No Espaço Itaú 1, às 15h50 e 21h
NO GNC Moinhos 2, às 13h45, 16h30, 19h10 e 21h40
No Guion Center 2, às 20h30

Três Anúncios para um Crime (*****)
(Three Billboards Outside Ebbing, Missouri), de Martin McDonagh, EUA, 2017, 116 min


Mildred Hayes é uma mulher do interior de luto pela morte da filha. Após meses sem que o assassinato da garota seja solucionado pela polícia, ela decide se vingar por conta própria. Chegando ao terceiro longa-metragem, o diretor, roteirista e dramaturgo londrino Martin McDonagh emprega seu traço cômico pitoresco (sombrio, ágil, mordaz e de notável sensibilidade britânica) num retrato tipicamente norte-americano, se refestelando com os arquétipos referentes ao meio-oeste/sul do país. Em Três Anúncios Para Um Crime, o cineasta mergulha no universo marcado pela violência, pelo conservadorismo e pelas questões raciais do interior dos Estados Unidos através da história de Mildred Hayes (Frances McDormand), moradora da cidade de Ebbing, no Missouri, que, após meses sem notar qualquer avanço nas investigações do assassinato da filha, Angela, decide cobrar um posicionamento das autoridades de modo inusitado: alugando três outdoors localizados à beira da estrada, próximos à entrada de Ebbing, para mandar uma mensagem direta ao chefe de polícia local, o xerife Bill Willoughby (Woody Harrelson). (Com o Papo de Cinema).

No Cinemark Barra 6, às 22h20
No Cinespaço Wallig 6, às 17h10 e 21h30
No Espaço Itaú 6, às 16h30 e 21h30
No GNC Iguatemi 2, às 19h20
No GNC Moinhos 4, às 13h30, 16h, 18h40 e 21h30
No GNC Praia de Belas 5, às 19h10

Pantera Negra (****)
(Black Panther), de Ryan Coogler, EUA, 2018, 135 min


Pantera Negra é essencial. Não apenas por possibilitar um ícone negro como exemplo, para que jovens afro-descendentes mundo afora possam se reconhecer também no universo dos super-heróis, mas também por trazer sua realidade e anseios para o mundo da Marvel. Em meio a conflitos de um mundo desigual, T’Challa irá assumir o trono de um país africano próspero após a morte do pai. Wakanda, reino fictício onde a história se passa, aparentemente é uma terra pobre, isolada do mundo.Porém, na realidade, Wakanda é dona de uma tecnologia aprimorada que esconde do mundo seus recursos. Além disso, seu governante ganha o dever de proteger a nação, através dos poderes do Pantera Negra. Porém, um erro do antigo governante pode colocar o reinado pacífico de T’Challa em risco. O filme mostra, ainda, raízes da cultura africana e tem o elenco majoritariamente formado por pessoas negras, que estão em papéis principais e não apenas como coadjuvantes. (Com Giovana Fleck).


CÓPIA IMAX 3D LEGENDADA
No Cinespaço Wallig 8, às 13h20, 16h e 18h40
CÓPIAS 3D DUBLADAS
No Cineflix Total 1, às 16h30, 19h15 e 22h
No Cinemark Barra 5, às 14h20, 17h20 e 20h20
No Cinemark Ipiranga 3, às 15h20, 18h20 e 21h20
No Cinespaço Wallig 4, às 18h30
Na Cinépolis João Pessoa 1, às 13h e 16h
No GNC Iguatemi 4, às 17h15 e 18h45
No GNC Praia de Belas 1, às 13h30, 16h15 e 19h
CÓPIAS 3D LEGENDADAS
No Cinemark Barra 4, às 15h20, 18h20 e 21h20
Na Cinépolis João Pessoa 1, às 19h
No Cinespaço Wallig 4, às 21h10
No GNC Iguatemi 4, às 16h e 21h30
No GNC Praia de Belas 1, às 21h45
CÓPIAS DUBLADAS
No Arcoplex Boulevard 2, às 14h e 16h30
No Arcoplex Rua da Praia 1, às 14h, 16h30 e 19h
No Cinemark Ipiranga 4, às 16h20 e 19h20
No Cinemark Ipiranga 5, às 14h20 e 17h20
No Cineflix Total 1, às 13h45
No Cinespaço Wallig 1, às 14h, 17h e 20h
No Cine Victória 1, às 13h30, 16h15 e 19h
No GNC Lindoia 1, às 13h40, 16h20, 19h e 21h45
No GNC Praia de Belas 5, às 21h35
CÓPIAS LEGENDADAS
No Cinemark Barra 6, às 19h20
No Cinemark Ipiranga 5, às 20h20
No Espaço Itaú 4, às 16h, 18h40 e 21h20
No GNC Iguatemi 6, às 19h
No GNC Praia de Belas 5, às 14h

O Insulto (****)
(L’Insulte), de Ziad Doueiri, França/Líbano, 2017, 112 min


Tony Hanna é libanês cristão. Yasser Abdallah Salameh é refugiado palestino. Os dois estão em Beirute. O primeiro é dono de uma oficina mecânica, está, ao lado da jovem esposa, à espera de um bebê, e passa seus dias ouvindo pregações político-religiosas na televisão. O segundo é capataz – não regularizado, importante destacar – de uma série de obras que estão sendo feitas no bairro onde o outro mora. Cada um no seu rumo, na sua vida, sem interferências nem atritos que pudessem colocar um no caminho do outro. Mas uma pequena bobagem, que em qualquer outro contexto seria irrelevante, acaba assumindo proporções inimagináveis para os dois. E, assim, O Insulto se transforma em algo muito maior do que os atos que vemos discorrer na tela. O surrealismo de tudo tanto transforma quanto incomoda. E, justamente, por ser um retrato de uma realidade tão específica, se mantém distante daquilo que aceitamos como crível, permitindo interpretações extremas. (Com o Papo de Cinema)


No Guion Center 2, às 16h20

A Forma da Água (****)
(The Shape of Water), de Guilhermo Del Toro, EUA, 2017, 123 min

Os momentos iniciais de A Forma da Água são dedicados a apresentar sinteticamente o cotidiano de Eliza (Sally Hawkins). Moradora de um apartamento sobre o cinema da cidade, ela é profissional de limpeza de um laboratório norte-americano subordinado ao exército. Guillermo del Toro desloca elegantemente a câmera pelos cômodos da residência, evidenciando o esmero da direção de arte e da cenografia ao delineamento de um espaço, ao mesmo tempo, acolhedor e repleto de personalidade. A trilha sonora de Alexander Desplat se impõe positivamente como auxiliar vital da construção da atmosfera lúdica, própria à improvável e central história de amor, uma metáfora da beleza da diversidade. Logo nos deparamos com uma criatura confinada, o humanoide anfíbio denominado Forma (Doug Jones). Por ser “monstro”, ou seja, diferente do padrão, o governo norte-americano o trata como trunfo para obter vantagem contra a União Soviética. O filme se passa nos anos 60, em plena Guerra Fria. (Com o Papo de Cinema)


No Cinemark Barra 1, às 13h e 19h10
No Cinespaço Wallig 4, às 13h30 e 16h
No Cinespaço Wallig 5, às 19h20
No Espaço Itaú 6, às 14h e 19h
No GNC Iguatemi 2, às 21h45
No GNC Moinhos 1, às 16h45
No GNC Moinhos 3, às 21h15
No GNC Praia de Belas 5, às 16h40

The Post: A Guerra Secreta (****)
(The Post), de Steven Spielberg, EUA, 2017,  116 min

“Liberdade de imprensa”. Essa expressão, de tão repetida e mal-empregada, virou, nos dias de hoje, um chavão aberto às mais diversas interpretações – muitas delas, infelizmente, equivocadas. Como se jornais e jornalistas estivessem interessados em enganar seu leitor, agindo em prol de uma força maior e obscura – o governo, obviamente. Algo que, é preciso concordar, não chega a ser uma interpretação totalmente equivocada. No entanto, em sua origem, o entendimento era justamente o contrário: o quarto poder, por assim dizer, era o olho do público, o vigia que deveria investigar e delatar quaisquer irregularidades contra o cidadão. Pois é este ideal, aparentemente em desuso, que Steven Spielberg resgata em The Post: A Guerra Secreta. Mas ele não está interessado em apenas discorrer sobre o óbvio. E por trás do cenário que levanta para o seu discurso, há um outro debate ainda mais relevante, centrado na figura da protagonista, vivida por Meryl Streep. Não se engane, pois temos aqui o filme mais feminista do diretor desde A Cor Púrpura (1985). E isso, sim, significa muito. (…) Os jornalistas e repórteres querem fazer o trabalho deles: reportar ao mundo suas descobertas. Mas a que preço? Como pesar as consequências desse ato? Spielberg mergulha fundo não só na rotina do The Post, mas também na do seu principal concorrente, o The New York Times.  (Com o Papo de Cinema)


No GNC Moinhos 3, às 16h15 e 18h50

O Jovem Karl Marx (****)
(Le Jeune Karl Marx), de Raoul Peck, França / Alemanha / Bélgica, 2016, 118 min


Aos 26 anos, Karl Marx embarca com a mulher, Jenny, para o exílio. Em Paris, eles conhecem Friedrich Engels, filho do dono de uma fábrica que estudou o nascimento do proletariado inglês. Engels traz a Marx a peça que faltava para o quebra-cabeça de sua visão de mundo. Seja na esfera documental ou na ficcional, o cinema do haitiano Raoul Peck se notabiliza pelo teor político e de investigação histórica, característica dominante em trabalhos como Lumumba (2000), uma dramatização da trajetória do líder anticolonialista congolês Patrice Lumumba, e Eu Não Sou Seu Negro (2016), documentário indicado ao Oscar que traça um panorama dos conflitos raciais nos Estados Unidos do século XX tendo como base os textos do escritor James Baldwin. Em O Jovem Karl Marx, Peck direciona sua lente biográfica a uma das figuras políticas mais notáveis e debatidas de todos os tempos, apresentando um recorte de sete anos da vida do filósofo e sociólogo alemão (vivido por August Diehl) que parte de seu exílio na França, aos 26 anos de idade, até a criação do Manifesto Comunista. (Com o Papo de Cinema).


Na Sala Eduardo Hirtz, às 16h45

Lou (***)
(Lou Andreas-Salomé), de Cordula Kablitz-Post, Alemanha / Suíça / Áustria / Itália, 2016 113 min


Desde muito pequena, Louise von Salomé demonstrou dificuldades para entender por que homens eram tratados com tanta discrepância em relação às mulheres. Essa rebeldia infante, com ares mais que de travessura natural, é contada pela própria Lou (Nicole Heesters), já aos 72 anos e com uma saúde bastante debilitada, ao homem que, em princípio, chega à procura de sua expertise psicanalítica abafada pela ascensão de Hitler. A cineasta Cordula Kablitz-Post se preocupa claramente com as filigranas, mostrando ao largo a marcha dos alemães rumo à Guerra e a decorrente perseguição a todo tipo de literatura, ciência e/ou campo do saber associado (arbitrariamente) aos judeus. Então, esse verdadeiro ícone trata as inquietações psicológicas do escritor desempregado que relata, maquiando sua história como se de um amigo próximo, as dificuldades conjugais e o bloqueio criativo, determinantes ao seu fracasso, fazendo dele biógrafo. Portanto, o que vemos em Lou são versões comprometidas do real. (Com o Papo de Cinema).


No Guion Center 1, às 17h30

Viva — A vida é uma festa (****)
(Coco), de Lee Unkrich e Adrian Molina, EUA, 2017, 105 min


Miguel sonha em se tornar um grande músico, assim como seu ídolo, Ernesto de la Cruz. Isso apesar da música ter sido banida há gerações em sua família. Desesperado para provar o seu talento, o garoto se vê na deslumbrante e pitoresca Terra dos Mortos seguindo uma misteriosa sequência de eventos. Ao longo do caminho, ele conhece o encantador trapaceiro Hector, e juntos partem em uma jornada extraordinária para descobrir a verdade por trás da história da família de Miguel. Para começo de conversa, é bastante relevante, além de emblemático nesta Era Donald Trump de intolerância e xenofobia, Viva: A Vida é uma Festa ser não apenas protagonizado por um mexicano, mas se passar no México e se valer da cultura do país para consolidar preceitos como o valor da família. Miguel é um dos mais novos da linhagem Rivera de sapateiros, destino selado por um infortúnio do passado, pois sua tataravó, abandonada pelo marido cantor e compositor, que almejava carreira de sucesso, precisou aprender uma profissão para sobreviver. Como efeito, a já falecida senhora amaldiçoou a música, passando a ojeriza adiante como se herança sanguínea. Acontece que o menino acalenta secretamente o desejo, justo, de fazer sucesso tocando violão e soltando a voz por aí, como os mariachis dos quais engraxa os calçados antes das apresentações na praça. Portanto, o problema, logo posto, é essa necessidade de romper com os seus para ser feliz. (Com o Papo de Cinema).

https://youtu.be/-Af1mAec0LA
CÓPIAS DUBLADAS
No Cinamark Barra 6, às 16h50
No Cinemark Ipiranga 6, às 13h e 15h30
No Espaço Itaú 5, às 13h30

Exposições

Exposição “Meu Mundo Imaginário”
No Centro Cultural Erico Verissimo, Andradas, 1223
De terças a sextas das 10h às 19h, sábados das 11h às 18h
Até 29 de março

Marcela Meirelles nasceu em Bagé, em 08.08.1973, formou-se em Relações Públicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e desenvolveu sua trajetória profissional, durante 15 anos, na área da Comunicação, entre Santa Maria e Porto Alegre. O mergulho nas artes plásticas, referência familiar, resgatou o encanto pelos esboços iniciados na infância, hoje preenchidos pela tinta acrílica como uma espécie de serigrafia, como a artista define. Uma tentativa de compreender o próprio universo particular em reinvenção. Realizou sua primeira exposição individual em Bagé na Casa de Cultura Pedro Wayne, em janeiro de 2018. “Meu Mundo Imaginário é constituído de curvas, que ao se cruzarem, criam figuras das mais remotas lembranças… Lugares que brinquei, casas que vivi, flores que gostei, águas que nadei e por aí vai… Um universo singular e extremamente colorido, com traços soltos e leves, livres de conceitos e preconceitos do que é a arte… Uma brincadeira de uma criança que cresceu, mas que continua vívida e que gosta de pegar o seu pincel, colorir os seus rabiscos e tornar a vida mais bonita.

Exposição Arte e História
Galeria Duque, Rua Duque de Caxias, 649, Centro Histórico. F: 51 3228-6900
Duração: até 28/4 — Seg/Sex: 10:00 às 19:00h | Sáb: 10:00 às 17:00h
Obras do acervo de artistas nacionais

Quem não pode ir ao MoMa de Nova York para ver a grande exposição dedicada a Tarsila do Amaral tem a possibilidade de apreciar pelo menos uma obra da consagrada artista modernista em Porto Alegre. Nesta sexta-feira (2/3), às 17h30, a Galeria Duque abre a exposição Arte e História, com trabalhos de mestres brasileiros de seu acervo, e um deles é Paisagem (óleo s/tela, 40 x 70 cm, 1924), da famosa autora de Abaporu. A curadoria é de Daisy Viola, e a mostra permanece até 28 de abril. Os visitantes também poderão deleitar-se com obras de outros importantes artistas nacionais como, por exemplo, Di Cavalcanti, Siron Franco, Vicente do Rego Monteiro, Carlos Bracher, Orlando Teruz, Aldo Bonadei, Milton Dacosta e Gonçalo Ivo. “O acervo da Galeria Duque é composto por obras de artistas fundamentais na arte brasileira do século XX. Para iniciar nosso calendário de 2018, optamos por mostrar uma parte importante desta coleção, com pinturas, desenhos, gravuras e esculturas, contaremos um pouco da história do nosso país”, diz a curadora.

Tarsila do Amaral, Paisagem, 1924, óleo s/ tela, 40 x 70 cm

Exposição PulsationsPulsações – Do arquivo vivo de Sérvulo Esmeraldo
De 28 de novembro de 2017 a 31 de março de 2018
De segunda a sexta, das 10h30 às 22h e sábados, das 10h30 às 20h
Na Galeria do Instituto Ling, na Rua João Caetano, 440

PulsationsPulsações – Do arquivo vivo de Sérvulo Esmeraldo, primeira exposição póstuma do artista cearense,falecido em fevereiro deste ano, pouco antes de completar 88 anos. A exposição mostra uma das trajetórias mais originais da arte brasileira: conhecido por seu rigor geométrico-construtivo, Esmeraldo incursionou pela escultura, a gravura, a ilustração e a pintura, tendo sido um dos pioneiros da arte cinética e autor de obras de geometria e luminosidade singulares. A mostra, com curadoria de Ricardo Resende, traz 84 peças – entre gravuras, matrizes, desenhos, estudos, relevos, maquetes, instalações, documentos e fotografias – que fazem parte do arquivo do IAC – Instituto de Arte Contemporânea (São Paulo/SP). PulsationsPulsações joga luz sobre o rico processo criativo do artista em seus primeiros anos na França, uma fase de aprendizado, de iniciação nas técnicas da gravura em metal e litografia. Contempla os desenhos e as gravuras em metal que compõem esse período europeu, sob a influência do abstracionismo lírico que vigorava na capital francesa naquele momento, que seria uma resposta à Action Painting nova-iorquina. É acompanhada, ainda, de uma seleção de esculturas e de duas pinturas posteriores a essa fase, quando explorou a topologia das coisas e formas.

Sérvulo Esmeraldo | Foto: Leonard De Selva

Música

Abertura da temporada da Série Pianíssimo
Dia 11 de março – Domingo – 18h
Casa da Música POA

O próximo domingo, 11 de março, vai marcar a abertura da temporada de recitais 2018 da Casa da Música POA. Dentro da Série Pianíssimo, o recital será apresentado pela pianista, pesquisadora e professora universitária brasiliense, Joana Holanda. Obras de C. Debussy, F. Chopin e B. Ruviaro formam o Programa do recital. Joana Holanda atua como pianista e camerista no Brasil e no exterior,  tendo apresentado recitais-palestra em congressos em Buenos Aires- Argentina e Aveiro- Portugal. Dedica-se à pesquisa e interpretação da música contemporânea  brasileira. Em  2013  lançou  o  seu primeiro CD pelo selo SESC-SP intitulado “Piano Presente”, todo dedicado à música de compositores brasileiros da atualidade. Atualmente Joana é Professora adjunta da Universidade Federal de Pelotas-UFPel, integra o NuMC- Núcleo de Música Contemporânea da mesma instituição.

Serviço
Abertura temporada de concertos 2018 – Casa da Música POA
Série Pianíssimo – Recital de Joana Holanda
Dia 11 de março – Domingo – 18h
Casa da Música POA
Rua Gonçalo de Carvalho, 22 (fundos do Shopping Total)
Bairro Floresta
Ingresso: valor espontâneo

Joana Holanda | Foto: Luiz Clementino

Teatro

PROJETO LILITH: Pixações em Corpos Histéricos.
Data: 9 de março a 1º de abril.
Horário: Sextas-feiras e sábados, às 21h, e domingo, às 20h.
Local: Sala Carlos Carvalho – 2º andar da CCMQ (Rua dos Andradas, 736)

O Coletivo Quântico retorna aos palcos de 9 de março a 1º de abril com o “PROJETO LILITH: Pixações em Corpos Histéricos”. As apresentações vão ocorrer de sexta-feira a domingo, no Teatro Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ). Os ingressos custam R$ 35 inteira e R$ 20 para classe artística, estudantes, idosos, professores, estudantes da Casa de Teatro. O espetáculo foi contemplado com o Edital de Ocupação de Teatros da CCMQ, e a temporada tem um significado especial, uma vez que o mês de março é dedicado ao pensamento na condição da mulher e suas lutas por igualdade, qualificação e dignidade. O PROJETO LILITH é uma criação teatral movida por questões que afligem um universo de opressões íntimas e sociais do feminino. As cenas são inventadas a partir de uma investigação acerca da invisibilidade e naturalização de violências contra as mulheres, reestruturando performances em ocupação de espaços públicos, investigadas anteriormente, agora para espaços alternativos. A montagem dá voz às atrizes, usando-se de mitos da culpabilização da mulher, como Lilith e Pandora. Numa dramaturgia inédita, o público pode optar permanecer no espaço/ambiente que desejar, acompanhando a performance que escolher, ou transitar entre todas, criando uma leitura sobre sua escolha dentro da encenação.

A Noiva de Cristal
De 01 a 11 de março, às quintas, sextas e sábados, 20h | Domingos às 19h
Centro Histórico Cultural Santa Casa – Independência 75
Ingresso: R$ 40,00 | R$ 20, 00 – meia entrada

Espetáculo inspirado em uma história real traz Ana Guasque no elenco com direção do carioca Márcio Azevedo. No dia 01 de março entrará em cartaz o espetáculo “A Noiva de Cristal’, no Teatro do Centro Histórico e Cultural Santa Casa. A peça com texto e direção do carioca Márcio Azevedo, traz no elenco Ana Guasque e locução em off de Marcos Breda. Inspirado em uma história real de uma familiar do diretor, reúne fragmentos de textos de Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Florbela Espanca, Machado de Assis, Castro Alves, Luiz de Camões, Chico Buarque, Shakespeare, Oscar Wilde, Freud, Bilac, Rimbaud, Miguel de Cervantes, Sócrates e Balzac. “A Noiva de Cristal” é ambientada na década de 50 e conta o drama de Dulce, que após ter sido abandonada às vésperas do casamento, sofreu um rompante emocional, e a família, sem saber como lidar com seu sofrimento e por ser mulher abandonada, internou Dulce em uma clínica psiquiátrica e ali ela permaneceu, perdendo 15 anos da sua vida. A dramaturgia do espetáculo também traz temas como amor, rejeição e traição, questionando os limites das relações amorosas, a loucura, a sanidade, a aceitação da diversidade e as convenções sociais, além de promover um importante debate a respeito da saúde mental, movimento anti-manicomial e a reforma psiquátrica. Mas acima de tudo, A Noiva de Cristal é um grande elogio ao amor e à entrega ao sentimento mais nobre de todos.

Foto: Jorge Aguiar