Projeto social leva dança a alunos de escola pública

Todas às quartas e sextas-feiras, alunos da Escola Estadual Emílio Massot têm aulas de salsa|Foto: Guilherme Santos/Sul21
Todas às quartas e sextas-feiras, alunos da Escola Estadual Emílio Massot têm aulas de salsa|Foto: Guilherme Santos/Sul21

Jaqueline Silveira

Em uma das salas de aula no segundo andar da Escola de Ensino Fundamental e Ensino Médio Coronel Emílio Massot, no Bairro Azenha, em Porto Alegre, as classes são retiradas e depositadas em um canto, dando lugar a uma pista de dança animada. Essa é a rotina nos finais de tarde das quartas e sextas-feiras de 23 estudantes que participam do projeto Educadança desde o mês de setembro. Todos estudam no turno da tarde e ao final das aulas permanecem na instituição para aprender a dançar.

A iniciativa prevê aulas de salsa e de hip hop. Mas, por enquanto, os estudantes estão apreendendo o ritmo caribenho da salsa. Em 2016, os passos do hip hop também farão parte das aulas. O projeto foi viabilizado por meio da articulação da vice-diretora do turno da tarde da Emílio, Neiva Lazzarotto, e um dos bailarinos, Cládio Wohlfahrt, da escola Duo Dança, que desenvolve o projeto social em instituições públicas de ensino. Os dois já se conhecem há bastante tempo pelo engajamento nas lutas sindicais, ela, como professora, e ele, como policial civil. Como já conhecia o trabalho social da Duo Dança, Neiva, que chegou à Emílio Massot no final de 2014, resolveu colocar em prática a iniciativa. “Integra e desenvolve as habilidades”, avalia a vice-diretora, sobre a atividade.

Projeto é oportunizado de graça por escola de dança em parceria com a Emílio Massot| Foto: Guilherme Santos/Sul21
Projeto é oportunizado de graça por escola de dança em parceria com a Emílio Massot| Foto: Guilherme Santos/Sul21

Participam das aulas estudantes entre 10 e 17 anos e todos já dominam os passos de salsa. “Eu acho muito legal, eu ia para casa e ficava no WhatsApp ou no face (Facebook) só nas redes sociais, aqui a gente fica mais tempo com os amigos”, diz o estudante do 9º ano Daniel de Ávila Silva, 17 anos. “Nunca imaginei dançar salsa na minha vida”, diverte-se ele, sem disfarçar a empolgação.

Um dos professores de dança, Cássio Moraes Wohlfahrt confirma o depoimento de Daniel sobre a importância de ter uma opção de atividade depois das aulas. “Os alunos vieram me pedir para ter mais um dia de aula que eles iam para casa e não tinham outra atividade para fazer”, conta Cássio. No início, as aulas de dança eram realizadas só uma vez por semana.

Participam do projeto social, 23 alunos, de 10 anos a 17 anos, de aprovam ter uma opção de atividade depois das aulas |Foto: Guilherme Santos/Sul21
Participam do projeto social, 23 alunos, de 10 anos a 17 anos, de aprovam ter uma opção de atividade depois das aulas |Foto: Guilherme Santos/Sul21

“Eu me divirto muito aqui, o tempo passa muito rápido”, conta Yasmim dos Santos Santana, de 10 anos, exibindo desenvoltura nos passos do ritmo caribenho. “Quando cheguei aqui, achei que não ia conseguir. Estou aprendendo muitas coisas”, acrescenta ela, feliz com a nova atividade.

De aluna a professora

A outra professora de dança, Ingrid Gomes Rodrigues, 20 anos, pode ser uma inspiração para os estudantes. Ela participou por três anos do projeto Educadança na Escola Oscar Pereira, no Bairro Cascata, onde começou a iniciativa. Foi lá que deu os primeiros passos na dança e se aperfeiçoou na Duo Dança, onde é monitora atualmente. “Eu me vejo muito neles, eu iniciei da mesma forma”, comenta a jovem. Ela conta que está sendo “uma boa experiência” dar aulas aos estudantes. Na avaliação de Ingrid, é importante para os alunos terem outras atividades para ocuparem o tempo. “Até para os alunos não entrarem em outros mundos”, ressalta Ingrid.

As aulas são ministradas pelos professores Cássio e Indrig. Ela é ex-participante do projeto social| Foto: Guilherme Santos/Sul21
As aulas são ministradas pelos professores Cássio e Indrig. Ela é ex-participante do projeto social| Foto: Guilherme Santos/Sul21

A Escola Estadual Coronel Emílio Massot, conforme a vice-diretora do turno da tarde, tem aproximadamente 1 mil alunos de 37 bairros da Capital, 10 deles se localizam nas redondezas da instituição de ensino, mas também frequentam a escola estudantes de localidades bem distantes, como da Restinga, na zona Sul. Boa parte deles, informou Neiva, é filho de trabalhadores e não teriam condições de pagar aulas particulares de dança. Por esse motivo, ela defende que o Estado deveria oferecer esse tipo de atividade, uma vez que são poucas as escolas que oportunizam essa opção. “O Estado deveria oferecer aulas de música, de dança, é uma coisa que tem de ser incentivada”, destaca a professora. Além de dança, a escola oportuniza aulas de capoeira há mais tempo.

A ideia da Duo Dança é levar as aulas de danças para outras escolas, mas precisa de apoiadores| Foto: Guilherme Santos/Sul21
A ideia da Duo Dança é levar as aulas de danças para outras escolas, mas precisa de apoiadores| Foto: Guilherme Santos/Sul21

“Eu gosto muito de dançar e topei na hora. Nesse momento, minha mãe não tinha condições de pagar. É importante para pessoas que não têm condições”, diz a estudante Vitória dos Santos, 14 anos.

No dia 18 de dezembro, a Escola Duo Dança apresentará um espetáculo de dança, às 20h, no Teatro Dante Barone, com a participação, inclusive, de ex-alunos que integraram o projeto Educadança em outras oportunidades. Já os estudantes da Emílio Massot foram convidados a assistir ao evento.

Iniciativa idealizada

O projeto social foi implementado há três anos. Dona da escola, Cristina Hoffmann conta que já trabalhava com crianças de comunidades de baixa renda quando era “professora terceirizada” e tinha o desejo de desenvolver um projeto social. “A ideia era tirar as crianças da rua e dar oportunidades”, lembra. Então, assim que abriu a Duo Dança, ela colocou a iniciativa em prática, priorizando a salsa e a dança de salão, que a maioria dos estudantes não conhecia. Já o hip hop, segundo a professora, é mais popular entre os alunos. Atualmente, informa Cristina, há dois ex-alunos do projeto que são professores na Duo Dança e outros dois que são monitores.

Para 2016, a Duo Dança pretende levar o projeto para outras escolas públicas.”Mais do que nunca queremos expandir, estamos atrás de apoiadores. As aulas são totalmente de graça”, afirma a proprietária da escola. A contribuição de parceiros, conforme ela, seria para ajudar os professores que ministram as aulas e que hoje recebem “um valor simbólico” e as passagens para o deslocamento.

Confira mais fotos:

03/12/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Projeto dá aulas de dança e hip-hop gratuitamente em escolas públicas. Foto: Guilherme Santos/Sul21
|Foto: Guilherme Santos/Sul21
03/12/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Projeto dá aulas de dança e hip-hop gratuitamente em escolas públicas. Foto: Guilherme Santos/Sul21
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03/12/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Projeto dá aulas de dança e hip-hop gratuitamente em escolas públicas. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21