Ói Nóis Aqui Traveiz encerra esta primeira temporada de MEIERHOLD com apresentações de quinta a sábado na Terreira

Foto: Pedro Isaías Lucas/Divulgação

Mais uma vez o Ói Nóis Aqui Traveiz mergulha de corpo e alma no teatro e traz em sua nova obra uma homenagem a dois mestres da cena contemporânea e do teatro latino-americano: o encenador russo Meierhold e o dramaturgo argentino Eduardo Pavlovsky. A nova encenação da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, MEIERHOLD, é uma adaptação livre da peça “Variaciones Meyerhold”, de 2005, do dramaturgo, ator e psicanalista argentino Eduardo Pavlovsky. A peça segue em cartaz até 22 de dezembro, de quintas a sábados, sempre às 20h, na Terreira da Tribo (Rua Santos Dumont, 1186).

No centro da trama a figura de Meierhold, célebre ator, diretor e teórico russo, cujo discurso inovador e revolucionário o transformou em personalidade de relevância no panorama teatral do início do século XX. Grande questionador das formas acadêmicas da criação teatral, a postura de Meierhold confronta com as ideias de seu contemporâneo Stanislavski, com quem manteve uma relação ao mesmo tempo estreita e distante. A encenação reúne aspectos do discurso artístico do pensador russo e os relaciona com momentos dramáticos de sua trajetória pessoal, sujeito ao cárcere, tortura e humilhações até o seu brutal assassinato pelas autoridades da Rússia stalinista.

Estruturada em fragmentos, a ação de Meierhold se alterna entre os pensamentos em voz alta a relatos e diálogos imaginários com diferentes interlocutores, como com a sua amada, a atriz Zinaida Reich, também assassinada tragicamente. O espetáculo utiliza-se de diferentes linguagens e recursos, inclusive audiovisuais, fragmentos de poesias surrealistas e cenografia construtivista que remete à utilizada pelo próprio Meierhold. A cenografia é uma adaptação do dispositivo cênico criado por Liubóv Popóva para “O Corno Magnífico”, dirigida pelo russo. Na encenação estão também presentes elementos dos estudos e experimentos do encenador russo como o grotesco, o teatro popular de feira e a biomecânica.

Ligado num primeiro momento ao Teatro de Arte de Moscou dirigido por outro grande do teatro russo, Stanislavski, Meierhold abandonou cedo a via naturalista para construir a sua própria concepção dramática – que denominou “teatro da convenção consciente”– e seus trabalhos experimentais lhe permitiram desenvolver a teoria da biomecânica, um rigoroso método de preparação do ator que tenta explorar ao máximo suas possibilidades físicas e psíquicas. Vsevolod Emilevich Meierhold (1874-1940) elaborou também uma encenação revolucionária e instaurou os princípios do moderno conceito de montagem. Na montagem do Ói Nóis, este homem velho, confinado e exposto à tortura física “por um problema estético”, vê o tempo desorientar-se dentro e fora da sua cabeça. Reclama que até os exercícios de sensibilização do corpo são questionados pelos guardiões do regime. Coerente com seus princípios, Meierhold enfrentou, sem jamais se curvar e ceder, a pressão de um sistema autoritário e absoluto contra a liberdade de criação artística, terminando por cair vítima de sua própria honestidade de artista, da intransigência com que lutou em defesa das suas ideias nos dias sombrios que se abateram sobre a sociedade e as artes russas.

A história de Meierhold não deixa de nos colocar em questionamentos sobre o momento e o lugar em que vivemos. A dinâmica da encenação busca perguntar aos espectadores como Meierhold nos afeta e nos comove no sombrio Brasil de hoje. Eduardo “Tato” Pavlovsky (1933-2015) é conhecido no país pelas suas peças “Senhor Galíndez”, “Telerañas”, “Potestad”, “Passo de dos” e “Rojos Globos Rojos”.

Serviço:
MEIERHOLD
Até 22 de dezembro
Temporadas quinta, sexta e sábado, 20h
Terreira da Tribo – Rua Santos Dumont, 1186
Ingressos:
R$ 40,00 inteira e R$ 20,00 meia-entrada para estudante, idoso e classe artística
Antecipados:
Terreira da Tribo (Rua Santos Dumont, 1186), das 15 às 18h – F: 3028 1358
Meme Santo de Casa (R. Lopo Gonçalves, 176 – Cidade Baixa) – F: 3019-2595
StudioClio (R. José do Patrocínio, 698 – Cidade Baixa), das 13 às 18h – F: 3254-7200