Estreia na quinta-feira, 30 de agosto, no teatro do Goethe-Institut Porto Alegre, o espetáculo Pátria Estrangeira/Fremde Heimat, uma coprodução da ATO cia.cênica, Primeira Fila Produções e Badisches Staatstheater Karlsruhe. A temporada de estreia mundial da produção, que conta com elenco e equipe brasileiro e alemão, segue em Porto Alegre até 09 de setembro, seguida por apresentações em Karlsruhe a partir do dia 20 do mesmo mês. O projeto tem financiamento do Fundo de Cultura Federal Alemão Kulturstiftung des Bundes em parceria com o Goethe-Institut.
O sul do Brasil é conhecido por ser a região que recebeu grande parte dos imigrantes vindos da Alemanha. No século XIX chegaram ao Brasil colonos alemães que pela pobreza e falta de perspectiva econômica se refugiaram na região dos Pampas – as famílias receberam boas vindas com o propósito de colonizar a região e embranquecer a população. A partir de então, diversas ondas de imigração alemã se sucederam, desde os refugiados econômicos da crise de 1920, os perseguidos pelo Nazismo na segunda guerra até os próprios Nazistas que com o fim da guerra se esconderam na região. Em algumas famílias até hoje o dialeto alemão Hunsrückisch é falado. Atualmente, a Alemanha e o Brasil são países de destino da imigração causada pela pobreza. A Alemanha já foi um país de partida de imigrantes pobres. No projeto docuficcional, cinco atores com antecedentes migratórios partem em busca de sua “pátria estrangeira”.
Pátria Estrangeira/Fremde Heimat é uma direção e baseado na pesquisa da diretora Mirah Laline, com pesquisa e texto do autor Jürgen Berger, construída em colaboração com elenco, equipe e direção e direção de dramaturgia de Jan Linders. O elenco, formado pelos brasileiros com raízes e descendências germânicas, Philipe Philippsen, Camila Falcão, Martina Fröhlich, Karin Salz Engel e o alemão de família Austríaca e Italiana, Thomas Prenn, conta a história de descendentes de alemães no Brasil, através de uma docuficcção. “Foi através de uma pesquisa autobiográfica de cada um dos atores e seus ancestrais, alguns deles vindos da Alemanha, que construímos este biodrama”, conta Mirah. A partir de uma pesquisa e resgate autobiográficos durante um workshop realizado no primeiro semestre deste ano em Porto Alegre, o autor Jürgen Berger montou a base dos textos do espetáculo. Quatro atores e músicos brasileiros contracenam com um jovem ator de Karlsruhe, Alemanha. Temas como ancestralidade, gerações, memória, pertencimento, imigração permeiam questionamentos como: é possível viver duas culturas ao mesmo tempo? Seria Pátria um instrumento do colonialismo? Que semelhanças existem com a recente onda de imigração no Brasil e na Alemanha?
Vídeos e músicas – executadas ao vivo e compostas pelo elenco – são elementos muito marcantes da concepção, segundo a diretora. Ricardo Vivian assina o Desenho de Luz, Rodrigo Shalako o cenário, Mauricio Casiraghi, Video e Projeções e Déh Dullius os figurinos. Jan Linders é o dramaturgo.
O projeto está em desenvolvimento desde 2015 quando Mirah foi convidada pela diretora do Goethe-Institut Porto Alegre, Marina Ludemann, a integrar a equipe de um projeto proposto pelo crítico e autor Jürgen Berger, que estava em Porto Alegre ministrando uma oficina de Crítica Teatral. A ideia de Berger era montar uma peça docu-ficcional, baseado em histórias dos imigrantes alemães e de seus descendentes. O Rio Grande do Sul é o estado mais meridional do Brasil e, junto com Santa Catarina, uma região com expressivo contingente de descendentes de imigrantes alemães que chegaram ao Brasil no início século XIX. Jürgen aproveitou para visitar cidades da zona alemã gaúcha, como Dois Irmãos e Santa Maria do Herval, onde a maioria dos habitantes ainda fala o dialeto Hunsrückisch. Após uma pausa, o projeto foi retomado no início de 2018, com a confirmação do subsídio pela Kulturstiftung des Bundes, a principal instituição para financiamento cultural da Alemanha.
Em Porto Alegre Pátria Estrangeira/Fremde Heimat estará em cartaz de 30 de agosto a 09 de setembro, com apresentações às 20h de quinta-feira a sábado e às 18h aos domingos, com ingressos a R$ 40,00. As vendas antecipadas estão disponíveis pelo site entreatosdivulga.com.br. Durante a temporada, será possível adquirir entradas no local, uma hora antes do início do espetáculo. Em Karlsruhe, o espetáculo estreia em 20 de setembro e terá apresentações nos dias 23, 29 e 30 do mesmo mês, além de uma performance na cidade de Ludwigshafen no dia 28.
Sinopse: Coração ambivalente
Atualmente a Alemanha e o Brasil são países de destino da imigração causada pela pobreza. A Alemanha já foi um país de partida de imigrantes pobres. No projeto docuficcional, cinco atores com antecedentes migratórios partem em busca de sua “pátria estrangeira”. Os antepassados de Martina estão entre os primeiros emigrantes que, no início do século 19, emigraram da atual região da Renânia-Palatinado para o sul do Brasil. Ela vive em Porto Alegre e vive brigando com um coração ambivalente no seu peito. Uma alemã ela não é, mas é realmente brasileira? Camila é tataraneta de uma família com influência afro-alemã. Sua tataravó teve uma relação com o filho de uma família de imigrantes alemães. O fato de que a tataravó alemã tenha desagregado a família do filho, acompanha Camila até hoje. Porém, no ano de 2018, uma brasileira descendente afro tem problemas mais urgentes. Philipe é tataraneto de um patchwork brasileiro-indígena-judeu-europeu. Sua árvore genealógica poderia ser tema de um projeto de pesquisa. O brasileiro com os muitos corações no peito tem de viver com o fato de que, apesar de seus antepassados alemães, a cidadania alemã lhe é negada. Karin viveu e trabalhou como pianista de concertos na Alemanha e na Suíça, mas apesar disso tinha a sensação de que seu coração batia em Porto Alegre. Após quatro anos de migração pela Europa central, ela se decidiu por retornar à sua pátria sul-brasileira. Ela chegou a um país profundamente dividido social e politicamente. Thomas, do sul do Tirol, vive em Berlim e não pode requerer um passaporte alemão. Ele não necessita de um Ministério para saber que pátria é lá onde ele se sente em casa.
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