Giovana Fleck
Na quinta-feira (14), o leme do barco Cisne Branco não estava funcionando perfeitamente. Assim, a embarcação não poderia realizar sua rota tradicional pelo Guaíba. Ancorado no recém reaberto atracadouro da Orla Moacyr Scliar, o barco, no entanto, mexia bruscamente na noite de quinta. “Daqui a pouco, vamos embora sem nem ligar o motor”, brincou um dos membro da tripulação.
No deck, a banda Trabalhos Espaciais Manuais fazia seu primeiro show de 2019. Parte da programação do Porto Verão Alegre, a apresentação reuniu dezenas de pessoas. Todos sabiam que não iriam navegar. Pouco importou.
Antes do show, a banda se reuniu em um círculo. Os 10 integrantes colocaram os braços uns sobre os outros. Abraçados, concentraram as energias antes de começar a tocar. Ao pegarem os instrumentos, o foco da plateia mudou imediatamente. Todas as pessoas deram passos curtos para a frente, deixando pouco espaço no entorno dos artistas e um vão nos fundos do barco. No momento em que os saxofones entoaram as primeiras notas, o movimento das ondas se misturou com os pulos eufóricos da frente do deck.
O nome é extenso. Ainda assim, fica no fundo da memória, na ponta da língua. A sigla TEM comprime o substantivo e adjetivos e brinca com o verbo: tem entusiasmo, tem suingue e tem prazer. Formada em 2013, como um trio, a banda tem crescido nos últimos anos – em integrantes e em experiências. Somando a expertise de seus integrantes, a TEM agrega elementos de Funk, Samba, Rock e Jazz. Suas apresentações são mais intimistas, num formato chamado baile-show.
Em determinado momento, a banda provoca a platéia. De um lado para o outro, os músicos com instrumentos de sopro caminham de forma ritmada, erguendo uma perna ao fim do trajeto. Ficar parado causa estranhamento, não parece correto nesse contexto.
“Nosso conteúdo tenta ser original. A partir de várias referências, buscamos outro caminho. Caminho que descobrimos fazendo”, afirma o guitarrista da banda, João Pedro Cé. Ele avalia o show no Cisne Branco como um momento especial na trajetória da banda. “Mesmo com o barco atracado, sem o passeio, as pessoas foram. O incrível foi uma reação que não esperávamos: as pessoas que estavam na Orla se aproximando e assistindo ao show de fora.”
Assim que a banda começou a tocar, focos de pessoas que passeavam ao redor do Gasômetro foram atraídos pelo que estava acontecendo no atracadouro. Instigados pela música ou pela curiosidade, se concentraram no entorno do barco. Em poucos minutos, casais começaram a dançar juntos. “Extrapolou o barco, o que foi bem interessante.”
Para onde vai a TEM?
Segundo Cé, em janeiro, a banda fez um intensivo de composições. Durante alguns dias, foram todos para o interior do Rio Grande do Sul. Alojados na casa da família de um dos músicos, conseguiram organizar arranjos e compor de forma coletiva músicas que deverão ser lançadas em 2020. “Se tudo der certo”, brinca.
Agora, os músicos se preparam para um show no festival Psicodália, em Santa Catarina, durante o Carnaval. Depois disso, irão divulgar uma nova apresentação em Porto Alegre e deverão seguir com apresentações em outros estados brasileiros. “Acho que estamos em uma crescente”. Ele cita o show feito no festival Som no Salão, realizado no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) como algo que aproximou a banda de um público fiel. “É reflexo de uma nova fase, em que enxergamos o projeto com mais seriedade, buscando compreender o que, de fato, é a Trabalhos Espaciais Manuais não só no seu sentido musical, mas estético, global.”
Deixe um comentário