Com obras próprias e também de ilustres compositores como Terry Riley, Steve Reich e Philip Glass, o concerto ’50 Minimal’, de Dimitri Cervo e Aurélio Edler-Copes é uma celebração ao movimento minimalista e suas ressonâncias na produção musical no mundo e no RS. Vencedor de um Fundo de Apoio à Cultura RS (FAC), o projeto terá atividades formativas e apresentações nas cidades de Santa Maria, Pelotas e Porto Alegre, sempre com entrada franca. A palestra ‘Minimalismo, origens, estética e processos composicionais’ e o workshop ‘Estudo e interpretação de In C’, de Terry Riley, obra inaugural do minimalismo, serão oferecidos para músicos e estudantes de todos os níveis, iniciativa que resultará em um ‘flash mob’ apresentando a obra ‘In C’ pelos participantes desta atividade.
Dimitri Cervo é autor do artigo ‘O minimalismo e suas ideias composicionais’ de 2005, onde afirma que “o minimalismo musical, surgido nos Estados Unidos na década de 60 através da música dos seus quatro fundadores – La Monte Young (1935), Terry Riley (1935), Steve Reich (1936) e Philip Glass (1937) -, é um dos movimentos estéticos mais significativos dos últimos quarenta anos, tendo consagrado internacionalmente nomes como os próprios Steve Reich e Philip Glass, influenciado outros compositores de grande visibilidade, tais como Arvo Pärt (1936), Louis Andriessen (1939), Michael Nyman (1944) e John Adams (1947).
O movimento minimalista floresceu em um período peculiar da história do século 20, os anos 1960, criado por uma geração que questionava a ordem pré-estabelecida, atuando no movimento hippie, no feminismo, lutando pelos direitos dos negros, pela emancipação sexual, interessando-se pelo misticismo oriental e filosofias não ocidentais. O pluralismo radical da cultura contemporânea tornou-se evidente a partir desta década, quando a incessante procura por algo “novo” fez com que movimentos artísticos surgissem quase que de ano em ano. Essa juventude tinha aversão à alta cultura, que era vista como uma cultura em processo de exaustão. No lugar dela, uma contracultura, a qual respondia a uma imensa variedade de interesses sociais e étnicos, foi erguida. A cultura centralizada seria substituída por uma democracia de contraculturas, que coexistiriam em pé de igualdade. Assim, a alta cultura nos anos 1960 começou a perder espaço para a cultura pop. Essa erosão de barreiras entre níveis artísticos estimulou o ecletismo e novas combinações estilísticas, abrindo as portas para esses movimentos que viriam se fortalecer e ganhar adeptos mundo afora.
Dimitri Cervo e Aurélio Edler-Copes, compositores reconhecidos no país e de fluente carreira internacional, tiveram suas trajetórias influenciadas, em sua origem, pelo minimalismo dos anos 60 e 70, fato que os aproximou ao dividir palco em alguns eventos, gerando uma colaboração artística mútua que já perpassa quase 20 anos de suas vidas.
Cervo, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é reconhecido como um dos mais inventivos e destacados compositores brasileiros. Sua atuação musical abarca a composição, e, como intérprete de sua obra, a regência e o piano. Sua discografia inclui dois discos individuais, além de obras registradas em álbuns de diversos grupos e artistas, tendo recebido por essa produção cinco Prêmios Açorianos. Seus principais estudos musicais, de piano, composição e regência, se deram nas cidades de Porto Alegre, Siena, Salvador e Seattle. Suas obras já foram apresentadas em todos os estados brasileiros e em diversos países como Estados Unidos, Venezuela, Argentina, Paraguai, Costa Rica, Portugal, Espanha, França, Alemanha, Holanda, Grécia, Suíça, Noruega, Rússia, Bulgária, Sérvia, Israel, Vietnã, Cingapura e Nigéria.
Edler-Copes é bacharel em violão (UFRGS) e em composição pelo Centro Superior de Música do País Basco, especialização em música eletrônica no CURSUS anual de Composição e Informática Musical no IRCAM-Centre Pompidou Paris e mestre em Composição na Hochschule der Künst Bern. Aclamado no Brasil e na Europa pela sua inovadora e radical exploração dos limites da percepção sonora, assim como pelo caráter físico, orgânico e pela força dramática das suas obras, o compositor tem intensa atividade artística e suas obras são interpretadas regularmente pelas principais orquestras e grupos de música contemporânea da atualidade, recebendo inúmeros prêmios.
Sobre os artistas/compositores homenageados
O compositor e intérprete Terry Riley (Califórnia, 1935) é um dos fundadores do movimento minimalista. Suas primeiras obras, notavelmente IN C (1964), são consideradas pioneiras de uma nova forma na música ocidental que se baseia em estruturas e processos repetitivos. A influência das improvisações e composições hipnóticas, polimétricas, brilhantemente orquestradas e orientalizantes de Riley pode ser sentida não só na música contemporânea de concerto, mas também na música pop, rock e techno das décadas posteriores e da atualidade.
Steve Reich (Nova Iorque, 1936) é considerado um dos um dos pioneiros da música minimalista. No período de 1965-1976, suas obras exploram processos de defasagem (phase shifting, em inglês) e a partir de 1976, ele desenvolve uma escritura musical baseada em processos de adição de blocos rítmicos e na pulsação, como, por exemplo, em Music for 18 musicians, uma de suas obras mais importantes e que marca o início de seu sucesso internacional. Desde meados dos anos 80, ele dirige as suas obras em torno da aplicação e combinação da voz falada na escritura instrumental, explorando assim dispositivos eletrônicos e multimídia associados aos instrumentos convencionais.
Philip Glass (Baltimore, 1937) é um dos compositores mais influentes da segunda metade do século XX. Ele é considerado um dos criadores e representantes mais eminentes da música minimalista. Seus trabalhos iniciais (até 1974) exploram a repetição através de ritmos aditivos, uma influência do seu encontro com o músico indiano Ravi Shankar. Referindo-se as suas obras posteriores a esse período, ele prefere simplesmente utilizar o termo “música com estruturas repetitivas”. Philip Glass compôs obras para uma infinidade de gêneros, como óperas, sinfonias, concertos, trilhas sonoras de filmes, de teatro, de dança, música de câmara e obras solistas.
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