O Morrostock é um festival feito com muita determinação, dedicação, curadoria colaborativa e uma equipe apaixonada pela ideia, que acontece em um grande acampamento ao ar livre, onde o público compartilha experiências com compositores, bandas e artistas de todas as artes e de todas as partes do país em meio à natureza. O maior encontro de contracultura do Rio Grande do Sul apresenta, além de shows – sempre com recortes da nova cena da música nacional – oficinas, teatro, feiras, debates, gastronomia, sustentabilidade, práticas de permacultura e bioconstruções. Ideias que deram certo, como a Comuna Morrostock, curadoria colaborativa que selecionou grande parte dos artistas presentes na grade de 2017, estão de volta nessa edição e são elas que tornam o festival ainda mais democrático e plural.
Entre 30 de novembro e 02 de dezembro de 2018, o público é convidado a desfrutar de três dias de imersão no meio do verde com shows, oficinas, trilhas ecológicas com cachoeiras, teatro, recreação infantil e muito mais! Na grade de shows figuram bandas do porte de Cordel do Fogo Encantado, Carne Doce, Letrux, Três Marias, Ema Stoned, Dingo Bells, Molho Negro, Os Replicantes, Supervão, Baby Satanás, Bia Ferreira, The Baudelaires, Joe Silhueta, as latinas Ninfas, Elegante La Imperial e Cholo Power numa programação que equilibra brasileiros, latinos de vários países da América e muitos estilos. O Bloco da Laje mais uma vez leva seu show anárquico/pulsante/irreverente pra baixar os santos no Morrostock.
As oficinas são um segmento importante no cardápio de atividades oferecido pelo Morro. E esse ano vem ainda mais forte e conectado com as necessidades desse público, ávido por conhecimento, equilíbrio, coletividade, arte e esportes: Mulheres Negras Produzindo Cultura, Oficina de Pintura Corporal, Danças Circulares da América Latina, TOQUE Práticas para autocuidado, Acroyoga Aprendendo a Voar são apenas algumas da lista (abaixo) que complementam os dias de paz, amor e natureza.
O Balneário Ouro Verde, em Três Barras, fica numa região central do Estado, em Santa Maria. Além da natureza exuberante o espaço oferece infraestrutura completa: área de camping, banheiros, chuveiros, churrasqueiras, piscina, rio, bar, cachoeiras, praça de alimentação e muita natureza.
ALGUNS DESTAQUES DO MORROSTOCK 2018
Bia Ferreira, do Sergipe, é um dos destaques da programação desse ano, chega portando o estandarte de uma negritude musical performática em gesto, fala, som e cordas. Compositora, com potente trabalho autoral, brasileira sem clichê, moderna sem forçar a barra, batuqueira natural, de musicalidade profunda, suavidade jazzística, e devota suprema do balanço, Bia é artista do gueto e sua voz é dissonante e ativista.
Mesmo sem grana, sem apartamento e sem as toalhas brancas no camarim, Molho Negro, banda paraense, coloca em xeque a sua perspectiva artística e a sua visão de mundo e dá um passo necessário para seguir em frente sem se tornar uma caricatura de si mesmo. A angústia e a raiva continuam, mas surgem de outros questionamentos e percorrem novos caminhos. Sai a preocupação de pegar uma menina na festinha ou de estar em dia com “as novas bandas da moda” e entra o choque absoluto de viver em um país brutal e desigual, em um tempo e espaço marcados por egoísmo, violência, consumismo e darwinismo social.
A banda gaúcha Dingo Bells está divulgando o álbum Todo Mundo Vai Mudar, contemplado pelo projeto Natura Musical e que traz dez faixas compostas por Diogo Brochmann, Felipe Kautz, Rodrigo Fischmann, além de Fabricio Gambogi, guitarrista e arranjador parceiro do grupo. As músicas refletem sobre os diferentes aspectos de mudança que uma pessoa pode viver – seja física, geográfica, imaginária ou espiritual. Em meio a um olhar sobre a sociedade moderna e seus comportamentos erráticos, eventos fugazes e tsunamis de informação, uma certeza emerge na faixa título do álbum: “um dia todo mundo vai mudar”, entendida aqui como processo constante e não como evento futuro.
O folclore peruano e latino-americano combinado ao poder do rock é a proposta da Cholo Power pros morrostockianos. A banda vem circulando por festivais na América e é a primeira vez que vem ao RS.
Ema Stoned surgiu como um quarteto feminino fortemente influenciado por rock psicodélico, noise, jazz e experimentalismo. Nesta formação de trio desde 2014, traz o frescor do rock instrumental feminino de Alessandra Duarte (guitarra), Elke Lamers (baixo) e Jéssica Fulganio (bateria e vocais). A banda teve passagens arrebatadoras com a “around galaxies tour” por expressivos festivais em São Paulo no fim de 2017: Fora da Casinha, Febre, PIB, SIM São Paulo, 3×1. Neste ano aterrissaram no Psicodália, em Santa Catarina, Bananada em Goiânia, Virada Cultural SP e Sonido em Belém (PA). Ema Stoned também já dividiu o palco com os alemães do Art Against Agony e com o japonês Makoto Kawabata (Acid Mothers Temple). Atualmente em pré-produção do próximo trabalho, a banda segue em turnê levando “around galaxies tour” para novas regiões do Brasil.
Alice Kranen é cantora, compositora, violonista, pianista e atriz. Atualmente, a gaúcha de 13 anos está produzindo seu primeiro álbum em parceria com o selo Marquise 51. Alice compõe suas canções desde a mais tenra idade e já coleciona shows e apresentações na cena cultural porto-alegrense. A compositora tem influências do blues, jazz, pop e rock e conta com o single ‘Talvez’ disponível em todas as plataformas digitais de música.
Fundada em Goiânia, em 2013, por Salma Jô e Macloys, Carne Doce é hoje uma das mais importantes bandas do indie rock brasileiro. O primeiro disco autointitulado ocupou várias listas de melhores em 2014, marca ampliada em “Princesa”, um dos mais elogiados lançamentos brasileiros de 2016. Pela Natura Musical, a banda acaba de lançar “Tônus”, seu terceiro disco, com ótima repercussão. No show “Tônus”, a apresentação explosiva e sensual do Carne Doce, que há quatro anos passa pelos principais festivais do Brasil, ganha em performance e contemplação, e já esgota casas. O sucesso é consequência do alcance das faixas nas plataformas digitais, da profundidade das novas letras e do instrumental etéreo e inovador do disco “Tônus”. O show mantém o impacto com hits dos primeiros discos, Carne Doce (2014) e Princesa (2016), como “Artemísia”, “Falo”, “Açaí”, “Cetapensano” e “Passivo”.
O duo de post-rock instrumental Confeitaria, formado por Gabriel Murilo e Lucas Mortimer, músicos e produtores culturais da cidade de Belo Horizonte, lança este ano seu novo álbum “Confins” com shows no Festival Transborda, Festival Morrostock e turnê pelo sul do país. O trabalho é fruto de longas viagens por terra entre países fronteiriços do Brasil e imersões em locais ermos, longe do contato humano e tecnológico. Sua sonoridade é um reflexo de experiências em limites e continuidades entre campo e cidade, mente e paixões, corpo e natureza. Para este trabalho o duo contou com a colaboração de Diego Menezes Suárez (Dreams on Board), produtor musical peruano que assina junto a faixa single “Lollipop”, e os produtores musicais Rafael Vaz, de Uberlândia e Lauro Maia, de Pelotas.
São oito anos de um sonho coletivo, espaço-pulmão para diversos grupos artísticos, espaço-expressão para um grande grupo de pessoas que só quer brincar a vida e se encontrar nas ruas da cidade para trocar experiência e afeto, espaço-político para olhar no olho e refletir sobre o que estamos/estão fazendo com as cidades, com as pessoas, com a natureza. Para todas as facetas desse organismo, o Bloco da Laje dá o seguinte recado: há que se despertar para o essencial, sensibilizar-se com o universo que nos cerca, aproximar-se dos corações para que nossas escolhas e movimentos sejam certeiros, fortes, transformadores! Mais uma vez esse grupo irreverente, político, poético dá o recado no Morrostock, levando as pessoas ao delírio porque mais que nunca, precisamos desse respiro!
A banda Três Marias, de Andressa Ferreira, Gutcha Ramil e Thayan Martins, chega trazendo a diversidade de ritmos e expressões culturais musicais de diferentes regiões do Brasil, como forró de rabeca, samba de roda, côco, ijexá, ciranda, baião de princesa, jongo, bumba meu boi, maçambique e quicumbi, além de um apanhado de cantos e cantigas tradicionais, composições autorais e de parcerias. A sonoridade do grupo é composta por vozes, diversos instrumentos de percussão como alfaia, congas, ilu, matracas, ganzá, zabumba, djembe, agê, agogô e pandeiro, rabeca e cavaquinho.
A partir de uma mistura de sons bastante heterogêneos, a Supervão se destacou no EP TMJNT, de 2017, com uma sonoridade que dialoga com as cenas independentes brasileiras mais energéticas dos últimos dois anos: as raves de rua e os festivais de bandas independentes brasileiras. O show que emerge dessa produção é um misto de beats eletrônicos, graves dançantes
e guitarras psicodélicas. Formada por Mario Arruda, Leonardo Serafini e Ricardo Giacomoni, a Supervão lançou seus dois primeiros EP’s, Lua Degradê (2016) e TMJNT (2017), em parceria com os selos Honey Bomb Records e Lezma Records.Atualmente o grupo está em estúdio produzindo seu primeiro álbum, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2018.
Em Baby Satanás, Márcio Petracco – guitarrista e compositor de bandas como TNT, Cowboys Espirituais, Locomotores e Conjunto Bluegrass Portoalegrense – soma sua guita clássica às batidas de Paulo Arcari - também da TNT e Cowboys e baita produtor musical. Para somar na banda os caras chamaram um time pesado: Lucas Hanke – guitarrista da Identidade e antigo baixista e produtor do grande Júpiter Maçã (Flávio Basso), Evandro Bitt - vocal da Identidade e Pedro Petracco – da Cartolas e filho de Márcio, num clima todas as gerações do rock juntas no palco. O show passa pelo pelo Bom Fim lotado dos anos 80 com o clima e as melodias de hits das bandas TNT, Cascavelletes, Cowboys Espirituais, Julio Reny e Garotos da Rua, mas também mergulha forte no presente e futuro com um repertório que inclui o melhor da geração 2000 com Identidade, Cartolas e Locomotores e quem sabe até improvisos de novos sons que esta junção efervescente pode trazer.
Logo após lançar o primeiro capítulo do disco Coração Fantasma, a banda carioca Baleia se apresenta pela primeira vez no RS. Em seu novo show, irá transformar o palco em um laboratório de criação: além das novas músicas do primeiro capítulo de Coração Fantasma e canções de seus últimos dois discos, irá apresentar músicas inéditas ainda não gravadas – que só poderão ser conhecidas ao vivo pelo público presente. Essas faixas inéditas e ainda em processo de criação estarão registradas nos capítulos futuros de Coração Fantasma, fazendo do show uma experiência de troca com público ainda mais intensa e direta.
Feito uma narrativa descontínua, girando em torno dos caminhos que vão da madrugada até o amanhecer, “Trilhas do Sol” (Quadrado Mágico/ Cena Cerrado) anuncia o nascimento do primeiro álbum cheio da banda coletivo brasiliense Joe Silhueta. Um disco com ares solares, mas cuja tônica recai sobre as noites e seus percursos até as manhãs. Noites confusas, solitárias, loucas, místicas, eufóricas. Em todos os cantos, há música. Encabeçada pelo cantor e compositor Guilherme Cobelo e encorpada por Gaivota Naves, Márlon Tugdual, Carlos Beleza, Marcelo Moura, Lucas Sombrio Muniz, Tarso Jones e Tâmara Habka, Joe Silhueta anda, em “Trilhas do Sol”, entre a constatação excitante de que a noite vai cair e a de que o sol vai nascer e a aurora trará a redenção. Ligado ao cancioneiro antropofágico brasileiro, com um pé no movimento udigrudi, mas desvinculado de qualquer saudosismo ou grandes reverências, “Trilhas do Sol” é um passeio entre a música ancestral e canções tortuosas, soando pop sem perder o instinto primitivo original. Entre as referências, “Paêbirú”, de Lula Côrtes e Zé Ramalho, Flaviola & O Bando do Sol, Ave Sangria, Timber Timbre, Kinks, e as poesias de Patti Smith e Jim Morrison.
“Looking for the Big Star” é nome do novo e terceiro álbum do quarteto de powerpop paraense The Baudelaire. As músicas “About the sky” e “When you’re not mine”, lançadas como singles, já apontam o caminho que a sonoridade da banda aponta nesse próximo trabalho. Surgido na fervorosa e ritmada Belém, em plena Amazônia, venera todas as grandes bandas e suas melodias inesquecíveis. Para quem sempre escutou rock e não se ligou exatamente no que é o estilo, a banda pode parecer apenas mais uma. Mas os ouvidos mais atentos e treinados por grupos como The Zombies, Beatles e Beach Boys, sabem que existe algo mais verdadeiro ali, de gente que realmente consumiu as vocalizações dos 60s e as guitarras em acordes abertos e cheias de overdrive venenoso dos anos 90. Elogiada, a banda já tocou em duas edições do Festival Se Rasgum, em Belém, e também se apresentou no Festival Do Sol (Natal, 2012), Festival Quebramar (Macapá, 2010), Grito Rock (Cuiabá, 2009), Vaca Amarela (Goiânia, 2010) e Goiânia Noise (Goiânia, 2017) além de ter sido a banda de abertura para os shows da banda americana Nada Surf (tocando junto com Doug Gillard, que acompanhava a banda, duas músicas do Guided By Voices) e Móveis Coloniais de Acaju.
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