“Eu sou filho de São Jorge e pedi a ele para viver de música”. Essa frase faz parte da vida de Alemão Charles do Cavaco, músico porto-alegrense com mais de 30 anos de estrada. E essas três décadas vivendo de música serão celebradas no evento “Homenagem ao Sambista Alemão Charles do Cavaco – Mais de 30 anos dividindo Musicalidade”. Idealizado pela cantora e compositora Guaíra Soares, acontecerá no dia 7 de outubro, a partir das 20h, no Afro-Sul Odomodê (Ipiranga 3850).
A homenagem terá a característica de uma grande roda de samba, onde vários artistas se apresentarão com Alemão Charles, acompanhados pelos músicos do grupo Seu Samba.
“Toda sua bagagem não pode ser esquecida”, destaca Guaíra. “Alemão é um grande parceiro e por ocasião da gravação do meu DVD, pensei que seria muito bom fazer um documentário sobre sua trajetória. Ainda não desisti mas por hora, sinto-me feliz com esse evento que será regado com muito carinho e respeito a esse grande músico que há mais de 30 anos nos brinda com seu talento”.
A música entrou na vida de Alemão Charles como uma válvula de escape que deu certo. Pois sua grande paixão era o futebol. Mesmo gostando muito do bom samba de raiz, pulou definitivamente do futebol para a música por uma fatalidade. “Quebrei o pé jogando bola”, diz. Em razão disso, colocou um parafuso no tornozelo e nunca mais jogou bola.
Mas futebol e música sempre andavam juntos. Alemão, se reunia para jogar bola e depois do jogo tinha batucada. Tio Hélio (cavaco) e Hermes (violão) representam o início de suas influências, além do bom gosto musical da mãe. “Minha coroa sempre ouviu Clara Nunes, Ângela Maria, Elizete Cardoso, gente do samba”, relembra. E ele, desde pequeno, gostava daquilo que ouvia.
Após a lesão que o tirou do futebol e o deixou por dois anos com o tornozelo engessado, começou a se interessar pelo cavaquinho, sua nova motivação. Tinha 14 para 15 anos. E o começo de tudo foi no final de 1982, início de 1983. Hoje com 49 anos, acha que começou muito cedo, andando por toda Porto Alegre, inclusive, fazendo serenatas.
Influência
A música já estava no seu DNA, pois seu tio Nenê tocava cavaquinho. E seu avô materno, Oto, clarineta. “Ele era clarinetista, mas na verdade tocava de tudo. Tem até o livro dele com as partituras”, diz sobre o avô. O caderno a que se refere, ele acredita ser de 1930, escrito a mão, com perfeição. Caderno e clarineta ficaram de herança para ele.
Encontrou no seu caminho vários instrumentistas de cordas, entre eles Juarez dos Santos, o Mão, que hoje vive em Israel e Camanga, o Camanguinha do Cavaco que em 2014 participou do seu CD. “Camanga, hoje com 75 anos toca muito cavaquinho. Minhas influencias são o Mão, na mão direita (palhetada) e o Camanga na mão esquerda (notas), que tocava choro e botava muita nota”, destaca.
Música como profissão
O começo mais profissional, diz, foi de brincadeira com o Beto Ziriguidum. “Toquei lá em Esteio em 1986”.
Ele lembra que o primeiro a tocar o banjo em Porto Alegre, que era quase uma exclusividade de Almir Guineto, foi Mão. Por influência, ele, então começou a tocar banjo e ficou conhecido inicialmente como Alemão do Banjo.
Sua primeira banda profissional foi Invasão a Domicílio, de onde saiu para fundar o Samba Quente. Mas sua consagração veio com sua entrada no Cabeça Feita (do qual fazia parte o músico João 7 Cordas),que aliás, lhe abriu as portas para participar do Samba Sul em 1988. “João 7 Cordas é o melhor violão que ouvi tocar até hoje, me ensinou o resto que faltava.”
Chega o momento de sair do Cabeça Feita e ingressar em outra grande banda chamada Samba Autêntico, segundo ele, uma das maiores bandas de samba raiz do Rio Grande do Sul. Entre os integrantes, Izolino Nascimento e os já falecidos, Careca e João Aruanda. “Segui aprendendo. Aprendi muita coisa com nego Izolino e com o falecido careca.” E foi com o Samba Autêntico que, nos anos de 1989 e 1990, tocou novamente no Samba Sul.
Alemão Charles tem na sua trajetória o privilégio de ter acompanhado vários artistas consagrados, entre eles, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Marquinhos Satã, Denim de Lima, Jovelina Pérola Negra, Leci Brandão, Dicró, Marçal, Bezerra da Silva, Pedrinho da Flor, Gracinha do Salgueiro e Joel Teixeira que, aliás, se apaixonou pela banda Samba Autêntico.
E foi com o Samba Autêntico que ele teve um momento que guarda com muito carinho. “Tocamos em 89 com Mario Marques de Souza Filho, mais conhecido por Noite Ilustrada. Na mesma noite, toquei também, com dona Ivone Lara”. E foi com essa banda que acompanhou Elza soares que, aliás, assim como Pedrinho da Flor, quis levá-lo para o Rio de Janeiro.
“Nunca quis ir embora. Queria tocar samba e ponto. Lá tinha que ter onde morar. Era outro estado”.
Outro importante grupo pelo qual Alemão Charles passou durante um ano (1993/1994) foi o Flor de Ébano. Anos depois, em 1997 retornou ao grupo e permaneceu até 2000, ano em que gravou um CD.
Alemão se orgulha da maneira como aprendeu tudo o que sabe. “Tive contato com todos. Aprendi um pouco com cada um, pois não tinha vergonha. Perguntava tudo”.
Serviço
O quê: Homenagem ao Sambista Alemão Charles do Cavaco – Mais de 30 anos dividindo Musicalidade
Quando: 7 de outubro – a partir das 20h
Local: Afro-Sul Odomodê – Ipiranga 3850
Ingressos antecipados: R$ 10,00 (No dia do evento: R$ 15,00)
Contatos: 51 98408-2173 e 51 98551-8540
Paulinho veigas diz
Na realidade eu sempre curto uma boa roda de samba com sambistas das antigas com eles nós aprendemos muito…