Comitê de Solidariedade com a Palestina repudia exibição do ‘Jerusalem Quartet’ em Lisboa
Do Esquerda.net (Portugal)
“O presente comunicado é suscitado pela programação de um concerto do Jerusalem Quartet no próximo mês de Dezembro na Fundação Calouste Gulbenkian e insere-se na onda de protestos que surgem pelo mundo fora, de Nova Iorque a Edimburgo, contra este grupo que instrumentaliza a cultura ao serviço das políticas de opressão do Estado de Israel”, refere o Comitê de Solidariedade com a Palestina (CSP) no documento.
O CSP cita as declarações proferidas em 2006 por Kyril Zlotnikov, um dos músicos do Jerusalem Quartet: “Dizem que somos os melhores embaixadores de Israel e nós estamos felizes por isso”, disse um dos músicos, Kyril Zlotnikov, em 2006.
Confira, na íntegra, o comunicado do Comitê de Solidariedade com Palestina:
“Repudiamos a exibição do Jerusalem Quartet em Lisboa
O presente comunicado é suscitado pela programação de um concerto do Jerusalem Quartet no próximo mês de Dezembro na Fundação Calouste Gulbenkian e insere-se na onda de protestos que surgem pelo mundo fora, de Nova Iorque a Edimburgo, contra este grupo que instrumentaliza a cultura ao serviço das políticas de opressão do Estado de Israel
Por que se tornou o Jerusalem Quartet alvo da campanha internacional de BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções)?
Como todas as entidades e indivíduos financiados pelo Estado de Israel, o Jerusalem Quartet teve de assinar com o governo israelita um contrato que estipula: “O prestador do serviço tem consciência de que o objectivo de lhe encomendar serviços consiste em promover por via da cultura e da arte os interesses da política do Estado de Israel, incluindo a contribuição para criar uma imagem positiva para Israel”.
Depois de terem servido o exército de ocupação israelita, os seus membros mantêm o estatuto oficial de “Destacados Músicos do Exército”. “Dizem que somos os melhores embaixadores de Israel e nós estamos felizes por isso”, disse um dos músicos, Kyril Zlotnikov, em 2006.
Ora, ser embaixador de Israel significa apoiar a colonização crescente do território da Palestina; significa justificar o roubo de terras, a destruição de casas e de infraestruturas, a expulsão de centenas de milhares de palestinianos e um regime de apartheid para os que ainda não foram expulsos. Ser embaixador de Israel implica ser cúmplice assumido dos seus crimes de guerra.
A cultura não pode ser separada da política quando neste caso artistas se põem tão prontamente ao dispor da política criminosa do Estado de Israel. Neste sentido, a Fundação Gulbenkian não se pode declarar neutra ao dar apoio a estes “embaixadores”. Como diz o Arcebispo Desmond Tutu, Nobel da Paz sul-africano e apoiante da campanha BDS contra Israel, “ser-se neutro numa situação de injustiça é apoiar o opressor.”
As actuações internacionais do Jerusalem Quartet são ocasiões nas quais Israel tenta legitimar a sua presença no seio da comunidade internacional de cientistas, artistas e intelectuais, não obstante prosseguir obstinadamente com a limpeza étnica, a discriminação e a negação do direito dos palestinianos à autodeterminação.
A Fundação Gulbenkian deveria ser particularmente sensível a estes factos, pois é legatária da estreita relação que Calouste Gulbenkian mantinha, e que a Fundação ainda mantém, com a comunidade arménia refugiada na Palestina, ela também fugida de um genocídio e, mais tarde, também vítima da colonização israelita. Fiel a esse espírito de solidariedade, a Fundação Calouste Gulbenkian apoiou nos anos 60 e 70, com generosos donativos, as populações palestinianas expulsas pelas guerras de expansão de Israel.
Seria condenável, numa altura em que o movimento internacional de boicote a Israel está a ganhar terreno, face às flagrantes violações da lei internacional e dos direitos humanos dos palestinianos, a Fundação passar a apoiar tacitamente um país cuja história é uma sucessão interminável de crimes de guerra.Assim, apelamos publicamente à Fundação Gulbenkian para que reflicta sobre as implicações de acolher em sua casa o Jerusalem Quartet e cancele o espectáculo até que Israel respeite a lei internacional”.