O único livro infantil de H.G. Wells chega ao Brasil

Pode-se dizer que H.G. Wells foi um dos mais imaginativos escritores de todos os tempos. No final do século 19, imaginou marcianos gigantescos, aparelho de televisão e até internet. Mas mesmo produzindo tanta fantasia, ele nunca escreveu livros para crianças. Isso aconteceu uma só vez, praticamente por acaso, quando Wells se recuperava de um super resfriado. Bendito resfriado, aliás, pois ele deu origem a “As aventuras de Tommy”, única obra infantil escrita e ilustrada pelo famoso autor britânico e que agora, pela primeira vez, foi traduzido para o português e chega ao Brasil pela editora Piu.

Eduardo Bueno, o tradutor da obra, conta no posfácio do livro que, em 1898, Wells ficou de repouso na casa de seu médico, Dr. Hick, para se recuperar desse resfriado e que, cansado de tanto ler, decidiu espantar o tédio escrevendo e desenhando a história de um homem metido à besta que cai no mar e é salvo pelo menino Tommy. O homem, que era muito rico e orgulhoso, resolve recompensar seu salvador com um animal de estimação e vai em busca do bicho ideal.

A história é inteligente, criativa e engraçada, porém não possui um final definido, dando a entender que Wells tinha a intenção de dar continuidade às aventuras de Tommy em outro livro. A Editora Piu viu nesse fim em aberto uma oportunidade para convidar os leitores a imaginarem suas próprias histórias com Tommy e Augustus, o bichinho (na verdade, um bichão) com o qual o ricaço presenteia o menino.

Apesar de ter sido escrito em 1898, o conto “As Aventuras de Tommy” só virou livro em 1929 quando Marjory, a filha do Dr. Hick ‒ para quem Wells dedicou e deu de presente a história escrita à mão ‒, pediu permissão para vender os direitos da obra com o objetivo de pagar o final de seu curso de medicina. Pedido que foi prontamente atendido por Wells.

Uma curiosidade: o filho mais novo do Dr. Hick passou a acreditar que era Tommy quando, no Natal seguinte àquele resfriado, recebeu de H.G. Wells um elefante recheado de guloseimas onde estava escrito “Tommy Bates” (o nome original de Tommy Banhus). Note que, no sobrenome brasileiro de Tommy, Eduardo Bueno procurou seguir o estilo do autor e acrescentou mais uma brincadeira ao texto. Wells, que tinha muito bom-humor, certamente se divertiria com ela.