Um partido das mulheres sem mulheres, um deputado que discursa em defesa de um bombom, um senador que se apresta a nomear uma melancia, um presidente que troca Paraguai por Portugal e confunde Noruega com Suécia. É o que acontece em um lugar que ficou muito estranho nos últimos anos. Que país é este? Ora, é o país onde o líder do governo no Senado fala assim: “Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada”. Podemos chamá-lo então de “O País da Suruba”. Este o título do livro do jornalista Ayrton Centeno que a editora Libretos está lançando escudado pelo subtítulo “155 provas – e não apenas convicções — de como o golpe de 2016 diminuiu, ridicularizou e emburreceu o Brasil”.
O País da Suruba será autografado na Feira do Livro de Porto Alegre no dia 11 de novembro, no Santander Cultural. Às 14h30, antes da sessão de autógrafos, haverá um debate sobre o livro, o jornalismo e o Brasil de 2017 com o autor, o ilustrador Edgar Vasques e o jornalista Elmar Bones.
Jornalista, Centeno passou por Veja, Diário do Sul, TVE/RS, O Estado de S. Paulo, Agência Estado, Jornal da Tarde e outras redações. Hoje, é colaborador dos sites Brasil247, RS Urgente e Sul21.
Usando a farsa como instrumento para contar onde estamos metidos, o autor singra as mesmas águas que outro jornalista, Sérgio Porto, navegou para recontar a explosão do bestialógico após o golpe de 1964. Na época, tornou-se o Febeapá, ou seja, o “Festival de Besteira que Assola o País”. Como todo regime espúrio aumenta exponencialmente a produção da besteira nacional, a História se repete agora e, claro, novamente como comédia. Ou, mais precisamente, como tragicomédia.
Acontece que uma das afinidades entre os golpes de 1964 e de 2016 está no regressismo, a revanche do Velho contra o Novo, do Arcaico contra o Moderno, do Passado contra o Futuro. “O golpe apresentou-se como uma gigantesca volta ao que a modernização havia relegado”, escreveu o crítico literário Roberto Schwartz sobre 1964. Figuras apagadas, muitas vezes caricatas, ergueram-se das sombras para encenar aquilo que Schwartz definiu como “um espetáculo de anacronismo social”.
Anacrônico é justamente o picadeiro feroz em que o Brasil se converteu pós-golpe de 2016. O Executivo sob o tacão de um bando de homens brancos, ricos, velhos, retrógados e, dizem por aí, corruptos, remete diariamente à sociedade decisões toscas, cabeçadas na parede e gafes em escala industrial. O insaciável Legislativo disputa com o Executivo quem é o mais impopular. O Judiciário, antes discreto, move-se para o centro do palco, jogando-se também na fogueira das vaidades. Fascínio que também engolfou promotores, procuradores e policiais, além dos donatários das capitanias hereditárias da mídia e seus comunicadores, quase todos atrelados ao discurso patronal.
Autor de outros três livros, entre eles Os Vencedores (Geração Editorial, 2014), volume de 850 páginas nas quais resgata o combate dos jovens à ditadura de 1964, através da luta armada ou da resistência nas trincheiras da cultura, Centeno compilou na imprensa, ao longo dos dois últimos anos, centenas de situações pitorescas, que selecionou para recontá-las agora com permanente bom humor e ironia cortante.
O País da Suruba, com 128 páginas, tem capa e ilustrações de Edgar Vasques e projeto gráfico de Clô Barcelos.
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