Morre o escritor João Gilberto Noll
Da Redação *
O escritor gaúcho João Gilberto Noll faleceu na manhã desta quarta-feira. Ainda não há informações sobre causa da morte. O enterro ocorrerá no cemitério João XXIII, em Porto Alegre, a partir das 18h. O velório já está sendo realizado. O artista tinha 70 anos e era reconhecido pela sua extensa e excelente obra literária. Recebeu cinco vezes pelo prêmio Jabuti.
Começou a trajetória na literatura na Escola de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a qual abandonou dois anos depois, concluindo os estudos apenas na Faculdade Notre Dame, no Rio de Janeiro. Depois que chegou na cidade, Noll passou a contribuir em diversos jornais como Folha da Manhã e Última hora e, ao longo da carreira, escreveu também para Correio Braziliense e Folha de S. Paulo.
João Gilberto Noll é autor de uma literatura errante. Seus protagonistas carregam identidades delineadas muito vagamente e carecem de um passado bem determinado, assim como de um destino certo para seus percursos. Daí a configuração dessas narrativas como itinerários de buscas incertas, cujos personagens se encontram permanentemente submetidos aos impulsos do corpo e ao desnorteamento decorrente da habitação em um mundo esvaziado de sentido, traço revelador da presença formadora de Clarice Lispector. Donde, também, a convivência de uma linguagem direta, que visa apreender a concretude da vida em detrimento de voos psicologizantes, com fluxos linguísticos vertiginosos em que a apresentação da realidade se confunde com digressões de caráter poético.
Pode-se dizer que nessa literatura a trama se apresenta mais como suporte para o trabalho com a linguagem do que como centro de gravidade dos textos. “Palavras em pássaro”, que voam sem que a língua “possa freá-las”, tal como afirma o narrador do conto O Cego e a Dançarina, que fecha o livro de estreia. Por outro lado, já se anuncia nesse início a proliferação verbal que permitirá a flutuação livre entre tempos e espaços ocorrida em livros como A Céu Aberto (1996), nele também se entrevê a depuração radical da linguagem que se torna central, por exemplo, em Hotel Atlântico (1989), relato curto e seco do percurso errante de um ex-ator de nome desconhecido, cuja própria morte é narrada com a mesma ausência de profundidade psicológica que caracteriza as relações humanas por ele mantidas. Críticos como Flora Sussekind atribuem à obra de Noll uma posição de destaque no processo de renovação da ficção brasileira que se desenrola nos anos 1980, processo responsável por uma revitalização da pesquisa formal no âmbito das estratégias narrativas.
Ao todo, João Gilberto Noll teve 18 livros publicados, 13 dos quais eram romances. Lançou também três compilações de contos e duas obras voltadas para o público infanto-juvenil. Lançado em 1980, O cega e a dançarina recebeu prêmios como o Jabuti, e o do Instituto Nacional de Arte e Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Outros títulos como Hotel Atlântico, Harmada e Quero sim figuram entre as suas obras.
Um dos contos de seu livro de estreia, Alguma coisa urgentemente, foi adaptado pelo cinema sob o título Nunca fomos tão felizes, em 1983. Harmada, sob a direção de Maurice Capovilla em 2003, e Hotel Atlântico, direção de Suzana Amaral em 2009, também foram adaptados para o cinema. O autor também foi selecionado para figurar no livro Os cem melhores contos brasileiros do século, em 2000.
Noll foi bolsista e professor convidado da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos. Também foi escritor residente no King’s College, em Londres, em 2004. A partir de sua experiência na Inglaterra, ele escreveu o livro Lorde.
* Com o Itaú Cultural