Ironias e influências marcam conversa de Luis Fernando Verissimo com público
Da RBA
A política foi tocada de leve e com ironia nesta terça-feira (15) na conversa do escritor Luis Fernando Verissimo com o público, no Sesc Bom Retiro, centro paulistano, graças à Velhinha de Taubaté, um dos personagens centrais da sua carreira de cronista e humorista. “A Velhinha”, disse Verissimo, “nasceu no governo Figueiredo (João Baptista Figueiredo, 1979-1985), era a única pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo, ela virou atração política; caso que hoje é contrário, todo mundo acredita no governo. E a Velhinha resolveu morrer quando começou o mensalão”.
Verissimo, que durante cerca de uma hora respondeu perguntas do público, falou também de seus próximos projetos editoriais. “Deve sair um livro infanto-juvenil pela Companhia das Letras e outra coleção de crônicas”. O título infanto-juvenil deverá se chamar A bailarina que perdeu as calças.
Mas o que mais interessou ao público no encontro foram a relação com a escrita, seus dados biográficos e influências literárias. Verissimo contou que só começou a escrever tardiamente, depois de tentar sem sucesso outras carreiras. “Eu não tinha a mínima ideia de ser escritor. Talvez pelo fato de ser filho de escritor (Érico Veríssimo, 1905-1975), até os 30 anos eu não tinha escrito nada”, afirmou.
Também foi proposta a Verissimo uma reflexão sobre o tempo, em vista do fato de que em setembro ele completará 80 anos. “Perguntaram-me o que eu achava da morte, eu disse: sou contra. A gente sempre tem desconfiança de que vai viver para sempre, mas isso é uma grande sacanagem”, afirmou, provocando risos.
A relação com o pai e as influências literárias foram objetos de várias perguntas. Sobre o primeiro tema, Verissimo disse que apesar de ter crescido achando que não poderia ser escritor, sempre teve uma boa relação com o pai. “O fato dele ser conhecido, abriu portas para mim quando eu comecei, e não foi nada traumática nossa convivência.”
Ao responder sobre suas leituras, Verissimo retorna à relação com o pai. “Atualmente, eu leio pouco por prazer e mais para me informar, mas seu eu fosse escolher um livro, seria O Continente (de 1949), que é o primeiro volume de O Tempo e o Vento (concluído por Érico em 1961)”. Verissimo contou que acompanhou de perto a confecção desse livro. “Eu lia assim que a folha saía da máquina de escrever”, disse.
No debate, Verissimo também foi perguntado se considera a crônica um gênero menor. “Não acho, nós temos grandes nomes no Brasil que atuam no gênero, como Rubem Braga e Paulo Mendes Campos”, afirmou, destacando também que um dos melhores cronistas no país foi o escritor pernambucano Antônio Maria (1921-1964). “Ele soube aproveitar o fato de a crônica ser um gênero indefinido”, disse Verissimo.
Outro tema que passou pelo debate foi a paixão de Verissimo pelo Internacional, de Porto Alegre. Verissimo já dedicou diversos textos a essa paixão, e disse que nesse caso não precisa de pesquisa para escrever, porque acompanha o time desde criança.