Hoje completamos 189 anos desde que Leon Tolstói pisou nesse planeta
Gustavo Melo Czekster
Não existe melhor frase para designá-lo do que a dita pelo igualmente gigante Tchekhov: “Enquanto houver um Tolstói na literatura, será agradável e prazeroso ser escritor”. É uma verdade.
No entanto, algumas das palavras mais lindas já escritas para um escritor foram as que Stanislavski dedicou para Tolstói, contando o primeiro encontro deles. Vou me atrever a citar de novo as palavras de Constantino Stanislavski sobre Tolstói em “Minha vida na arte” – por favor, não tentem me matar de novo:
“Um dia, andava tudo ali em polvorosa, quando surge à porta, de repente, a figura imponente de um homem vestido de camponês. Aquele velho de longas barbas brancas, botas de feltro, blusa cinzenta e cinto de couro, entra na sala de jantar, onde o recebem dando gritos de alegria. Custei um pouco a perceber que era Leon Tostói em pessoa: fotografia nenhuma, retrato nenhum poderia representar exatamente a expressão daquele rosto, e sobretudo daqueles olhos, a um tempo agudos e penetrantes, doces e risonhos! Quando Tolstói fixava o olhar em alguém, ficava imóvel, concentrado, como se tentasse aspirar na alma do outro tudo que nela havia de bom ou de mau. Depois, os olhos de Tolstói escondiam-se sob as sobrancelhas, como o sol por trás das nuvens. E se acaso respondia ao gracejo de uma criança, um riso encantador iluminava-lhe a fisionomia. E os olhos, emergindo das espessas sobrancelhas, rebrilhavam de alegria. Às observações de qualquer pessoa, Tolstói reagia imediatamente. E esse entusiasmo, essa vivacidade juvenil, acendia-lhe no olhar centenas de gênio.
(…)
Quando lhe fomos apresentados, ele segurou na sua a mão de cada um de nós, apoiando longamente o olhar no nosso. Eu tive a perfeita impressão de estar sendo atravessado por uma seta.
Esse encontro inesperado desnorteou-me, a ponto de tirar-me a consciência do que se passava em mim e em torno a mim. E quem sabe em que conta os russos tinham Leon Nicolaevitch, disso não se espantará.
Enquanto ele vivia, dizíamos ‘que felicidade viver na época de Tolstói!’. E quando nos sentíamos tristes, impressionados pela maldade dos homens, a ideia de existir lá longe, em Iasnaia-Poliana, um Tolstói, nos consolava e nos reanimava.”