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Carambaia lança o célebre ‘Húmus’, de Raul Brandão, no Brasil

novembro 6, 2017 By Milton Ribeiro Deixe um comentário

Para muitos críticos, o romance Húmus representa um dos alicerces inaugurais do modernismo português, ao lado de nomes mais conhecidos, como os poetas Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros.

Um dos marcos fundamentais da literatura portuguesa do século XX, Húmus completa em 2017 seu centenário, coincidindo com os 150 anos do nascimento de seu autor, Raul Brandão (1867-1930). Obra inclassificável, que se equilibra em algum ponto entre romance, ensaio e prosa poética, é tão reverenciada quanto pouco lida – a edição brasileira anterior saiu em 1921. A versão que a CARAMBAIA lança agora segue o texto de 1926, retrabalhado pelo autor.

Em Húmus, referência à matéria orgânica feita de decomposição, que Brandão evoca como fim e recomeço de toda a vida sobre o planeta, o formato é de diário e o cenário é uma vila modorrenta habitada por figuras ancestrais e quase estáticas, absorvidas por rotinas banais. “Seres e coisas criam o mesmo bolor, como uma vegetação criptogâmica, nascida ao acaso num sítio úmido”, constata um narrador atormentado pelo absurdo à sua volta. Seu interlocutor é uma figura enigmática e provocadora, o Gabiru, que às vezes se sobrepõe ao próprio “eu” do autor. Outros personagens fantasmagóricos surgem e desaparecem até que uma ideia, a rigor inconcebível, começa a tomar vulto: a supressão da morte.

A ousadia da forma e das proposições de Húmus contrasta com a biografia discreta do autor. Raul Germano Brandão nasceu na Foz do Douro, localidade da cidade do Porto, filho e neto de pescadores. Seguiu carreira militar, embora tenha se mantido restrito às atividades burocráticas do Exército, o que permitiu que se dedicasse paralelamente ao jornalismo, nas funções de repórter e cronista. Quando se aposentou, aos 45 anos, tornando-se exclusivamente escritor, morava em uma quinta nos arredores da cidade de Guimarães. Até os 63 anos, quando morreu em Lisboa, produziu intensamente como memorialista, romancista, autor de ficção histórica, ensaísta e dramaturgo.

Para muitos críticos, Brandão representa, com Húmus, um dos alicerces inaugurais do modernismo português, ao lado de nomes mais conhecidos, como os poetas Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros, integrantes do grupo ligado à revista Orpheu. Húmus inaugura na prosa portuguesa duas das características principais do modernismo literário, o esfacelamento do enredo e a fragmentação da subjetividade do narrador. A própria linguagem se põe em crise. O sentido de ruptura já existia em Brandão desde muito jovem, quando ainda ingressava no Exército – foi um dos autores do panfleto Nefelibatas (1892), publicado sob o pseudônimo Luís de Borja, um manifesto pela renovação das letras portuguesas.

O termo “nefelibata” (“os que andam nas nuvens” em grego) vinha sendo utilizado pejorativamente pelos adeptos do naturalismo, entre eles um desgostoso Eça de Queirós, para criticar escritores jovens que se inspiravam no simbolismo e no decadentismo da cena literária francesa. Brandão, entre outros contemporâneos, abraçou a denominação provocativamente, para ressaltar sua adesão aos novos tempos. A época do entusiasmo pelo cientificismo e pela sedução positivista já tinha passado. A ordem desejada dera lugar a convulsões e belicismos, suscitando dúvidas, questionamentos e uma visão pessimista do mundo, tributária da filosofia de Schopenhauer. Húmus levaria às últimas consequências o mergulho interior e a especulação metafísica que na Alemanha, sem que Brandão soubesse, dariam vazão ao veio expressionista. “Chegamos todos ao ponto em que a vida se esclarece à luz do inferno”, diz o narrador.

Por sua instigante permanência, Brandão mereceu reconhecimento de boa parte dos grandes autores portugueses que vieram depois. José Saramago, Almeida Faria, José Cardoso Pires e Herberto Helder, assim como a angolana Djaimila Pereira de Almeida, reverenciam sua influência. Helder, no centenário de Brandão (1967), preparou um livro inteiro que é um poema também chamado Húmus. A atualidade do autor foi atestada ainda pelo último longa-metragem de Manoel de Oliveira (2012), adaptação da peça teatral O gebo e a sombra.

A edição de Húmus agora lançada pela CARAMBAIA tem posfácio de Leonardo Gandolfi, professor de Literatura Portuguesa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e projeto gráfico de Mayumi Okuyama. As ilustrações da artista Maria Laet, nas capas e guardas do volume, se inspiram nas manchas e porosidades das casas de vila, que acentuam as referências geológicas e orgânicas do texto de Raul Brandão.

Ficha técnica:​
​Título: Húmus
Autor: Raul Brandão
Posfácio: Leonardo Gandolfi
Projeto gráfico: Mayumi Okuyama
Ilustrações: Maria Laet
ISBN: 978-85-69002-31-4
Número de páginas: 312
Ano de publicação: 2017
Acabamento: capa dura com detalhe em hotstamp
Dimensão: 13x18cm
Tiragem: 1.000 exemplares
Preço: ​74,90​
Editora: CARAMBAIA

Arquivado em: Livros

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