“À sombra de uma mentira”: suspense premiado chega às livrarias

Foto: Divulgação
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Jade Walker e Bel Oldacre moram na mesma cidade, mas têm vidas um tanto distintas. A primeira mora com os pais, um criador de porcos e uma dona de casa, e vive com fome porque os dois frequentemente se esquecem de alimentá-la. A má fama dos Walker é conhecida por ali. Já Bel é enteada de um homem muito rico; mas ele e sua mãe passam muito mais tempo fora do país do que com a menina. Numa manhã, as duas, ambas com 11 anos, se conhecem por acaso no mercado da cidade. No fim daquele mesmo dia, Jade e Bel serão acusadas de assassinato ao se envolver na morte de uma outra criança.

Este é o pontapé inicial de “À sombra de uma mentira”, livro de estreia de Alex Marwood, que venceu o Prêmio Edgar Allan Poe em 2013. Além de construir um suspense intrigante, do tipo que fisga o leitor, Marwood dá estofo a suas personagens e aborda questões como a velha discussão entre índole x criação, e o efeito de uma vida envolta em mentiras.

Depois de protagonizarem um escândalo que chocou o país e as transformou nas “crianças mais odiadas do Reino Unido”, Jade e Bel são enviadas para reformatórios separados e instruídas a nunca mais entrarem em contato uma com a outra. Mais de vinte anos depois, elas são pessoas diferentes. Jade é Kirsty, uma jornalista freelancer, casada e com dois filhos, que lida com o desemprego do marido. Bel agora é Amber, gerente de um parque de diversões numa pequena cidade litorânea da Inglaterra.

Mas quando Amber encontra o corpo de uma adolescente em uma das atrações do parque e Kirsty é enviada para cobrir a história, os caminhos das duas vão se cruzar novamente. Trata-se do terceiro assassinato em série na pequena cidade, e a presença maciça da imprensa ameaça o anonimato das duas. Juntas, elas vão tentar manter seu segredo a salvo.

TRECHO:

A menina está morta. Não é preciso se aproximar para ter certeza. Queixo caído, sem sinais de percepção da visão, uma boneca de pano sem vida. Vestindo uma blusa listrada e uma saia tubinho, ambas enroladas em torno de sua cintura, seios fartos e coxas brancas refletidas no espelho, e no outro, e no outro espelho, e no outro, até o infinito.

Amber não olha diretamente para o corpo. Na verdade, está distante. Ela limpou o labirinto de espelhos tantas vezes que conhece bem seus truques e reviravoltas, a forma como uma figura lá no final podia parecer estar bem à sua frente quando você entrava no lugar. Ou – no caso da menina morta – meio deitada, com a cabeça e os ombros apoiados contra a parede.