Em março deste ano, Anders Breivik voltou a estampar a capa de diversos jornais pelo mundo após alegar estar sofrendo maus tratos no presídio de segurança máxima de Skien, na Noruega. Ao se apresentar ao tribunal para acusar o governo de violar a Convenção Europeia de Direitos Humanos, Breivik fez uma saudação nazista. Esta é apenas mais uma das incongruências do norueguês que matou 77 pessoas em julho de 2011 em um dos episódios mais trágicos da história do país. A vida do assassino e de algumas de suas vítimas é contada em uma reportagem primorosa da jornalista Asne Seierstad no livro “Um de nós”, que chega agora ao Brasil pela Editora Record.
Autora do best-seller “O livreiro de Cabul”, que já vendeu mais de 300 mil exemplares por aqui, Asne decidiu se debruçar sobre a história de Breivik após acompanhar as dez semanas do julgamento do criminoso. Para ela, que é norueguesa, foi também uma oportunidade de construir uma narrativa contemporânea sobre seu país e as noções de identidade e pertencimento, tendo no centro da trama um homem que se define como nacional-socialista e que cometeu um ato brutal por temer a “islamização da Europa”.
A série de entrevistas realizadas por Asne revelam a infância conturbada de Breivik e da própria mãe do assassino, Wenche Behring, que foi rejeitada por sua progenitora e mais tarde seria diagnosticada como emocionalmente afetada e portadora de uma depressão reprimida. Logo nos primeiros anos de vida, o filho também já demonstrava um comportamento perturbado. Wenche dizia que ele era “difícil e grudento” e o Conselho de Saúde de Oslo o descrevia em seus registros como “agressivo de forma maldosa”. Na adolescência, além do isolamento dos amigos, veio a ruptura definitiva com o pai. Ele havia quebrado a promessa de parar com a pichação e os dois nunca voltaram a se falar.
A jornalista percorre a juventude de Breivik, embalada pelo vício no jogo Warcraft e marcada pela entrada na maçonaria, e mostra como a trajetória dele ganhou contornos sombrios quando ele passou a se dedicar exclusivamente a um manifesto que tinha por objetivo destruir a influência do Islã na Europa. Descobrimos também a história de algumas de suas vítimas, jovens do Partido Trabalhista que se reuniam em um acampamento na ilha de Utoya. Antes de matar 69 pessoas no local, o terrorista já havia feito oito vítimas com uma bomba lançada em uma área onde estão concentrados vários prédios do governo norueguês.
“Um de nós” é uma reportagem devastadora sobre isolamento, rejeição e intolerância, que, em muitos momentos, parece revelar uma tragédia anunciada.
Asne Seierstad é jornalista e escritora norueguesa de sucesso internacional. Seu livro “O livreiro de Cabul”, publicado no Brasil pela editora Record, ficou durante um ano na lista dos mais vendidos do New York Times. A obra foi traduzida para mais de 40 idiomas. Também são de sua autoria “101 dias em Bagdá” e “De costas para o mundo”.
UM DE NÓS
(En av oss)
Asne Seierstad
Tradução de Kristin Lie Garrubo
560 páginas
R$ 54,90
Editora Record/Grupo Editorial Record
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