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A Havana de Padura e do novo cinema cubano é pobre, porém belíssima

setembro 24, 2017 By Milton Ribeiro Deixe um comentário

Milton Ribeiro

Foto: http://havanatourcompany.com/

A série de livros policiais As Quatro Estações em Havana, de Leonardo Padura, e os filmes Últimos Dias em Havana e Numa Escola em Havana mostram a capital de Cuba como o local único que realmente é. Havana é bela e velha, intrigante e pobre. O visual da cidade é tão impactante que os livros de Padura transformaram-se em série televisiva de excelente resultado artístico e isso não se deve apenas às boas histórias contadas, mas ao papel da cidade como personagem. Aliás, em todas as obras citadas, a participação da cidade é fundamental, indissociável do que é contado.

Com cerca de 2,4 milhões de habitantes, Havana tem rica tradição histórica, arquitetônica e cultural. É uma cidade de cores fortes e de peculiar movimentação urbana com seus muitíssimos carros dos anos 50 funcionando a pleno — um verdadeiro “Museu do Carro” a céu aberto. E há a chuva, tropical e intensa, que chega a qualquer momento.

Tais obras diferem muito do que se via no passado. Livre das propagandas do realismo socialista e da guerra fria, os novos artistas cubanos mostram Havana como um enorme mosaico de situações e imagens que a tornam especialmente complexa, diversa e sedutora.

A tetralogia de Padura é também conhecida como “Tetralogia Suja”. Os romances narram o dia a dia do policial cubano Mario Conde – o qual, na verdade, aspirava ser escritor – pelas ruas de Havana durante as quatro estações do emblemático ano de 1989, marcado pela queda do Muro de Berlim. Nela, somos levados ao submundo da cidade, principalmente da cidade velha (ou Havana Velha). Nos livros e na série, temos contato com uma realidade de corrupção, miséria e de profunda alegria de uma cidade que tem amarradas a si a arquitetura colonialista e uma abertura ainda parcial com o restante do mundo.

Dez produtores procuraram Padura para realizarem os filmes que têm Havana — tanto quanto Mario Conde — como protagonista. Por detrás da fumaça dos cigarros de Conde, por trás de seu calor abafado, aparece em detalhes a Havana real, com seus traficantes, prostitutas, drogas e sujeira. A cidade reina em As Quatro Estações nas longas cenas que mostram os prédios e o céu caribenho da cidade, os boleros, o jazz e a rumba. E o malecón, o interminável muro de 60 cm de largura que separa Havana do mar e do resto do mundo.

Em entrevista concedida ao Sul21 em 2015, Padura disse:

Sim, eu vivo em Havana, mas não somente em Havana. É mais do que isso. Eu vivo na mesma casa onde nasci, em um bairro da periferia da cidade. É um bairro comum, onde nasceu meu pai e meus avós. Sinto que pertenço àquele lugar. Essa é uma das razões que me fez decidir continuar morando em Cuba e em Havana. É uma relação de amor, claro, mas de um amor doloroso, porque eu e a cidade estamos nos deteriorando, ainda que ela siga sendo mágica.

Já o filme Numa Escola em Havana narra a vida de alguns meninos de uma escola — pública, obviamente. Chala é um garoto de 11 anos com uma vida familiar difícil e um comportamento problemático. Quando sua professora Carmela, a única pessoa que Chala respeita, tem que se ausentar por motivos de saúde, sua substituta o transfere para um internato. Ao retornar ao trabalho, Carmela tenta reverter a decisão, mas os compromissos que ela terá que assumir irão colocar os dois em risco. Desta forma, o filme traz um retrato da educação em Cuba a partir da emocionante relação de um estudante rebelde com sua professora. Numa Escola foi visto por mais de 400 mil espectadores em seu país, um fenômeno que conseguiu o milagre de ser aprovado tanto pelo jornal Granma quanto por quem é hostil ao país. Para além da política, trata-se de uma bela abordagem sobre o papel dos pais e da escola na educação.

Cena de ‘Numa Escola em Havana’

Mas também há Havana como palco. As cenas gravadas nos terraços são de indiscutível grandiosidade. Quando a cena é interna e vê-se as paredes não pintadas das salas de aula, o tom maior permanece.

O tema de Últimos Dias em Havana, filme de Fernando Pérez, é a amizade. Patricio Wood (Miguel) é um sujeito silencioso, de passado desconhecido — com um cowboy dos velhos westerns –, e que só pensa em sair de Cuba para viver nos EUA, mesmo que este seja apenas um desejo ilusório. Já Jorge Martínez (Diego) é um homossexual soropositivo que sabe que irá morrer logo e que viveu tudo, mas que agora não sai mais de sua cama. Não são namorados. É uma dupla inusitada que mantém uma relação de quase mutualismo. Para quem não lembra das aulas de biologia, mutualismo é uma associação entre dois seres vivos na qual ambos são beneficiados, resultando frequentemente em dependência mútua.

Ambos compartilham um apartamento no centro de Havana. Ambos esperam. Um aguarda por um visto, o outro, pela morte. Um é melancolicamente só, o outro é alegre, piadista e ainda deseja ao menos tocar em meninos. Vemos como a vida desses personagens vai se consumindo cada qual em sua espera, talvez uma metáfora de uma mudança que não se materializa.

As caminhadas de Miguel pelas ruas, com o contraste entre o ambiente diurno e o noturno. Havana está novamente lá de forma nada turística ou clichê, mas ainda assim enigmática, misteriosa, provocante e aliciante. E mágica, como disse Padura.

Arquivado em: Livros

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