50 Tons de rosa – Pelotas no tempo da ditadura
Documento de uma época, “50 Tons de Rosa- Pelotas no tempo da ditadura será lançado nas feiras do livro de Pelotas (06/11) e de Porto Alegre (07/11) mesclando jornalismo, história e memorialismo, matérias enfrentadas em artigos, perfis, reportagens e “objetos escritos não–identificados”, explica o organizador do volume, escritor Lourenço Cazarré. Obra coletiva, o livro surgiu em torno do 40º. aniversário de nascimento do subversivo e maldito jornal Triz e transbordou para um retrato geracional da cidade nos anos de chumbo. Tem a bordo uma maioria de jornalistas, entre os quais Geraldo Hasse, Lúcio Vaz e Luiz Lanzetta, mas também o músico Kledir Ramil e o ator José de Abreu e muito mais pelotenses honorários ou da gema.
Em 1976, o alternativo Triz tornou-se notícia nacional por ser o primeiro veículo a tocar em tema tabu: a polêmica fama dos varões pelotenses. Com a manchete de capa “Frescura?”, o assunto era esmiuçado em cinco páginas e causou escândalo. E desgostou, como se esperava, a TFP, Tradicional Família Pelotense. O diretor da aventura, Ayrton Centeno, foi processado. “Por atentado ao pudor”, lembra ele. “Mas rendeu matéria de página inteira em Veja quando ela ainda era uma revista”, ironiza. O volume, ao lado de muitas fotos, contempla uma reprodução parcial do Triz.
Entre tantos temas, “50 Tons” resgata uma figura essencial da luta dos homossexuais no Brasil mas menos conhecida do que mereceria. É o pelotense João Antonio Mascarenhas, lutador, no campo jurídico, pelos direitos da minoria. Advogado, representou o embrionário movimento gay na Constituinte de 1988 encarando o conservadorismo e o fundamentalismo religioso. Também estabeleceu os contatos iniciais com ativistas dos direitos dos homossexuais de San Francisco, nos Estados Unidos, e com a nascente imprensa gay da Califórnia. Que traria para o Brasil ao fundar – com outros expoentes do movimento, caso dos escritores Aguinaldo Silva, hoje autor de novelas da Globo, e Darci Penteado — o primeiro jornal gay com circulação nacional, o Lampião de Esquina.
Do mesmo modo, o livro espiona o Serviço Nacional de Informações, o famigerado SNI da ditadura. Ou seja, levanta as fichas que a arapongagem federal produziu sobre os subversivos locais. A pauta foi tocada por Lúcio Vaz, um dos maiores repórteres investigativos do país, autor da denúncia sobre a Máfia das Ambulâncias. Ele foi entrevistar os alvos dos arapongas. “É muito interessante ler sobre o que pensam e fazem hoje os que foram, em Pelotas, os inimigos preferenciais da Revolução Redentora”, comenta Cazarré. Nos demais textos, com frequência, a ditadura é presença constante, mesmo ao fundo do cenário.
Em Porto Alegre, o lançamento será segunda-feira, dia 07/11, às 20 hs., no Memorial do Rio Grande. Em Pelotas, acontecerá no domingo, 06/11, às 19 hs, na Feira do Livro. Com 246 páginas, além de caderno com iconografia, a edição é da Artes e Ofícios e a capa rósea produzida especialmente para a edição pelo artista plástico e jornalista gaúcho radicado em São Paulo, Enio Squeff.