Museu Violeta Parra traz acervo musical e destaca obra visual da artista chilena
Da Opera Mundi
No dia 4 de outubro, o centro de Santiago do Chile ganhou mais um espaço cultural, desta vez dedicado à artista popular mais significativa da história do país. A data de inauguração do Museu Violeta Parra não foi escolhida por acaso, já que nela se celebravam também os 98 anos do nascimento da cantora, compositora, folclorista e artista plástica chilena.
O novo museu é resultado de um trabalho de 20 anos, iniciado com o nascimento da Fundação Violeta Parra, em 1995, fruto da iniciativa dos filhos – entre eles, os também cantores e compositores Isabel e Ángel Parra – e dos netos de Violeta, de buscar reunir o máximo possível de sua obra numa única exposição permanente no Chile.
Violeta Parra foi uma das mais importantes artistas populares do Chile, reconhecida internacionalmente por sua música – diversas vezes reproduzida por grandes brasileiros, como Milton Nascimento e Chico Buarque, entre outros. Sua obra em artes visuais não é tão conhecida na América Latina, mas teve grande repercussão na Europa nas várias exposições de que participou. Uma delas, em 1964, no Museu do Louvre, com uma coleção de obras em bordado e tapeçaria que reproduziam diferentes aspectos das culturas regionais chilenas, especialmente a cultura popular mapuche, na qual ela possuía raízes ancestrais. Com esta exposição, ela se tornou a primeira artista latino-americana a apresentar individualmente sua obra no mais conhecido museu da Europa.
O projeto arquitetônico do museu em sua homenagem na capital chilena tem forma de uma enorme viola de concreto e foi elaborado pensando em integrar no mesmo espaço todas as obras da artista. O espaço abriga tanto seu acervo musical, reconhecido em toda a América Latina e no mundo, e dá destaque para sua obra visual com seus trabalhos em bordado, tapeçaria, pintura, escultura em cerâmica e em papel machê.
A chefe de coleção do Museu é Milena Rojas, filha de Isabel Parra e neta de Violeta. Ela conta que o museu em si foi um projeto nascido em 2007 – aprovado durante o primeiro governo de Michelle Bachelet (2006-2010), que participou da cerimônia de inauguração este ano –, e que uniu o trabalho de investigação, resgate e restauração das obras visuais.
“Muitas das peças realizadas no período em que ela mais se dedicou às artes plásticas, entre os anos 1950 e 60, ela as fez durante viagens pelo Chile ou pela Europa. Às vezes ela viajava com essas obras e chegando lá fazia outras para incrementar a exposição. Ela depois as doava a amigos porque não podia trazer de volta, ou fazia algo especial para presentear outros amigos em outras viagens. Ir atrás do rastro de todas elas é um trabalho que ainda não terminou”, relata Milena. Ela diz que agora que o museu foi inaugurado, se reforçará a campanha para que aqueles que possuem obras originais de Violeta Parra possam doá-las à Fundação ou emprestá-las para exposições temporárias.
A disposição das obras no museu obedece a um padrão que tenta recriar o clima que existia na mítica “barraca dos Parra”, uma espécie de circo folclórico montado fora do perímetro urbano de Santiago, no setor pré-cordilheirano, onde Violeta Parra e os filhos organizavam eventos artísticos da família e de outros artistas – como Víctor Jara, Patricio Manns e Quilapayún. “Havia um clima no qual se mesclava a apresentação musical e a exposição das obras, apresentando artistas novos. Violeta gostava de criar esse efeito, de fazer com que fossem diferentes extensões de uma coisa só”.
Uma das atrações que mais surpreende os visitantes do museu é o Jardim de Violeta, onde quem se aproxima das árvores pode escutar suaves melodias. Para identificar o som é preciso chegar cada vez mais perto até abraçar a árvore, colando o ouvido ao seu tronco, para escutar Violeta tocando uma de suas canções.
Interação com Mercedes Sosa
O Museu Violeta Parra fica no número 1.129 da Avenida Vicuña Mackenna, a poucos metros da estação Baquedano do metrô de Santiago. Está aberto de terça a domingo, das 9h30 às 18h, e abriga atrações musicais e saraus especialmente nos fins de semana durante a tarde. Quem puder visitar a capital chilena ainda em 2015 terá a oportunidade de visitá-lo de forma gratuita – a partir de janeiro de 2016, será cobrado um valor que ainda não está estipulado.
Apesar de o museu já estar aberto ao público, o trabalho de recuperação das obras continua, razão pela qual ele deverá passar em breve por novas obras, para expansão e reacomodação dos espaços. Uma das obras já previstas tem a ver com o edifício vizinho: a Embaixada da Argentina, que iniciará até o fim do ano a construção do Centro Cultural Mercedes Sosa, cujo desenho contempla uma passagem subterrânea que fará a interligação com o Museu Violeta Parra, unindo o legado de duas grandes artistas latino-americanas cuja vida e obra sempre estiveram em sintonia.