Exposição no Memorial do RS retrata cultura palestina pelo olhar das mulheres
Jaqueline Silveira
Parte da cultura milenar da Palestina está retratada na exposição “Memórias e Identidade: raízes palestinas”, aberta na noite da última quinta-feira (21), na Sala dos Tesouros do Memorial do Rio Grande do Sul, no centro da Capital. A escolha da data de abertura da mostra não foi por acaso. Embora não fizesse parte da programação do Fórum Social Mundial Temático, realizado em Porto Alegre de 19 a 23 de janeiro, a ideia era aproveitar a realização do evento para inaugurar a exposição. “A questão Palestina é uma questão internacional”, justificou Fátima Ali, secretária da direção da Federação Árabe Palestina do Brasil, referindo-se ao conflito travado há décadas com Israel pela conquista do seu território.
Distribuídos em três salas, os objetos e peças revelam um pouco dos costumes, hábitos e da arte da comunidade palestina do ponto de vista das mulheres do país. “A exposição funciona toda na lógica da mulher”, explicou Fátima. Logo na entrada da Sala dos Tesouros, há uma família palestina vestida com as roupas típicas do país, bem como a bandeira do país nas cores verde, vermelho e preto enrolada em um ramalhete de flores secas, que representa vida e a esperança
Já na sala maior, está uma das principais atrações da exposição: 23 vestidos típicos de diferentes regiões da Palestina, como de Ramallah e de Belém, colecionados pela embaixatriz do país no Brasil, Nahida Tamimi Alzeben, ao longo de mais de 12 anos. “Eu venho fazendo essa exposição desde a Colômbia”, contou Nahida, sobre o início da mostra, em 2001, época em que era embaixatriz da Palestina no país vizinho.
Todos os vestidos são bordados em ponto cruz, uma especialidade das mulheres palestinas, em que as linhas entrelaçadas formam belos desenhos. Por serem de diferentes regiões do país, alguns vestidos são mais coloridos do que outros. Lenços ajudam a compor o traje típico feminino. A habilidade para trabalhos manuais ainda pode ser observada no artesanato feito de palha, nos jarros e bacias produzidos com o barro de Jericó, cidade mais antiga do mundo, e na pintura em cerâmica. Todos esses elementos também compõem a exposição.
A religiosidade do país também está presente na mostra com a exposição da Bíblia Sagrada e do Alcorão, já que a Palestina é constituída por cristãos ortodoxos, romanos e muçulmanos. Os dois livros são revestidos de madrepérola, material feito a partir das conchas tiradas do mar e lapidadas. Há também rosários feitos do caroço da azeitona. “Os rosários foram feitos pelo meu pai, que deu um para cada filho”, recordou Nahida, que é gaúcha, mas filha de palestino. Também está exposto um rosário muçulmano feito de madrepérola.
Outro objeto que faz parte da mostra são chaves de casa, que tem uma simbologia para os palestinos. Em 1948, quando foi criado o estado de Israel, informou a embaixatriz, os palestinos deixaram a região para campos de refugiados carregando as chaves das casas. “Eles foram com suas chaves com a esperança de voltar algum dia”, explicou.
Além dos vestidos, objetos e peças típicas, integra a exposição “Memórias e Identidade: raízes palestinas” uma coleção de fotos do país sob o olhar de fotógrafos brasileiros que retrataram, em 2013, a rotina do povo e a situação de conflito vivido pela Palestina. As imagens mostram mesquitas, mulheres trabalhando no campo, o muro que divide o país de Israel e soldados judeus ocupando as fronteiras entre os dois territórios. “Nós chamamos o muro da vergonha que está tomando muito o espaço da Palestina”, disse Nahida, sobre a estrutura de concreto de oito metros de altura. Hoje, conforme ela, o país está fragmentado. “A Palestina não é mais um espaço contínuo”, acrescentou a embaixatriz. Há também fotos de crianças. Uma delas retrata um menino chorando próximo a uma cerca. “É a história de uma criança palestina nos campos de refugiados”, frisou Nahida.
Com entrada gratuita, a exposição “Memórias e identidade: raízes palestinas” pode ser visitada até o dia 8 de marco, de terça à sexta-feira, das 10h às 18h. Já nos sábados, domingos e feriados, o horário é das 12h às 17h. Nos dias 23 e 24 de janeiro, a visitação será das 9h às 18h. “A exposição é uma homenagem às mulheres palestinas, mas a todas as mulheres”, conclui a embaixatriz sobre o fato de a mostra encerrar no Dia Internacional da Mulher. A exposição, que está na 11ª edição no Brasil, já passou por outras cidades do Rio Grande do Sul: Passo Fundo, Região Norte, Canoas e São Leopoldo, Região Metropolitana.