Exposição denuncia violência contra a mulher

| Foto: Nilton Santolin

Pela primeira vez uma mostra de arte reúne 50 pinturas sobre violência contra a mulher e expõe esse grave problema gaúcho, brasileiro e mundial em três ambientes e na vitrine do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, na Rua dos Andradas, 1223, em Porto Alegre.

A intenção da autora das obras, a artista plástica Graça Craidy, e do CCCEV, é denunciar a extrema violência praticada contra as mulheres, assassinadas, estupradas ou agredidas, principalmente pelos maridos, companheiros ou pelos ex. De acordo com especialistas, os agressores, movidos por uma falsa noção de superioridade masculina, construída culturalmente, entendem que a mulher é propriedade do homem.

A maioria das vítimas são mulheres negras e pobres, embora esse tipo de ocorrência não seja incomum nas mulheres brancas e de classes sociais mais favorecidas. Uma das graves consequências desses crimes é a perpetuação da violência pelos filhos que presenciam as cenas e vão replicar, em suas vidas e na rua, o que passam a entender como normal.

A exposição Livrai-nos do mal abriu no dia 7 de março, véspera do Dia da Mulher, e irá até 8 de abril, de terça a sexta, das 10h às 19h, e aos sábados, das 11h às 18h. O trabalho pictórico, com tema inédito em forma de coleção nas artes plásticas, soma-se às iniciativas legislativas, jurídicas e sociais que se articulam no combate à violência contra a mulher.

Em versão menor, com metade dos quadros, a mostra já percorreu locais como Palácio da Justiça, TRF da 4ª Região, TRT-RS, Memorial da Justiça Federal, Escola da Ajuris e Assembleia Legislativa, provocando o debate entre operadores do direito e legisladores. A estreia da coleção, no Centro Cultural da Zona Sul, em março de 2015, coincidiu com a sanção da lei que prevê o feminicídio como circunstância qualificadora de homicídio e o incluiu no rol dos crimes hediondos.

O meio artístico, a academia e o público têm elogiado o trabalho de Graça Craidy não só pela temática socialmente engajada mas também pelo valor artístico de sua coleção e obra. Dos quadros, 30 retratam mulheres mortas pelos maridos e companheiros a partir de fotos das cenas dos crimes; sete referem-se ao estupro de uma adolescente por 30 homens no Rio de Janeiro; 10 reproduzem mulheres vítimas de espancamento, estupro e assédio; e três mostram o abandono e a solidão de mulheres na velhice. A técnica é acrílica sobre papel e tela, nas dimensões 96 x 66, 60 x 40, 60 x 42 e 42 x 29 cm.

Inconformismo com banalização

“A exposição Livrai-nos do mal é um pedido de socorro. Livrai-nos da violência, da morte, do estupro, do assédio. Livrai-nos do machismo, da noção religiosa, filosófica, jurídica, científica e histórica equivocada de que as mulheres são inferiores aos homens e sua propriedade”, diz Graça. “Desejo alertar para a ferida que mutila mulheres, famílias, sociedade e crianças, herdeiras e multiplicadoras da violência que testemunham. Como artista do meu tempo, me sinto obrigada a traduzir com indignação e inconformismo a banalização da violência contra a mulher, que se constata, todos os dias, na vida e nas páginas policiais”, acrescenta a artista, referindo-se a dados estatísticos que colocam o Brasil como o quinto país em incidência nesse tipo tipo de crime, com cerca de 5 mil mortes de mulheres por ano. A situação brasileira é pior até que a dos países árabes e africanos, melhor apenas que a de El Salvador, Colômbia, Guatemala e a Federação Russa

Quem é

Graça Craidy, nascida em Ijuí em 1951, cursou desenho e pintura no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, no Instituto Tomie Ohtake (SP), no Museu de Arte do RS; no Santander Cultural; na Accademia d’Arte, em Florença (Itália). Já realizou várias exposições individuais e coletivas. Publicitária por formação, trabalhou em agências de propaganda no Rio Grande do Sul e São Paulo e e foi professora de Processo Criativo na ESPM-Sul.

Serviço
Exposição Livrai-nos do mal
50 pinturas sobre violência contra a mulher
Artista Graça Craidy
De 7 de março a 8 de abril
De terça a sexta, das 10h às 19h; aos sábados, das 11h às 18h
Local: Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, Rua dos Andradas, 1223. F: 51 3228-9710 e 3226-7974
Entrada gratuita