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A arte contemporânea é vermelha e branca

dezembro 4, 2017 By Milton Ribeiro Deixe um comentário

Francisco Marshall (*)

Shiraga é um marco da arte gestual (action painting), vanguarda nos anos 1950, vizinho artístico de Pollock e Yves Klein.

Seu ato pictórico era um desbravamento com o corpo, cheio de intensidade, em verdadeiras danças da cor e da tinta, explorando o espaço e o transformando em kosmos da vitalidade artística. Kazuo Shiraga (1924-2008)pintava muito com os pés, deslizando como um skatista sobre a tinta – o corpo como pincel, o ato pictórico sem intermediações.

A tinta intensa lembra os melhores momentos da história da pintura, da pulsão de Van Gogh, a, em nosso canto do mundo, a paixão da matéria de Iberê Camargo. Esse alto relevo pintado toca fundo na libido, eros na tinta, na tela, imediato, direto, pulsante diante dos sentidos provocados.

Naturalmente, Shiraga sabia qual a melhor cor para a melhor arte.

 

O artista em ação.

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FONTANA

É mesmo difícil compreender a arte espacial do argentino Lucio Fontana (1889-1968)?

À primeira vista, a tela ferida como que rasga a retina, e deixa clara a marca de um gesto feroz. O que parece mutilar na verdade produz mutação, e a tela plana, império da tinta, abre-se para outras dimensões, o espaço anterior de lâmina, mão e braço que cortam, e posterior, aquele fundo insondável que se esconde atrás da fenda.
Solitária, a fenda recende Gustave Courbet e aquela brecha cósmica que gera o mundo. Composições de cortes ampliam a cadência rítmica e deixam claro: esta tela deixou de ser rasa, há nela tanto espaço que passa a ventilar mistérios vários.

Algo subitamente mudou a natureza multissecular da pintura; mais do que dessacralizar, como Duchamp, Fontana profana, e instaura incisivamente um novo plano da arte, recortes vitalizados, muito além dos pincéis.

Fontana operou tais cirurgias em telas de cor pura, plana. Preferivelmente vermelho e branco, sempre.

 

 

 

 

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NOIGANDRES,
o enigma de Ezra Pound, que inflama os concretistas brasileiros, Décio Pignatari (1927-2012) e os irmãos Augusto (1931) e Haroldo de Campos (1929-2003). Cheios de erudição, ironia e modernidade geométrica, lançam em 1952 um petardo de vanguardismo no Brasil, com a revista de mesmo nome, Noigandres. Logo soma-se Ronaldo Azeredo (1937-2006), em 1956, ano do terceiro volume desta revista de arte e poesia. Capítulo importante da cultura brasileira.

Arte e escrita para gente sutil, construtiva, lúdica. Nada de babaquice e arcaísmo, vale toda a forma de inteligência incisiva, flanando dentro e acima de todos os tempos.

Há muitos anos que um de meus livros prediletos é Verso, reverso, controverso, de Augusto de Campos.

Este poema concreto de Décio Pignatari (Beba Coca Cola, 1957) é um verdadeiro ícone da ação desta gangue de delinquência formal arte-literária, antecessor da célebre obra de Cildo Meireles (inserções em circuitos ideológicos, 1970).

Essa obra tem fundamento, e este é uma cor eversora de todos os males.

 

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Rothko e a dicção: um discurso sensato, com estrutura, princípio, meio e fim. Com uma estética do século XX, a lucidez aristotélica, com argumento claro, ordenado, didático, bem contextualizado em um fundamento que sustenta, harmônico, cada bloco de afirmações cromáticas.
Na mensagem, a revelação do elemento cor, sua essencialidade, sua narrativa coerente, coesa, consistente.

Eu costumo exemplificar com Mark Rothko (1903-1970) as virtudes de uma boa narrativa (acadêmica, em particular, mas literária, igualmente), princípio, meio e fim em pleno equilíbrio.

Rosa e branco sobre vermelho, 1957.

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Como não amar Tomie?

A tela pura, a cor pura, a serenidade de uma ideia límpida, clara, potente como um grande uníssono de orquestra, densa e simples, bentônica superfície plana. O centro circular que é pura cor, corpo e desenho no mesmo elemento, o fundo potente e seguro de que emana o mundo e a que se destina toda a energia.
Por vezes, o jogo das texturas, a ordem na matéria que não suprime o gozo carinhoso revelado em uma epiderme orgânica, em que se afirma soberana, uma vez mais, a cor pura.

A forma solta no espaço, leve, cheia de fantasia, triunfo de um arrojo histórico, criado, declarando um ato de autonomia e de lirismo aéreo. A força da arte vermelha faz do céu azul apenas um fundo em que se escreve com paixão e liberdade.

Ciente do vigor de sua raiz nipônica, Tomie Ohtake (1913-2015) realizou com força pura o império daquela cor fundamental, o vermelho, seu pigmento pátrio, de calor maternal.

 

 

 

 

 

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Cy Twombly (1928-2011) é um de meus artistas prediletos, um marco de inteligência estética na arte dos séculos XX e XXI.

Twombly relê a memória pagã grega com liberdade contemporânea. Transcende o bla-bla-blá da retórica clássica pra revelar um mundo de corpo, gestos e coreografias que mostram a força lúdica da arte e do artista, de seu enlevo criativo. Nada de lugares comuns e formas canônicas; triunfo da estética pura, em um lugar distante da mimese convencional da modelagem clássica. O mito recriado, transcriado, revitalizado no tempo atual.
Com Cy Twombly supera-se, afinal, um mundo superficial de alusões mecânicas em favor de uma essencialidade plena, dionisíaca, lírica.

Cy Twombly, Untitled VII, da série Bacchus, 2005.

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Desvio para o vermelho: Impregnação, Entorno, Desvio (1967-1984) é uma obra genial de Cildo Meireles, em Inhotim.

Matéria e forma são unificados por uma cor universal, o vermelho. A intensidade sangüínea impregna o mundo e se torna elemento de unidade cósmica. O olhar visitante é deslocado para uma esfera sensorial fantástica, bicolor (vermelho e branco), em que o mundo é reorganizado de modo simples, sintético, universal. Há algo de onírico que atinge e transforma o mundo cotidiano, cenário doméstico. Estranhamento, pensamento e solução harmonizadora.
Um mundo sem disputas, arte em que o vermelho triunfa.
Cildo gênio.

Foto: Eduardo Eckenfels

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(*) Francisco Marshall, historiador e arqueólogo, professor da UFRGS.

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