Filmes de Andrea Tonacci no Cine Iberê discutem ambiente político e estético de Maio de 68
Sessão comentada com a astróloga Graça Medeiros – militante perseguida durante a ditadura militar no Brasil – tem entrada franca
No próximo domingo, 13 de maio, às 16h, o Cine Iberê exibe dois filmes do realizador italiano radicado no Brasil, Andrea Tonacci. Olho por olho (1966) e BláBláBlá (1968) são o ponto de partida para o programa de cinema paralelo à exposição Avesso (em cartaz até o dia 3 de junho) e à atmosfera estética e política em torno da revolução comportamental ocorrida em maio de 1968. O Cine Iberê tem a curadoria de Marta Biavaschi e a convidada da sessão é a astróloga Graça Medeiros, que viveu intensamente a contracultura dos anos 60 e 70, tendo sido perseguida pela ditadura militar brasileira até exilar-se em Berlim, em 1969. A entrada é franca, por ordem de chegada.
Em Olho por Olho, um grupo de amigos de classe média rodando de carro pela cidade de São Paulo reage ao sentimento de impotência e frustração que lhes invade a vida. Utilizando uma amiga como isca pra atrair uma vítima qualquer, fazem dela objeto de liberação da própria alienação e agressividade moral contida. É o inconsciente ritual/consumo de lazer/violência tornando-se hábito diário diante da condicionada impotência imposta por um sistema de valores repressivos.
Em BláBláBlá, Andrea Tonacci faz uma provocação ao regime ditatorial. O sentido do poder e da palavra em crise situam o homem (Paulo Gracindo) que os manipula numa idêntica crise pessoal, humana. A farsa do discurso de intenção humanista é total e absoluta. Um ditador num momento de grave crise nacional, confrontado na cidade e no campo por revoltas e guerrilha, na busca de uma paz ilusória, faz um longo pronunciamento pela televisão. Mas a realidade impõe-se à sua ficção e o controle da situação escapa-lhe das mãos. Sobra-lhe uma patética confissão antes de ser tirado do ar. O filme recebeu o prêmios de Melhor Curta e Margarida de Prata da CNBB no Festival de Brasília (1968) e Melhor Ator no Festival de Belo Horizonte (1968).
O cineasta italiano radicado no Brasil Andrea Tonacci (1944-2016) foi um dos realizadores com maior e mais potente experimentação de linguagem do cinema brasileiro. Realizador de Bang Bang (1971), filme ícone do cinema de invenção. Também destacam-se em sua filmografia Olho por Olho (1966), BláBláBlá (1968), Os Arara (1980) e Conversas no Maranhão (1983). Em 2013, realiza seu último filme Já Visto Jamais Visto, com Cristina Amaral, sua companheira e montadora. Em 2016 foi o grande homenageado da Mostra de Cinema de Tiradentes, em Mina Gerais, e em 2017 foram realizadas retrospectivas de sua obra no Cinéma du Réel, Centre Georges Pompidou, em Paris, e no Art of the Real, Lincoln Center, em Nova York.
Graça Medeiros é astróloga. Estudou filosofia e Comunicação na UFRGS, Astrologia com Emma Costet de Mascheville, em Porto Alegre, e com Charles Emerson e Diana Rosemberg, em Nova York. Atualmente, vive no Rio de Janeiro. Por sua militância política Graça foi perseguida pela ditadura militar no Brasil, razão pela qual exilou-se em Berlim no ano de 1969. Amiga de Caio Fernando Abreu, em seu conto Copacabana Mon Amour, o escritor refere-se à Graça quando estiveram juntos em um acampamento na Praia de Garopaba, em 1975, e onde foram detidos pela polícia – o regime ditatorial deflagrou uma dura campanha “contra os jovens de colar no pescoço e cabelos compridos”, em 1970.
A Fundação Iberê Camargo tem o patrocínio de Itaú, Grupo GPS, IBM, Oleoplan, Agibank, BTG Pactual, Banrisul e apoio SLC Agrícola, Sulgás e DLL Group, com realização e financiamento do Ministério da Cultura / Governo Federal.