Luís Eduardo Gomes
A 44ª edição do Festival de Cinema de Gramado encerra neste sábado (03) com a entrega do Kikito para o melhor filme, melhor diretor, melhores atores e demais premiados. Antes do festival terminar, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho, um dos curadores, conversou com o Sul21 sobre a situação atual do evento, já projetando as próximas edições.
Ewald Filho diz que a comissão organizadora está tentando recuperar o prestígio do festival, que, segundo ele, teve uma “caída” e ficou em segundo plano no calendário de eventos da própria cidade de Gramado, que teria priorizado do Natal Luz nos últimos anos.
“Devagarzinho fomos fazendo o trabalho, a cidade foi acordando também para uma coisa que era importante: que foi o Festival de Cinema que tornou a cidade famosa, não o Natal Luz. Esse pode trazer dinheiro, mas não prestígio”, afirmou o crítico de cinema em conversa com o Sul21 no tapete vermelho do festival na última terça-feira (30).
Segundo ele, as edições recentes já ajudaram a recuperar parte do prestígio do evento. “Está se fazendo uma evolução na medida que Gramado tinha ficado muito pouco prestigiado pelo resto do país. Em parte, devido ao mito que criou-se de que os filmes não faziam sucesso fora, mas por culpa mesmo até do festival, que tentou competir com o de Brasília, que é a outra praia”, afirma. “Para se ter uma ideia, este ano, praticamente todos os concorrentes entraram em contato com a gente e eles que queriam que o festival viesse. O filme Elis, por exemplo, a gente achava que ia ser hors concours, eles pediram para o filme concorrer. E tava certo, porque o público enlouqueceu com o filme”, complementa.
Ele aponta que uma das mudanças positivas que ocorreram foi a exibição do filme O Roubo da Taça, que ele caracterizou como uma comédia “à moda italiana”. “Há quanto tempo não tinha uma comédia? O brasileiro é uma coisa muito engraçada, adora ver uma comédia, mas não tem amor por ela. Acha que é de segunda linha. É tudo que a gente está querendo mudar”, disse.
Ewald Filho também afirma que, além dos filmes a serem exibidos na mostra competitiva, os curadores estão buscando trazer filmes de arte e “difíceis” para serem exibidos em Gramado. “Eu acho que tem que ter tudo. Não aceito qualquer preconceito, de qualquer forma”, ponderou.
Momento da cultura
O momento mais marcante desta edição do Festival de Gramado talvez tenha ocorrido logo em sua sessão abertura, quando a exibição do filme Aquarius foi acompanhada por manifestações política contra o governo de Michel Temer.
Para Ewald Filho, as manifestações foram uma reminiscência de edições passadas. “O que eu posso dizer é que todos os protestos que ocorreram aqui foram muito bem-vindos, por uma razão até nostálgica: sempre tinha uma carta de Gramado em que se faziam reivindicações. O que a gente viu foi uma manifestação à moda antiga. Me deixou muito feliz, se você quer saber”, disse.
Sobre o que esperar da gestão cultural a partir do governo Temer, Ewald Filho preferiu não opinar sobre o futuro, dizendo que não tem “bola de cristal”.
De olho na 45ª edição
Antes mesmo de a 44ª edição do festival acabar, Ewald Filho já estava de olho na edição do ano que vem. Segundo ele, pela primeira vez a organização do evento irá se reunir logo após o encerramento do festival já de olho na edição seguinte.
Uma de suas ideias para os próximos anos é criar um grupo de cineastas “confirmado”, que anualmente apresentem seus filmes no festival.
“A gente gostaria de ter um grupo que nem Cannes, onde o Waltinho (Walter Salles) faz um telefonema e diz ‘quero que meu filme entre’. E entra, claro, porque são parceiros. A gente quer esses parceiros de longa data para sempre ter uma relação com o festival, evidentemente escolhendo os melhores cineastas disponíveis”, afirmou.
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