‘Cromossomo 21’ leva para as telas amor e independência de portadores de síndrome de Down
Luís Eduardo Gomes
Quem disse que portadores de síndrome de Down não podem sair de casa? Ter um emprego? Se apaixonar? Inclusive por não portadores da síndrome? Essa discussão está presente no filme Cromossomo 21, que teve sua pré-estreia no 44º Festival de Cinema de Gramado e cujo diretor conversou com a reportagem do Sul21 durante o evento de lançamento da obra na cidade gaúcha.
De acordo com Alex Duarte, o filme faz parte de um projeto maior, que também inclui um livro, que ele está apresentando em uma turnê pelo Brasil, e um ciclo de palestras “para ajudar os pais a soltar seus filhos” com síndrome de Down.
Alex explica que a ideia para o filme surgiu há cerca de seis anos, quando ele trabalhava como estagiário de um jornal e foi escalado para fazer uma reportagem sobre uma jovem portadora de síndrome de Down que passou no vestibular para Nutrição. Ele reconhece que, inicialmente, encarou a pauta com preconceito. “O preconceito nada mais é do que aquilo que tu não conhece, o que o teu cérebro não vivenciou”, pondera.
No entanto, conta que esses preconceitos se dissiparam quando sentou na frente da jovem Adriele Pelentir. “Ela começou a me entrevistar: ‘Alex, você realmente acha que eu sou igual a você? Alex, você tem namorada? Eu não tenho. Você acha que nesta vida eu vou amar alguém de verdade e alguém vai me amar?'”, relembra. “Aquelas perguntas me fizeram mudar de vida, porque a sensibilidade deles, a capacidade de ouvir, como eles tratam as pessoas, a ingenuidade que eles têm, é algo que me fascinou, mudou minha vida e me tornou um ser humano muito melhor”, completa.
Inspiração para os projetos de Alex, Adriele interpreta Vitória, a protagonista do filme Cromossomo 21. “O filme trata sobre uma jovem que tem síndrome de Down e se apaixona por um cara que não tem. Esse romance fora dos padrões começa a chocar a família do menino e a gente mostra como eles vão conseguir trabalhar as diferenças, como vão conseguir vencer o preconceito e acreditar no amor”, conta o diretor.
A partir do primeiro contato com Adriele, ao longo de seis anos Alex buscou o depoimento de outros portadores da síndrome, que estão presentes no livro também chamado Cromossomo, uma obra dupla que, de outro lado conta a história do filme.
“A maioria das pesquisas no Brasil são para mostrar que jovens com síndrome de Down não são como os outros, que são menos, não chegam na mesma capacidade intelectual, e nós provamos exatamente o contrário”, diz.
Segundo ele, apenas recentemente está ocorrendo uma abertura da sociedade para os portadores de síndrome de Down. Um dos marcos dessa transformação, reconhece Alex, é o filme ‘Colegas’, premiado no mesmo festival de Gramado em 2012 e cujo trio de protagonistas é portador de síndrome de Down.
“Muita coisa mudou. Inclusive, a gente está vendo os portadores de Down saindo de casa. Antes, até os próprios médicos diziam que os Down não podiam ter filhos, que eram estéreis. Mas eles eram estéreis porque não faziam sexo, não tinham o exercício da sexualidade para que pudessem ter filhos. Hoje você vê jovens com síndrome de Down que são pais e pais inclusive de pessoas sem a síndrome. Cadê as impossibilidades que se colocou anos atrás?”, questiona. “O filme Cromossomo 21 é uma história de amor, que mostra que é possível a gente trabalhar com as diferenças, desconstruir o conceito de que somos seres perfeitos. Não somos, todos somos seres imperfeitos buscando a evolução humana”.
O filme ainda não tem data certa para a estreia, mas a previsão é que entre em cartaz no final do ano ou início de 2017.
Confira o trailer do filme: