Marcelo Brandão,
Agência Brasil
Em entrevista ao programa Espaço Público, exibido nesta terça-feira (5) pela TV Brasil, a cineasta Anna Muylaert disse que a pirataria não a incomoda mais do que a falta de acesso aos filmes. Seu mais recente lançamento, Que horas ela volta?, de 2015, foi premiado, elogiado pela crítica especializada e alcançou um grande público graças aos downloads ilegais.
De acordo com a cineasta, Que horas ela volta? fez sucesso inicialmente em cinemas de arte, mas o debate gerado pelo tema abordado levou o filme às periferias e vendedores de filmes piratas. Moradores de municípios afastados dos grandes centros baixaram o filme da internet e exibiram para a comunidade.
“Quando você faz um filme político, que gera debate, quer que seja visto. Se o mercado não vai cumprir isso, que vá de outra maneira. Eu prefiro que seja visto”, afirmou Anna. Ela disse não ter certeza se a arrecadação oficial, vinda das bilheterias, lhe dá algum lucro.
“Se o ingresso custa R$ 10, o cinema fica com a metade. Depois, um tantão é do distribuidor e aí chega no produtor, que sou eu. Mas aí o produtor vendeu várias partes do filme para poder pegar o dinheiro. Então, no fim é pouco. Não é significativo [o lucro]. A menos que você faça R$ 5 milhões de bilheteria. Nesse caso, você também investiu R$ 5 milhões.”
Que horas ela volta? apresenta um enredo bastante brasileiro. A película mostra a rotina de uma família e da babá, a pernambucana Val. A estrutura hierárquica construída na relação patrão e empregado é ameaçada quando a filha de Val, Jéssica, sai de Pernambuco e vai para São Paulo, onde vai prestar vestibular.
“É um filme muito feminino. É muito crítico, mas chega um momento em que ele vai para o coração. Vira um filme de mãe. A conexão que a mulher tem com o filho é talvez a maior força da natureza humana”. No programa, ela também falou sobre a dificuldade que as mulheres enfrentam no mercado cinematográfico.
“É normal que a mulher faça curta-metragens, mas quando você vende um certo valor e começa a tomar uma importância nesse nível de negócio não tem mulher. Quando é maior o projeto, geralmente é homem [que trabalha]”. A roteirista e diretora informou ter enfrentado dificuldades para conquistar seu espaço e ser reconhecida por isso.
“No Castelo Rá Tim Bum [programa infantil exibido pela TV Cultura nos anos 90], eu criei várias daquelas histórias. Fiz toda a coordenação e meu nome não está nos créditos. Acho que a questão é que, historicamente, é uma novidade a mulher trabalhar. Lembro de mães de amigas minhas que eram jornalistas e não podiam assinar. Havia uma exploração na questão do crédito”, concluiu.
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