Sul21 recomenda ‘Mate-me por favor’, Remendola, Luana e ‘Ulisses no País das Maravilhas’
Milton Ribeiro
Os lançamentos são vários, mas entusiasmam tanto quanto um time de Celso Roth. Apenas o filme de estreia de Anita Rocha da Silveira, Mate-me por favor, chamou nossa atenção, além das boas continuações de Aquarius e Francofonia.
Na música, temos o projeto Desconcerto com o Remendola de Chave no Bar Parangolé e o charme da chanson com Luana Pacheco na Ecarta. Tudo pertinho.
Uma aposta certa é Ulisses no País das Maravilhas, com texto e direção de Julio Zanotta.
De segunda a sexta, atualizamos nosso Guia21, com a programação do que acontece em POA.
Todas as semanas, o Sul21 traz indicações de filmes, peças de teatro, exposições e música para seus leitores. Não se trata de uma programação completa, mas de recomendações dos melhores espetáculos que assistimos. O critério é a qualidade. Se você tiver sugestões sobre o formato e conteúdo de nosso guia, por favor, comente. Boa semana!
Cinema – Estreias
Mate-me Por Favor (****)
de Anita Rocha da Silveira, Brasil, 2014, 101 min
Marcando a estreia da diretora carioca Anita Rocha da Silveira em um longa-metragem, Mate-me por favor conta uma história que mescla mistério, drama e humor e que tem como pano de fundo uma série de assassinatos que despertam a imaginação de um grupo de jovens. O filme é a reafirmação da identidade que Anita Rocha da Silveira vinha construindo em seus curtas – O Vampiro do Meio-Dia (2008), Handebol (2010) e Os Mortos-Vivos (2012). Em seu primeiro longa, acompanhamos um grupo de garotas da Barra da Tijuca. Envoltas com os conflitos da adolescência (sexo, prazer, dor, rebeldia, ciúme, ausência, solidão), perturbam-se também com uma onda de assassinatos cujas vítimas possuem o mesmo perfil que elas. O retrato da juventude vem através de um apanhado honesto e panorâmico dos estereótipos. São personagens e diálogos em conexão com a adolescência no que ela tem de trivial e no que tem de complexo – por exemplo, a estranha percepção de que as fontes de prazer e dor são as mesmas. Além disso, a repetição sistemática de signos visuais (o sangue, o apito), gestos (os beijos de língua demorados, as jogadas de handebol), espaços (o banheiro, a cama de Bia, o matagal do crime, o ponto de ônibus), planos (o campeão é o close bem centralizado) e até falas (“a mãe está?”) cria um forte conjunto cíclico que, se, por um lado, pode dar margem a um cinema ensimesmado e muito cioso de suas próprias escolhas, por outro estabelece um chão confortável para a “realidade” que se quer transpassar – algo essencial para as inserções fantásticas que povoarão o longa. (Ccom o CineFestivais).
No Espaço Itaú 2, às 13h30, 15h40, 19h50 e 22h
No Guion Center 2, às 13h50 e 17h40
Cinema – Em cartaz
Nós Duas Descendo a Escada (****)
de Fabiano de Souza, Brasil, 2015, 98 min
Nós Duas Descendo a Escada é aquela nouvelle vague colorida, um flanar sobre nove meses da vida de um casal de mulheres. Uma tem a vida feita e é bem estabilizada como arquiteta, já a outra acabou de terminar a faculdade de artes e não sabe qual caminho seguir. O longa vai mostrando aos poucos o surgimento dessa relação, passa pelos altos e baixos e vai até o âmago das emoções das protagonistas. Escrito e dirigido por Fabiano de Souza (A Última Estrada da Praia), o filme traz uma realidade bem prazerosa para a comunidade LGBT+. É um romance feliz, sem os trágicos finais que infelizmente aparecem em muitas das produções desse gênero. (Com Quadro por Quadro)
No Espaço Itaú 2, às 17h50
No Guion Center 3, às 21h05
Na Sala Eduardo Hirtz, às 19h30
Aquarius (*****)
de Kleber Mendonça Filho, Brasil, 2016, 145 min
Kleber Mendonça Filho já marcara seu nome no cinema brasileiro com o extraordinário O Som ao Redor. Em vez de apenas colher a glória de seu grande filme, bisou o feito, realizando outro também notável. Clara (Sonia Braga) tem 65 anos, é jornalista aposentada, viúva e mãe de três adultos. Ela mora em um apartamento localizado na Av. Boa Viagem, no Recife, onde criou seus filhos e viveu boa parte de sua vida. Interessada em construir um novo prédio no espaço, os responsáveis por uma construtora conseguiram adquirir todos os apartamentos do prédio, menos o dela. Por mais que tenha deixado bem claro que não pretende vendê-lo, Clara sofre todo tipo de assédio e ameaças para que mude de ideia. Uma história lotada de Brasil.
No Cinemark Barra 6, às 15h50, 18h50 e 22h
No CineBancários 15h, 17h30 e 20h
No Espaço Itaú 3, ás 16h, 18h40 e 21h20
No GNC Moinhos 4, às 13h20, 16h10, 18h50 e 21h40
Café Society (***)
(Café Society), de Woody Allen, Estados Unidos, 2016, 96 min
Belo filme de Woody Allen. Aos 80 anos, o diretor abre seu baú de memórias e realiza um excelente filme. Café Society é uma comédia inteligente, com esplêndida fotografia do mestre Vittorio Storaro e com um Jesse Eisenberg que encarna um daqueles personagens típicos e repetidos de Allen, só que desta vez muito melhor que os anteriores. Café Society é suave como as fotos que acompanham a produção. É novamente através do viés cultural — cinema, literatura, jazz — que o diretor faz mais uma crônica de costumes. O longa conta a história de um jovem judeu que se muda para Los Angeles nos anos 1930, com a esperança de trabalhar no estúdio de cinema onde seu tio manda prender e soltar. Lá, James toma contato com as maravilhas da alta-sociedade e se apaixona por Vonnie (Stewart), sem suspeitar que ela… Bem, seria sacanagem contar…
No Espaço Itaú 4, às 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h40
No GNC Moinhos 2, às 13h30, 15h30, 17h35, 19h40 e 21h50
No Guion Center 3, às 15h30, 19h20
Francofonia (*****)
(Francofonia), de Alexander Sokúrov, França / Alemanha / Holanda, 2015, 84 min
Filmado em boa parte no Museu do Louvre, Sokúrov questiona a permanência da arte mesmo em um momento tão grave quanto a 2ª Guerra Mundial. Jacques Jaujard, diretor do Louvre, e o Conde Wolff-Metternich, general da ocupação nazista em Paris, inimigos e posteriormente colaboradores, formaram uma aliança para a preservação dos tesouros do museu francês. Explorando as relações entre arte e poder, o filme mostra o Louvre como um exemplo de nossa civilização. Misturando documentário e ficção, o denso filme do grande Aleksander Sokúrov (de Arca Russa e Fausto) reflete poeticamente sobre os papéis da arte e da civilização. Como pano de fundo, vemos toda a grande cultura europeia tendo que escapar de ser pisoteada. Belo filme.
No Guion Center 1, às 17h30
Funcionário do Mês (****)
(Quo Vado?), de Gennaro Nunziante, Itália, 2016, 84 min
Esta comédia dirigida por Gennaro Nunziante arrecadou mais de € 65 milhões (US$ 71 milhões), transformando-se no filme italiano mais rentável de todos os tempos. Com humor ácido e muitas críticas ao funcionalismo público na Itália, o longa traz a história de Checco, interpretado por Checco Zalone. Ele nasceu numa família que possui uma larga linhagem de burocratas que nunca soube o que é ter que colocar a mão na massa e trabalhar duro. Em sua vida adulta, ele desfruta da confortável e ultra vantajosa posição de funcionário público numa repartição que não exige muito. Uma verdadeira sinecura. Depois de muito evitar o trabalho duro, sua situação começa a mudar quando um governo mais austero assume a missão de fazer cortes no funcionalismo público, forçando sua demissão ao colocá-lo em funções cada vez piores. Eu curti.
https://youtu.be/WrkY2G5YDhU
No Guion Center 2, às 19h25
Na Sala Paulo Amorim, às 15h
Nahid, Amor e Liberdade (***)
(Nahid), de Ida Panahandeh, Irã, 2015, 105 min
No Irã, as leis determinam que, quando um casal se divorcia, o homem tem direito à guarda dos filhos. Nahid (Sareh Bayat), por meio de um acordo, consegue o “privilégio” de ficar com o filho de dez anos, desde que não volte a se casar. Inicialmente, a proposta parece ideal, até o momento em que ela se apaixona novamente e não pode aceitar o pedido de casamento do seu novo amor. Dividida entre a paixão e o medo de ser descoberta e perder o filho, Nahid é uma personagem complexa em um filme que denuncia as leis patriarcais iranianas sem cair no maniqueísmo e nas respostas simples.
Na Sala Eduardo Hirtz, às 17h30
Exposições e Artes Plásticas
Retratos Indígenas, por Marilene Bittencourt
Galeria 189 – Rua Bagé, 189. Petrópolis
Segunda a Sexta das 13h às 19h, Sábados das 10h às 18h
Até 8 de outubro
As fotografias da exposição foram captadas durante os I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas que ocorreu em Palmas Tocantins em novembro de 2015. A fotógrafa esteve fazendo a cobertura do evento e acompanhou bem de perto varias tribos brasileiras neste raro momento “festivo”. Os Retratos Indígenas da mostra são registros atuais dos traços fortes e belos daqueles que foram os primeiros habitantes do nosso país e ainda hoje carregam em seu DNA heranças ancestrais de uma civilização sábia que trata e cultiva a terra em que vive com profundo respeito e sabedoria. Para Marilene, realizar este trabalho teve um significado especial. “A natureza e as pessoas são temas que me comovem. É um resgate de minhas origens, da nossa história”, conta. A exposição segue aberta para visitação até 8 de outubro.
Salão da Câmara reúne 22 artistas do Estado
2º piso da Câmara (Avenida Loureiro da Silva, 255)
Até 7 de outubro, das 8 às 18 horas, de segundas a sextas-feiras
Trabalhos de 22 artistas do Rio Grande do Sul estão expostos no 21º Salão de Artes Plásticas Câmara Municipal de Porto Alegre, aberto neste mês. São 37 obras de 11 diferentes técnicas que podem conhecidas até 7 de outubro, com entrada gratuita. O evento deste ano também presta uma homenagem aos 80 anos do pintor gaúcho Paulo Porcella, um dos mais importantes artistas do Estado.
Nilza Haertel: Experimentações Gráficas
De 13 de setembro até 15 de outubro, de terça a sexta, das 10 às 19h; sábados, das 11 às 18h
No Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, Rua dos Andradas, 1223, 1° andar
Professora de gravura e desenho no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul por quase 30 anos, com grande dedicação à gravura, Nilza Haertel expôs em raras ocasiões. Seu legado artístico chegou recentemente à UFRGS por doação de seus familiares. A abertura de suas pastas desvelou um acervo inestimável, confirmando o perfil investigativo da artista nesta área de conhecimento e revelando uma produção de grande fôlego e sensibilidade que poucos tiveram o privilégio de conhecer. A exposição traz a público uma leitura sobre esta importante coleção que apresenta inquietações artísticas contemporâneas e que, certamente, suscitará a curiosidade de muitos outros olhares.
Exposição Utopia e Náusea/ Náusea e Utopia
No MACRS, Salas Xico Stokinger e Sotero Cosme
No 6º andar da CCMQ (Andradas, 736)
Até 25/9, de 3ª a 6ª das 10h às 19h, sábados, domingos e feriados das 12h às 19h
A exposição caracteriza-se por apresentar duas individuais simultâneas. Na Sala Xico Stokinger, as obras da artista Umbelina Barreto com desenhos e na Sala Sotero Cosme as pinturas de Flávio Morsch. Segundo a curadora Ana Zavadil, a exposição promove o encontro de trabalhos distintos dos artistas, provocando os sentidos. Para Zavadil, o repertório artístico de Barreto e Morsch é heterogêneo e se encontram por meio de conceitos operacionais. “O ateliê para eles significa lugar de autoconhecimento e experimentações, onde exercem juntos, há mais de 20 anos, as suas capacidades reflexivas, intelectuais e inventivas. O resultado é o legado de seus trabalhos que permitem ao observador perceber o inquestionável domínio de suas técnicas, além da imaginação e da sensibilidade que os permeia”, explica Ana Zavadil.
Coleção da Fundação Edson Queiroz
Na Fundação Iberê Camargo, Av. Padre Cacique, 2.000
Até 17 de outubro
A exposição reúne um conjunto de 76 obras da Fundação Edson Queiroz, uma das mais amplas e sólidas coleções da arte brasileira do País. A mostra tem como foco a produção de artistas atuantes no Brasil entre as décadas de 1920 e 1960, abrangendo do modernismo à arte abstrata. Trata-se de uma oportunidade única para o público de Porto Alegre entrar em contato com esse período tão singular da arte nacional.
Abertura: 23 de junho, das 19h às 21h
Exposição: de 24 de junho a 17 de outubro
Apenas sextas e sábado, das 13h às 18h
Na Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2.000 – Porto Alegre)
Música
Ecarta Musical recebe Luana Pacheco
Na Fundação Ecarta (Av João Pessoa, 943)
Sábado (17 de setembro), às 18h
Para finalizar o eixo temático Músicas do Mundo, o projeto Ecarta Musical recebe a cantora Luana Pacheco, no sábado (17.09). A apresentação vai mostrar parte da história da música francesa com ícones da chanson e da música popular francófona, por meio de canções de Edith Piaf, Jacques Brel, Christophe, Georges Bizet, Zaz e Françoise Hardy, além de produção musical original com Luana na voz e no violão. O repertório vai reunir 21 canções com a participação de Luciano Leães, no piano, e de Miriã Farias, no violino. O show começa às 18h e tem entrada franca.
Remendola de Chave estreia no Projeto Desconcerto
Sábado, dia 17, às 18h30, no Parangolé (Lima e Silva, 240)
Com Diego Silveira (computador e vuvuzela) e Paulo Bergmann (piano e escaleta)
Dentro das comemorações de seu primeiro aniversário, o projeto Desconcerto abriga a estreia do Remendola de Chave no próximo sábado, dia 17, às 18h30, no Parangolé (Lima e Silva, 240), na Cidade Baixa, em Porto Alegre. O trabalho inédito reúne os músicos Diego Silveira (computador e vuvuzela) e Paulo Bergmann (piano e escaleta). A música da dupla mistura fragmentos sonoros, tendo como inspiração um instrumento imaginário, que seria antecessor da pianola, do sequenciador e do loop: a remendola de chave. “É um jeito de brincar com essa questão de que o status do instrumento musical e da obra é muito sério. Todo mundo se leva muito a sério. Acho que não precisa, que dá pra se divertir mais e experimentar mais”, explica Diego. O trabalho é fruto de uma parceria de longa data, iniciada quando Diego e Paulo integravam a banda Aristóteles de Ananias Jr. nos anos 1990, e prosseguida no Grupo de Música Contemporânea de Porto Alegre. A partir da identificação artística dos dois músicos, no Remendola de Chave, diferentes estilos e proveniências musicais são passados no liquidificador e filtrados no piano, na escaleta, no computador e nas vuvuzelas. O projeto Desconcerto não cobra um valor fixo de couvert artístico, mas sugere uma contribuição espontânea, de R$ 5 a R$ 20, que remunera os músicos. Reservas pelo 3019-6898.
Teatro e Dança
Ulisses no País das Maravilhas
Teatro do Instituto (Rua Riachuelo, 1317 – 3º andar)
Até 28 de outubro de 2016, sextas-feiras e sábados, sempre às 20h
Ulisses no País das Maravilhas, texto e direção de Julio Zanotta, agora cumpre temporada às sextas-feiras e sábados. Com dois atores em cena, Sirmar Antunes e Pablo Parra, a peça relata o encontro de personagens em crise: um escritor, vivendo uma situação limite e um idoso desamparado, fugido de uma clínica geriátrica que inventa fantasias para lidar com seu abandono. A música foi especialmente composta por Vagner Cunha, a cenografia tem a assinatura de Gelson Radaeli e o desenho de luz é de Luis Acosta. O Teatro do Instituto integra o complexo do quase centenário Instituto Histórico e Geográfico do RS, cuja finalidade é promover estudos sobre História, Geografia, Arqueologia e outros campos correlatos do conhecimento. Uma ampla reforma foi realizada no terceiro andar do prédio para transformar o ex-auditório em um espaço com capacidade para abrigar o desenvolvimento de uma dramaturgia e onde também serão realizados shows, recitais de literatura, palestras, debates e oficinas.
‘Um Olhar Através De’
Na Usina do Gasômetro, Sala 209
17 e 18 de setembro, às 19h
A Transforma Cia de Dança volta aos palcos de Porto Alegre com o espetáculo que traz uma nova linguagem no repertório da companhia. Dirigido por Suzana d’Ávila e com coreografias criadas em conjunto com o elenco, o grupo instiga o espectador para um novo olhar sobre a agitada rotina das grandes metrópoles. Inspirada na obra Zigmunt Bauman, a Cia traz os conceitos da modernidade líquida, da flexibilidade, da fragilidade dos laços afetivos, mais precisamente, da influência da tecnologia no envolvimento das pessoas. O mundo virtual é um caminho sem volta e não sabemos o resultado disso. Por enquanto, o que se pode afirmar é que ao mesmo tempo em que há mais recursos tecnológicos para facilitar a comunicação, gradativamente, o contato está menos profundo e mais cibernético. Estamos cada vez mais atarefados, vivendo em um limbo entre o virtual e o real, entre o check list do trabalho e da vida afetiva. A nova febre do momento, os Pokemóns e Pikachus, invadem nossas mentes. Entre os olhares que só veem e não enxergam, o espetáculo leva pra cena estas questões tão comuns na nossa rotina, mas nem sempre percebidas e avaliadas.