Milton Ribeiro
No fim de semana de lançamento de Star Wars, chegamos com nossa habitual liberdade e tratamos de ignorá-lo. Afinal, os editores do Sul21 acham aquilo bem chato. Em compensação, temos duas novidades sensacionais nos lançamentos: o italiano Mia Madre — melhor filme de 2015, segundo o Cahiers du Cinéma — e o chileno A Criada. O primeiro trata de um momento de crise, o segundo da criação e resolução de outra. São duas joias que deverão estar no Top 10 em nossa Retrospectiva 2015.
Se querem mais prêmios, a peça Irmãos de Sangue, em cartaz no Theatro São Pedro, levou o Prêmio Shell. Mas atenção, é só sábado e domingo. Nesta sexta (18) não tem função.
Ah, não esqueça. O Santander Cultural está com uma exposição de Vasco Prado.
Confiram tudo isso e muito mais no Recomenda.
Todas as semanas, o Sul21 traz indicações de filmes, peças de teatro, exposições e música para seus leitores. Não se trata de uma programação completa, mas de recomendações dos melhores espetáculos que assistimos. O critério é a qualidade. Se você tiver sugestões sobre o formato e conteúdo de nosso guia, por favor, comente. Boa semana!
Cinema – Estreia
Mia Madre (*****)
(Mia Madre), de Nanni Moretti, Itália / França, 2015, 107 min
Para começar, talvez seja adequado dizer que Mia Madre foi considerado o melhor filme do ano pelo Cahiers du Cinéma. A revista francesa sobre crítica de cinema, fundada em 1951 por André Bazin, é rigorosa e… Bem, Mia Madre é excelente mesmo! Como em O Quarto do Filho (2001), Moretti volta ao drama, mas com certo humor. O tema central está na crise de uma diretora de cinema angustiada pela iminente perda da mãe e pela produção de um filme complicado, especialmente pelas confusões causadas por seu vaidoso ator norte-americano. Quem conhece a obra do diretor, percebe o quanto este novo filme é autobiográfico — embora Moretti tenha mudado o sexo da protagonista e reservado para si mesmo um papel secundário. Obrigatório.
No Guion Center 2, às 15h15, 19h15 e 21h10
No Espaço Itaú 2, às 13h30, 17h10 e 19h20
A Criada (****)
(La Nana), de Sebastián Silva, Chile / México, 2009, 95 min
Um belo filme, também candidato ao Top 10 de 2015 (mesmo sendo uma produção de 2009). Raquel (Catalina Saavedra) trabalha como empregada doméstica e babá em uma família chilena há 23 anos. Ela é aceita como “parte da família” (notem as aspas), mas ainda mora no quarto dos fundos e faz suas refeições separada dos moradores da casa. Com a intimidade que se desenvolveu ao longo das décadas, Raquel não hesita em criticar atitudes dos donos da casa e dos filhos destes, o que acaba gerando problemas com a filha adolescente. Quando os conflitos aumentam, a mãe descarta a possibilidade de demitir a empregada, preferindo contratar uma segunda ajudante, muito mais nova do que a primeira. Percebendo a diminuição de sua influência dentro do lar, Raquel fará de tudo para se impor contra a nova garota contratada. Vencedor de vários festivais alternativos, impressiona pela segurança narrativa e pelo elegante final.
No CineBancários, às 15h, 17h e 19h
Cinema – Em Cartaz
O Clã (****)
(El Clan), de Pablo Trapero, Argentina / Espanha, 2015, 108 min
O excelente diretor Pablo Trapero retorna com este excelente O Clã. O autor de Família rodante e Leonera vem com um filme que conseguiu (1) bater o recorde de bilheteria em estreias do cinema argentino, com mais de 500 mil ingressos vendidos no primeiro fim de semana, superando Relatos selvagens e (2) ganhar o Leão de Prata de melhor direção no Festival de Veneza. O filme conta a história real da família Puccio, um caso que chocou a sociedade portenha. Os Puccio eram uma família de classe média que tinha por hábito sequestrar pessoas ricas, pedir o resgate e, ao receber o pagamento, matar as suas vítimas. O patriarca, Arquimedes, comandava as operações ao lado do filho Alejandro, enquanto sua esposa e as filhas fingiam ignorar o que acontecia à sua volta. Mas as coisas mudam de figura quando um filho distante volta da Austrália.
No Guion Center 3, às 16h45, 18h45 e 20h45
No Cinemark Barra 1, às 12h25 e 17h50
No Cinespaço Wallig 2, às 13h30, 19h30 e 21h30
No Cinemark Bourbon Ipiranga 8, às 22h
No Espaço Itaú 6, às 13h30, 19h30 e 21h40
No GNC Iguatemi 6, às 19h30
No GNC Moinhos 3, às 15h25, 17h40 e 19h50
No GNC Praia de Belas 4, às 16h10 e 19h
Pecados Antigos, Longas Sombras (****)
(La Isla Mínima), de Alberto Rodriguez, Espanha, 2014, 104 min
Pecados Antigos, Longas Sombras é a tradução perfeita para La Isla Mínima. Bem, deixando de lado as ironias, trata-se de um baita thriller. Pecados Antigos, Longas Sombras é uma das melhores surpresas de 2015. Um serial killer está à solta. Ele é inteligente, sádico e envolvente, tem plena convicção de que nunca será alcançado. Dois detetives precisam resolver suas diferenças e trazer o assassino à justiça antes que mais jovens mulheres percam suas vidas. Um dos policiais é um veterano preocupado apenas em fazer seu serviço e voltar para casa. O outro está disposto a fazer o que for preciso e a sacrificar tudo em busca de uma justiça muito discutível. O cenário onde se encontram é uma sociedade que não os quer e que, machista, prefere deixar tudo como está. Afinal, quem se importa com essas meninas que gostam de se divertir?
No Guion Center 2, às 17h15
Dois Amigos (****)
(Les Deux Amis), de Louis Garrel, França, 2014, 102 min
A história parece comum, já vista: Vincent e Monica se conhecem há uma semana e ele já está completamente apaixonado por ela. Ele é figurante, ela vende sanduíche numa estação de trem em Paris. Mona tem um segredo: toda noite ela deve ir para casa cumprir prisão domiciliar. Quando Vincent não entende as intenções de Mona, pede ajuda a seu único amigo, Abel.Mas tudo começa a dar errado quando Mona se interessa por Abel e surge um conflito entre os dois amigos. Enquanto isso, Mona tenta manter seu passado escondido. O filme faz questionamentos sobre valores, desprendimento e sacrifícios às vezes necessários em prol de uma amizade — e sobre como não existe regra para as afinidades.
No Guion Center 3, às 14h45
Chico — Artista Brasileiro (***)
(Chico — Artista Brasileiro), de Miguel Faria Jr., Brasil, 2015, 110 min
Personagem fundamental da cultura brasileira nos últimos 50 anos, autor, dramaturgo e compositor de uma extraordinária coleção de canções que habitam o imaginário coletivo do país, Chico Buarque dialoga com a própria memória neste filme de Miguel Faria Jr. O longa tem como um dos eixos a descoberta do irmão alemão de Chico. “É um artista revisitando a sua própria história do ponto de vista da maturidade”, resume o diretor, que em 2005 assinou o bem-sucedido documentário sobre Vinicius de Moraes, recorde de público.
No Espaço Itaú 8, às 14h e 19h
Papéis ao vento (***)
(Papeles en el Viento), de Juan Taratuto, Argentina, 2015, 98 min
Baseado no romance homônimo de Eduardo Sacheri, o longa argentino Papéis ao Vento, dirigido pelo cineasta Juan Taratuto, é um drama com pitadas milimetricamente cômicas tendo o futebol como fundo de fundo para os conflitos e ações dos personagens Os atores são excelentes, esbanjando categoria na interação com o público. Há muita empatia em cena e passa ao espectador, que aos poucos vão se deliciando com essa curiosa história. Na trama, conhecemos um grupo de amigos muito unidos que passam por um momento de tristeza quando um deles falece precocemente por conta de uma doença. A única herança que ele deixara para sua única filha foi o dinheiro investido em um passe de um jogador de futebol perna de pau. Para tentar recuperar o dinheiro em questão, os amigos farão de tudo para tornar o perna de pau em pelo menos um jogador negociável/rentável e assim conseguirem recuperar o dinheiro investido e dar uma boa vida para a filha do amigo. (Do CinePop).
Na Sala Norberto Lubisco, às 19h
Exposições e Artes Plásticas
Vasco Prado – a escultura em traço
No Santander Cultural, na Rua Sete de Setembro, 1028
Ter a sáb, das 10h às 19h / Dom e feriados, das 13h às 19h
28 de de fevereiro de 2016
Fica aberta para visitação do publico entre os dias 16 de dezembro e 28 de de fevereiro de 2016, no Santander Cultural, em Porto Alegre, a mostra Vasco Prado – a escultura em traço, com 95 obras, a maioria inéditas. Com curadoria de Paulo Amaral, a exposição traz desenhos e grafismos feitos pelo artista gaúcho em um período de 40 anos. O ano de 2014 marcou o centenário de nascimento de Vasco Prado, natural de Uruguaiana. “Incompreensível que não tenha recebido as devidas homenagens pelo que representou na história das artes do Rio Grande do Sul e do Brasil. Conhecido como escultor, sabemos menos de seu desenho, como, por vezes, recusamos aceitar a evidência de que este é a base da representação do pensamento visual”, afirma Paulo Amaral em seu texto curatorial. O artista, morto em 1998, costumava dizer que esculpia durante o dia e desenhava durante a noite. Inspirado em artistas consagrados, Vasco imprimiu ao seu trabalho características próprias, rapidamente reconhecíveis, denunciando a construção de uma identidade artística em cima de uma percepção muito particular. Símbolos e referências de sua infância, como o campo, os cavalos e o Negrinho do Pastoreio, são rapidamente incorporados por traços inspirados em artistas como Marino Marini e Picasso. (Da Culturíssima)
Superfície de Experiência
Na Galeria Lunara, 5° andar, Usina do Gasômetro, Av. Pres. João Goulart, 551
De terça a sexta, das 9h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 21h
Até 20 de dezembro de 2015
A Galeria Lunara da Usina do Gasômetro apresenta a exposição Superfície de experiência, de Manoela Furtado e James Zortéa. O sofá desgastado, o barco enferrujado encalhado na margem do Guaíba,as treliças da ponte ferroviária, o pensamento gráfico atua em qualquer lugar. Ora elabora estratégias para captura de imagens, ora investiga as camadas da textura na imagem. A exposição Superfície de Experiência apresenta os registros em foto-performance criados por Manoela Furtado e James Zortéa. A partir do pensamento gráfico da colagem, Manoela determina uma relação do corpo com o espaço, objetos e materiais, enquanto James delimita o quadro na intersecção entre o desenho e a fotografia. O trabalho provém do esforço do corpo em ocupar a paisagem a partir de ações que exploram o peso, a imperfeição e o rastro do gesto. Cada imagem se constrói na medida em que há um confronto com o meio e a certeza de que ele nunca é neutro, pois determina a interação entre punho e olhos,
Contíguo
Na Galeria Ecarta, Av. João Pessoa, 943, Porto Alegre
Até 24 de janeiro de 2016, de terça a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 20h; e domingo, das 10h às 18h
Em sua última exposição do ano, a Galeria Ecarta recebe um projeto de residência e curadoria da Galería Metropolitana, espaço de atuação independente em Santiago, no Chile, há 17 anos. Contíguo, das artistas Claudia Lee, Francisca Montes, é a adaptação de um projeto que mapeou o Parque André Jarlan, comuna de Pedro Aguirre Cerda, visando a reconexão entre arte e comunidade, a partir de um exercício contextual de ativação da memória. Utilizando fotografia, vídeo, escultura e instalação para exibir o resultado de uma série de operações acerca de um determinado entorno, Contíguo se fundamenta na produção de obras que tornam visíveis modificações ou transformações territoriais na cidade. As artistas têm em comum uma linguagem visual que as permite elaborar em conjunto uma poética do periférico, a partir de jogos operacionais visuais ou textuais que discutem os espaços enquanto territórios ativos.
Filmes e Vídeos de Artistas na Coleção Itaú Cultural
Na Fundação Iberê Camargo, Av. Padre Cacique, 2000
De terça a domingo, das 12h às 19h, até 21/2/2016
Obras audiovisuais que exploram e ampliam a linguagem do cinema e do vídeo são o foco da exposição Filmes e Vídeos de Artistas na Coleção Itaú Cultural, que acontece na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, de 07 de novembro de 2015 a 21 de fevereiro de 2016. A mostra apresenta um recorte da produção brasileira dos últimos 50 anos. A curadoria de Roberto Moreira S. Cruz traça dois eixos principais: o histórico, que cobre destaques da década de 1970, com obras recuperadas e remasterizadas de artistas como Nelson Leirner, Letícia Parente e Regina Silveira; e o contemporâneo — a nova geração de artistas, incluindo Cao Guimarães, Rivane Neuenschwander, Thiago Rocha Pitta, Eder Santos, entre outros.
Flanando no Paradoxo (Felipe Mollé)
Centro Histórico-Cultural Santa Casa (Independência, 75)
Horário: 9h às 18h (3ª a sábados) / 14h às 18h (domingos e feriados)
Até 26/02/2016
Fruto de um inusitado projeto do fotógrafo Felipe Mollé. A partir das provocações recebidas durante as aulas, Felipe resolveu cruzar alguns corredores que normalmente são evitados pelas pessoas. Intrigado com o fato de que em outros lugares – como Buenos Aires, Paris, Viena, Washington -, abrigam cemitérios que estão incluídos nos roteiros turísticos, ele resolveu se aventurar e fotografar o Cemitério da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Fundado em 1850, o Cemitério da Santa Casa é o mais antigo em atividade no Rio Grande do Sul . Considerado um museu a céu aberto, o local guarda lembranças, fatos históricos e um vasto patrimônio artístico esculpido em pedra, mármore, bronze e ferro. O fotógrafo então atravessou os portões e andou por suas alamedas, iniciando uma viagem ao passado e registrando diversas figuras históricas ilustres.
A Paisagem: Vestígios, Desvios e outras Derivas
De 10/11 a 31/12/2015, de terças a domingos, das 9h às 19h e sábados, domingos e feriados, das 12h às 19h
Galerias Sotero Cosme e Xico Stockinger – 6º andar da Casa de Cultura Mario Quintana/CCMQ (Andradas, 736)
Com mais de 50 obras do seu acervo e de coleções de artistas, as obras desta exposição foram escolhidas para simbolizar um conceito peculiar, e mesmo elas sendo de estilos diferentes no contexto museológico ampliam o seu potencial de significado. A paisagem que ora se apresenta descritiva, ora metafórica, pode ser também emblemática e simbólica nas obras desta exposição. Essas obras reunidas criam possibilidades de leituras intercambiáveis, provocadas pela disposição e pelo grau de complexidade de cada uma. A chave para essa leitura está no percurso escolhido por cada observador e no modo como colocará a sua imaginação a uma disposição aberta da sensibilidade.
O acervo foi investigado com a intenção de colocar ao lado das obras, cujas historicidades tratam especificamente do ponto em questão, aquelas que, de alguma maneira, trouxessem novas perspectivas e criassem um ambiente favorável a diálogos e/ou aproximações para juntas construírem novos sentidos, uma vez que, as escolhas interpretativas estão diretamente relacionadas ao percurso do visitante. Mas como representar a paisagem em pleno século XXI?
Iberê e Seu Ateliê: as coisas, as pessoas e os lugares
Fundação Iberê Camargo, Av. Padre Cacique, 2000
Das 12h às 19h (de 3ª a domingo) e das 12h às 21h (5ª feiras)
Até 02/04/2016
A Fundação Iberê Camargo (Padre Cacique, 2000) recebe, por um ano, a exposição “Iberê e seu ateliê: as coisas, as pessoas e os lugares”, que traz uma visão mais abrangente sobre o artista. Com entrada gratuita, a visitação acontece das 12h às 21h, nas quintas-feiras, e das 12h às 19h de terça a domingo. A mostra tem como tema a poética de Iberê Camargo, o universo mental e material que concretiza a sua obra. As 146 obras em exposição apresentam os três gêneros trabalhados ao longo de sua carreira – a paisagem, a natureza-morta e a figura humana -, demonstrados em um recorte cronológico, que vai do início, ainda nos anos 40, à consolidação nos anos 60 e à culminação dos anos 70 em diante. O objetivo é possibilitar ao público da Fundação Iberê Camargo uma visão abrangente da obra do artista, por meio de uma mostra linear buscando uma visão do todo de sua carreira. A base para a organização da exposição está fundada em três eixos: a poética, isto é, o universo mental e material de concretização da obra, o temperamento do artista, não o do homem, pois prescindiremos da biografia e, finalmente, a execução, isto é, os caminhos trilhados em busca dos resultados.
Teatro
Irmãos de Sangue
No Theatro São Pedro, Praça da Matriz, s/n
19 e 20 de dezembro. Sábado, às 20h. Domingo, às 18h
Peça vencedora do Prêmio Shell, Irmãos de sangue retoma o tema da família que esteve presente nos dois trabalhos anteriores: Saudade em terras d’água (Prêmio do público no Festival de Avignon, em 2005) e Fragmentos do desejo (Prêmio Shell 2010 na categoria “Especial”). Em cena, André Curti e Artur Luanda Ribeiro conduzem uma coreografia gestual precisa ao lado dos atores Raquel Iantas e Daniel Leuback. Em uma atmosfera onírica, a peça investiga os laços fraternos e os conflitos que marcam a convivência familiar. A história se passa no centro das relações entre três irmãos e sua mãe, alternando momentos entre o passado e o presente.
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