Guia21 recomenda O Jovem Karl Marx, Lou, e o Porto Verão Alegre

Milton Ribeiro

Dois filmes baseados em grandes personagens históricos — Karl Marx e Lou Andreas-Salomé — são os destaques dentre as estreias. Mas, se você não frequentou muito os cinemas no segundo semestre de 2018, há uma penca de boas continuações  e retornos de filmes, tanto que nossa lista de sugestões é muito longa hoje.

E, bem, há toda a programação do Porto Verão Alegre para o fim de semana. Colocamos toda ela neste recomenda.

Abaixo, maiores detalhes de tudo isso e muito mais.

Este pequeno Guia é um resumo. Não se trata de uma programação completa, mas de recomendações dos melhores espetáculos que assistimos. O critério é a qualidade. Se você tiver sugestões sobre o formato e conteúdo de nosso guia, por favor, comente. Boa semana! De segunda a sexta, atualizamos nosso Guia21 com a programação do que acontece em POA.

Cinema – Estreias

O Jovem Karl Marx (****)
(Le Jeune Karl Marx), de Raoul Peck, França / Alemanha / Bélgica, 2016, 118 min


Aos 26 anos, Karl Marx embarca com a mulher, Jenny, para o exílio. Em Paris, eles conhecem Friedrich Engels, filho do dono de uma fábrica que estudou o nascimento do proletariado inglês. Engels traz a Marx a peça que faltava para o quebra-cabeça de sua visão de mundo. Seja na esfera documental ou na ficcional, o cinema do haitiano Raoul Peck se notabiliza pelo teor político e de investigação histórica, característica dominante em trabalhos como Lumumba (2000), uma dramatização da trajetória do líder anticolonialista congolês Patrice Lumumba, e Eu Não Sou Seu Negro (2016), documentário indicado ao Oscar que traça um panorama dos conflitos raciais nos Estados Unidos do século XX tendo como base os textos do escritor James Baldwin. Em O Jovem Karl Marx, Peck direciona sua lente biográfica a uma das figuras políticas mais notáveis e debatidas de todos os tempos, apresentando um recorte de sete anos da vida do filósofo e sociólogo alemão (vivido por August Diehl) que parte de seu exílio na França, aos 26 anos de idade, até a criação do Manifesto Comunista. (Com o Papo de Cinema).


No Guion Center 1, às 16h45
No Guion Center 2, às 21h20
No Espaço Itaú 6, às 16h20 e 21h40

Lou (***)
(Lou Andreas-Salomé), de Cordula Kablitz-Post, Alemanha / Suíça / Áustria / Itália, 2016 113 min


Desde muito pequena, Louise von Salomé demonstrou dificuldades para entender por que homens eram tratados com tanta discrepância em relação às mulheres. Essa rebeldia infante, com ares mais que de travessura natural, é contada pela própria Lou (Nicole Heesters), já aos 72 anos e com uma saúde bastante debilitada, ao homem que, em princípio, chega à procura de sua expertise psicanalítica abafada pela ascensão de Hitler. A cineasta Cordula Kablitz-Post se preocupa claramente com as filigranas, mostrando ao largo a marcha dos alemães rumo à Guerra e a decorrente perseguição a todo tipo de literatura, ciência e/ou campo do saber associado (arbitrariamente) aos judeus. Então, esse verdadeiro ícone trata as inquietações psicológicas do escritor desempregado que relata, maquiando sua história como se de um amigo próximo, as dificuldades conjugais e o bloqueio criativo, determinantes ao seu fracasso, fazendo dele biógrafo. Portanto, o que vemos em Lou são versões comprometidas do real. (Com o Papo de Cinema).


No Guion Center 2, às 15h, 17h10 e 19h15
No Guion Center 3. às 21h15

Cinema – Em cartaz

The Square — A Arte da Discórdia (*****)
(The Square), de Ruben Östlund, Suécia / Alemanha / Dinamarca / França, 2017, 142 min


Além de receber a Palma de Ouro em Cannes, The Square — A Arte da Discórdia, recebeu os prêmios de Melhor Filme, Melhor Realizador (Ruben Östlund), Melhor Comédia, Melhor Ator (Claes Bang), Melhor Argumento (Ruben Östlund) e Melhor Direcção de Arte (Josefin Åsberg) da Academia Europeia de Cinema. Christian é o respeitado curador de um museu de arte contemporânea. Homem divorciado e bom pai, é uma pessoa que dirige um carro elétrico e apoia boas causas. A sua próxima exposição, “O Quadrado”, é uma instalação que pretende evocar o altruísmo em quem a vê, recordando nosso papel enquanto seres humanos responsáveis pelos nossos semelhantes. Mas às vezes é difícil viver à altura dos nossos ideais: a resposta incauta de Christian ao roubo do seu telefone vai conduzi-lo a situações das quais ele se envergonha. Além disso, uma desastrada campanha de marketing feita pelo museu vai afrontar o senso comum e o bom gosto. O filme faz uma incursão às pessoas de bom senso, politicamente corretas, quando empurradas para fora do seu quadrado, expondo as rachaduras de um mundo indiferente e comprometido apenas com sua própria lógica e ego.


No Guion Center 1, às 14h15 e 20h45
No Espaço Itaú 8, às 16h

Viva — A vida é uma festa (****)
(Coco), de Lee Unkrich e Adrian Molina, EUA, 2017, 105 min


Miguel sonha em se tornar um grande músico, assim como seu ídolo, Ernesto de la Cruz. Isso apesar da música ter sido banida há gerações em sua família. Desesperado para provar o seu talento, o garoto se vê na deslumbrante e pitoresca Terra dos Mortos seguindo uma misteriosa sequência de eventos. Ao longo do caminho, ele conhece o encantador trapaceiro Hector, e juntos partem em uma jornada extraordinária para descobrir a verdade por trás da história da família de Miguel. Para começo de conversa, é bastante relevante, além de emblemático nesta Era Donald Trump de intolerância e xenofobia, Viva: A Vida é uma Festa ser não apenas protagonizado por um mexicano, mas se passar no México e se valer da cultura do país para consolidar preceitos como o valor da família. Miguel é um dos mais novos da linhagem Rivera de sapateiros, destino selado por um infortúnio do passado, pois sua tataravó, abandonada pelo marido cantor e compositor, que almejava carreira de sucesso, precisou aprender uma profissão para sobreviver. Como efeito, a já falecida senhora amaldiçoou a música, passando a ojeriza adiante como se herança sanguínea. Acontece que o menino acalenta secretamente o desejo, justo, de fazer sucesso tocando violão e soltando a voz por aí, como os mariachis dos quais engraxa os calçados antes das apresentações na praça. Portanto, o problema, logo posto, é essa necessidade de romper com os seus para ser feliz. (Com o Papo de Cinema).


CÓPIA IMAX DUBLADA
No Cinespaço Wallig 8, às 13h30
CÓPIAS DUBLADAS
No Cine Victória 2, às 13h30, 15h40, 17h50 e 20h
No Cinemark Barra 3, às 14h, 16h30, 19h e 21h30
No Cinemark Ipiranga 2, às 12h30, 15h, 17h40 e 20h30
No Cinespaço Wallig 1, às 14h, 16h10, 18h20 e 20h30
No Espaço Itaú 7, às 13h20, 15h30, 17h40 e 19h50
CÓPIA LEGENDADA
No Espaço Itaú 7, às 22h

120 Batimentos por Minuto (****)
(120 battements par minute), de Robin Campillo, França, 2017, 143 min


França, início dos anos 1990. O grupo ativista Act Up está intensificando seus esforços para que a sociedade reconheça a importância da prevenção e do tratamento em relação a AIDS, que mata cada vez mais há uma década. Recém-chegado ao grupo, Nathan logo fica impressionado com a dedicação de Sean junto ao grupo, apesar de seu estado de saúde delicado. Estrelado por Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois e Adèle Haenel, 120 Batimentos Por Minuto (2018) tem direção de Robin Campillo (Meninos do Oriente, 2013). A obra foi premiada com os troféus Queer Palm, FIPRESCI, François Chalais e Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2017. Além disso, foi exibida nos festivais de Rio, Hamburgo e San Sebastián.


No GNC Moinhos 1, às 16h40

Roda Gigante (****)
(Wonder Wheel), de Woody Allen, EUA, 2017, 102 min


Mais para Blue Jasmine do que para as leves comédias que fez mais recentemente, Roda Gigante traz Woody Allen de volta ao universo dos grandes filmes. As vidas de quatro personagens cruzam-se entre a agitação do Parque de Diversões de Coney Island, na década de 50: Ginny (Kate Winslet), ex-atriz emocionalmente instável, que agora trabalha como empregada de mesa; Humpty (Jim Belushi), o severo marido de Ginny, operador de carrossel; Mickey (Justin Timberlake), um jovem e bonito nadador-salvador que sonha ser dramaturgo; e Carolina (Juno Temple), a filha de Humpty que reaparece para se esconder de gangsters no apartamento do pai. A roda de amores começa a girar. É um melodrama muito bem feito. Ambientado na década de 50, parece um filme de 60a nos de idade. Trata-se de uma das produções tecnicamente mais bem acabadas de Woody Allen. E nem um pouco banal. Grande atuação de Kate Winslet.


No Guion Center 3, às 13h45 e 19h25
No Espaço Itaú 2, às 13h30, 17h40, 19h50 e 22h
No GNC Moinhos 2, às 13h20, 15h30, 17h40, 19h50 e 22h

Assim é a vida (****)
(Le Sens de la fête), de Eric Toledano e Olivier Nakache, França, 2017, 116 min


Excelente comédia! Max, um organizador de eventos por trinta anos, está prestes a realizar um grande casamento, e acredita que tudo irá correr como o planejado. A equipe da festa, que será em um imponente castelo do século XVII, já foi selecionada por ele em ocasiões anteriores: garçons, cozinheiros, fotógrafo e músicos. Mas o que não imaginava era que, em uma noite repleta de emoções, algumas coisas sairiam do controle.


No Guion Center 3, às 17h20

Lucky (****)
(Lucky), de John Carroll Lynch, EUA, 2017, 88 min


Um filme extraordinário realizado em torno da lendária figura de Harry Dean Stanton, de 91 anos. O tema é o fim, a morte e o medo de um velho ateu sozinho, mas não solitário. Veterano de mais de 60 anos de filmes memoráveis — o filme onde ele chegou mais próximo de ser protagonista talvez tenha sido Paris, Texas, de Wim Wenders –, Stanton finalmente ganha um papel digno de suas qualidades. Lucky vive numa casa afastada em uma cidade do Arizona. Toda gente o conhece. Ele segue uma rigorosa rotina diária: faz exercícios ao acordar, bebe um copo de leite gelado, vai à cidade, faz palavras cruzadas numa lanchonete, toma seu álcool e vai jogar conversa fora num bar à noite com amigos. Uma manhã, depois do seu amigo Howard (o cineasta David Lynch, aqui como ator) ter comunicado a fuga de seu cágado de estimação, Lucky cai sozinho em casa. Vai ao médico e este lhe diz que ele não tem doença nenhuma e que não vale a pena nem parar de fumar. Está velho e, aos 91 anos, tanto faz. Lucky entende tudo: a queda é o primeiro aviso de que irá morrer logo. Com humor cáustico e seco, Carroll Lynch constrói uma história da melhor poesia.


Na Sala Paulo Amorim, às 15h30

Com Amor, Van Gogh (*****)
(Loving Vincent), de Dorota Kobiela e Hugh Welchman, Reino Unido / Polônia, 2017, 95 min


A trama da animação britânica e polonesa se baseia nas mais de 800 cartas escritas pelo próprio Vincent Van Gogh. Depois que as cenas foram filmadas, 85 pintores recriaram os 62.450 frames em formas de pinturas individuais a óleo. Para cada segundo do longa são necessárias nada menos do que 12 pinturas para que a montagem possa ser feita. Ao todo, foram necessários 860 quadros pintados, além de terem sido realizados 1.026 desenhos. Trata-se e uma investigação aprofundada sobre a vida e a misteriosa morte de Vincent Van Gogh através das suas pinturas e dos personagens que habitam suas telas. Animado com a técnica de pintura a óleo do pintor holandês, os personagens mais próximos são entrevistados e há reconstruções dos acontecimentos que precederam sua morte. É o primeiro longa-metragem feito totalmente em óleo sobre tela. A história: 1891. Um ano após o suicídio de Vincent Van Gogh, Armand Roulin encontra uma carta por ele enviada ao irmão Theo, que jamais chegou ao seu destino. Após conversar com o pai, carteiro que era amigo pessoal de Van Gogh, Armand é incentivado a entregar ele mesmo a correspondência. Desta forma, ele parte para a cidade francesa de Arles na esperança de encontrar algum contato com a família do pintor falecido. Lá, inicia uma investigação junto às pessoas que conheceram Van Gogh, no intuito de decifrar se ele realmente se matou. (Com o AdoroCinema).


No Guion Center 1, às 19h
No Guion Center 3, às 15h35

Jovem Mulher (***)
(Jeune Femme), de Léonor Serraille, França / Bélgica, 2017, 97 min


Paula decidiu seguir seu companheiro até Paris, após longa ausência. No local, ela acaba sendo deixada por ele após 10 anos de relacionamento. Apesar de tudo, não é uma mulher melancólica e nostálgica. Por isso decide permanecer nesta cidade desconhecida e ser engolida por ela, aproveitar tudo que for possível. Mas sua solidão e encontros fugazes acabam fazendo-a repensar as certezas que possuía.


Na Cinemateca Capitólio, às 15h30

Lumière! A Aventura Começa (****)
(Lumière ! L’aventure commence), de Thierry Frémaux, França, 2017, 90 min


Lumière! A Aventura Começa é um mergulho na história dos irmãos franceses que inventaram o cinema, é uma bela viagem ao universo dos fundadores do cinema, os irmãos Louis e Auguste Lumière. São imagens sensacionais e um olhar único da França e do mundo do início da Era Moderna através de 114 breves filmes — eles fizeram quase 1500 — dos irmãos franceses que foram restaurados em 4K e montados para celebrar o legado dos Lumière. Dentro dos filmetes de cinquenta segundos de duração dirigidos pelos Lumière – em especial por Louis – é possível notar, como bem aponta Frémaux, um apurado senso estético, uma preocupação com o posicionamento ideal da câmera, que vai em sentido contrário à percepção errônea de muitos sobre o cinema da dupla ser constituído de registros aleatórios da realidade que os cercava. Ao longo do documentário, Frémaux prova justamente o oposto, expondo como os filmes de Louis e Auguste, que trafegam entre o documental e o ficcional, refletiam sua a visão particular sobre essa realidade – moldada pela composição dos quadros, pela exploração da profundidade de campo, do movimento dos elementos filmados, etc. (Com o Papo de Cinema).


Na Sala Eduardo Hirtz, às 19h

O Outro Lado da Esperança (****)
(Toivon tuolla puolen), de Aki Kaurismäki, Finlândia / Alemanha, 2017, 100 min

Cena de O Outro Lado da Esperança

Helsinki. Os destinos de Wikhström, um cinquentão que decide mudar de vida, abandonando a esposa alcoólatra e seu emprego para abrir um restaurante, se cruzam com Khaled, um jovem refugiado sírio que tem seu visto negado ao chegar na cidade. Tocado pela história do jovem imigrante, Wikhström decide escondê-lo em seu restaurante.


Na Sala Norbeto Lubisco, às 19h15

Verão 1993 (****)
(Estiu 1993), de Carla Simón, Espanha, 2017, 97 min


Espanha, verão de 1993. Após a morte da mãe, a menina Frida, de seis anos de idade, se muda de Barcelona para o interior da região da Catalunha a fim de viver com os tios, agora seus responsáveis legais. Antes do verão acabar, a garota terá que aprender a lidar com suas emoções e se adaptar à nova vida. O roteiro de Verão 1993 é uma visão muito sensível e naturalista do processo pelo qual uma criança precisa quando se depara com uma perda irreparável. E não poderia ser de outra forma, visto que a cineasta Carla Simón foi buscar em suas próprias memórias a experiência de perder os pais em tenra idade. Dito isso, o longa-metragem da cineasta estreante exala sentimentos muito pessoais, verdadeiros, não caindo na armadilha de construir um passado idílico, muito romanceado. Talvez por essa verossimilhança, atrelada ao bom elenco, o filme tenha chamado tanto a atenção no Festival de Berlim, de onde saiu com dois importantes louros: Melhor Filme de Cineasta Estreante e o Grande Prêmio do Júri na mostra Generation Kplus. Além disso, está na lista dos melhores estrangeiros pinçados pela tradicional National Board of Review, além de ter sido escolhido pela Espanha como seu representante no Oscar 2018. (Com o Papo de Cinema).


Na Sala Eduardo Hirtz, às 15h

Thelma (****)
de Joachim Trier, Noruega/França/Dinamarca/Suécia, 2017, 116 min


​Thelma é uma jovem tímida que acaba de deixar a casa dos pais para estudar em Oslo, onde vive seu primeiro amor. Mas seu relacionamento é logo afetado pela intromissão opressiva de sua família, as crenças religiosas fundamentalistas de seus pais e habilidade única que exercem em afetar a vida da garota. Mas há mais coisas perseguindo Thelma (Eili Harboe). Quando a estudante entra na universidade de biologia, os pássaros no céu parecem segui-la. As cobras também. Os pais religiosos acompanham seus passos, fazem com que ela confesse qualquer deslize. Desde a magnífica cena inicial, percebemos que ela está em perigo. A câmera não para de espiá-la, à distância, em planos aéreos, remetendo ao olhar de uma figura divina, meio protetora e meio punitiva. Sabemos que algo grave está prestes a acontecer com a personagem – ou talvez já tenha acontecido. Aos poucos, descobrimos uma jovem cristã corroída pela culpa. Por um lado, a moral estimula que ela reprima todos os seus desejos, o que inclui a proibição de álcool, drogas e sexo.


Na Sala Eduardo Hirtz, às 16h50

Exposições

TERRAMAREAR, de Maristela Salvatori
Visitação de 20 de dezembro de 2017 a 11 de março de 2018
Terça a domingo, das 10h às 19h

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli convida para a exposição “TERRAMAREAR”, de Maristela Salvatori com curadoria da historiadora e crítica de arte Paula Ramos. A abertura é 19 de dezembro (terça) na Pinacoteca do MARGS. A mostra apresenta uma antologia da artista, reunindo obras produzidas ao longo dos últimos 30 anos de carreira. Entre os trabalhos mais recentes de Maristela Salvatori (Porto Alegre, RS, 1960), estão curiosas montagens fotográficas em impressão digital. Para os que acompanham a poética da artista, essas obras podem gerar surpresa. Afinal, Maristela é reconhecida por sua pesquisa calcada nos processos da gravura, sobretudo da gravura em metal, e o que temos são fotografias justapostas, formando uma estrutura de grade. Despretensiosos, esses trabalhos, desenvolvidos ao longo de 2012, apresentam temas e elementos que pautam a poética de Maristela, a saber: perspectivas acentuadas, fragmentos arquitetônicos, postes, luminárias e paredões evidenciando os cruzamentos de linhas e planos no espaço; eles também destacam as etapas de edição e de montagem, caras à artista, e são resultado de um processo de impressão, embora digital. Por fim, eles nos convidam a imaginar o que poderia estar no módulo em branco, invariavelmente centro das composições. A observação da obra da artista nos sugere que o branco das possibilidades, em sua posição nuclear, poderia estar reservado a uma imagem gravada; afinal, em trabalhos ligeiramente anteriores, Maristela fez o procedimento contrário: os módulos eram em monotipia e, em determinado ponto, inseriu uma imagem fotográfica, direcionando para a matriz de seu processo. Fotografia e gravura andam juntas na mostra Terramarear, antologia que apresenta cerca de 120 trabalhos desenvolvidos ao longo dos últimos 30 anos. Das gravuras em metal dos anos 1980, pautadas em fotografias de familiares e amigos em momentos de lazer no litoral; passando pela série Viagem de rio (1993), decorrente de um percurso de 10 dias, em uma chata, ao longo do Rio São Francisco; chegando às cenas de hangares, cais, construções monumentais, silenciosas e abandonadas em cidades visitadas pela artista. Num diálogo com a paisagem, natural ou construída, figuras humanas foram retiradas, ruídos urbanos, excluídos, permanecendo a arquitetura, com seus planos, linhas, levezas e pesos no espaço. Nesse processo, talvez tão importante quanto a viagem física, que possibilitou o registro fotográfico e, por extensão, a produção dessas obras, está a viagem interna, que abriu a Maristela novas possibilidades de pensar a representação do espaço, o lugar do observador – e, por consequência, dela mesma – e a própria técnica da gravura, com suas múltiplas possibilidades.

Foto: Margs

Exposição Jorge Aguiar 4.2 ̶ Uma vida na fotografia documental
De 8 de dezembro a 28 de janeiro de 2018, de terças a domingos, das 10h às 19h
Nas Salas Negras do MARGS

A exposição reúne imagens que correspondem a 10 documentários produzidos nos últimos 20 anos, totalizando 20 painéis que retratam o cotidiano de pessoas em situação de vulnerabilidade social. O fotógrafo explica que concebe seu trabalho ouvindo histórias de vida e observando com olhar atento o dia a dia nas periferias das cidades. Cada tema leva em média dois anos até ser finalizado. O trabalho vai amadurecendo conforme ele visita os locais, a cada 15 dias, conversando com as pessoas, absorvendo suas realidades e entrelaçando suas histórias. Somente após o longo período de reconhecimento e pesquisa é que começam os registros fotográficos. Um dos trabalhos que compõem a mostra intitulado “Manas Lisas da Periferia” é baseado na observação de mulheres das comunidades que estão assumindo sua negritude com orgulho. Assim, em contraponto ao quadro mais famoso do mundo, A Monalisa, o fotógrafo capta retratos de mulheres pobres, enquadradas por uma que ele coloca na frente delas.

Foto: Jorge Aguiar

Exposição PulsationsPulsações – Do arquivo vivo de Sérvulo Esmeraldo
De 28 de novembro de 2017 a 31 de março de 2018
De segunda a sexta, das 10h30 às 22h e sábados, das 10h30 às 20h
Na Galeria do Instituto Ling, na Rua João Caetano, 440

PulsationsPulsações – Do arquivo vivo de Sérvulo Esmeraldo, primeira exposição póstuma do artista cearense,falecido em fevereiro deste ano, pouco antes de completar 88 anos. A exposição mostra uma das trajetórias mais originais da arte brasileira: conhecido por seu rigor geométrico-construtivo, Esmeraldo incursionou pela escultura, a gravura, a ilustração e a pintura, tendo sido um dos pioneiros da arte cinética e autor de obras de geometria e luminosidade singulares. A mostra, com curadoria de Ricardo Resende, traz 84 peças – entre gravuras, matrizes, desenhos, estudos, relevos, maquetes, instalações, documentos e fotografias – que fazem parte do arquivo do IAC – Instituto de Arte Contemporânea (São Paulo/SP). PulsationsPulsações joga luz sobre o rico processo criativo do artista em seus primeiros anos na França, uma fase de aprendizado, de iniciação nas técnicas da gravura em metal e litografia. Contempla os desenhos e as gravuras em metal que compõem esse período europeu, sob a influência do abstracionismo lírico que vigorava na capital francesa naquele momento, que seria uma resposta à Action Painting nova-iorquina. É acompanhada, ainda, de uma seleção de esculturas e de duas pinturas posteriores a essa fase, quando explorou a topologia das coisas e formas.

Sérvulo Esmeraldo | Foto: Leonard De Selva

Exposições Diante do espelho, de Eduardo Vieira da Cunha,
e Prazer em Re conhecer com obras do acervo, na Galeria Duque
Rua Duque de Caxias, 649, de segunda a sexta das 10h às 19h e aos sábados das 10h às 17h
Término: 20 de janeiro de 2018

A exposição Diante do espelho, composta por 10 pinturas e 25 desenhos do artista plástico Eduardo Vieira da Cunha – a maior parte dos trabalhos foi produzida este ano. “Trata-se do resultado de uma pesquisa plástica na qual o imaginário do espelho aparece como uma procura pelo mistério da imagem”, revela ele. A Duque apresenta também obras de mestres do seu acervo. A curadora Daisy Viola faz um recorte com obras que, associadas, criam uma proposta de diálogo com o público, estimulando a reflexão. “Abre-se para um público mais amplo do que aquele que frequenta normalmente o espaço tradicional de uma galeria, a possibilidade de se (re) encontrar com obras de grandes mestres da historia da arte brasileira, e com o trabalho de artistas atuantes no cenário cultural da cidade e do país”, diz Daisy.

Divulgação Eduardo Vieira da Cunha / Galeria Duque

Teatro e Dança

19º Porto Verão Alegre
Programação deste fim de semana:

O segundo final de semana do Porto Verão Alegre, entre sexta e domingo, 12 a 14 de janeiro, continua com as últimas sessões de Homens de Perto Desgovernados e Causos do Guri no Teatro da AMRIGS, e O que terá acontecido com Baby Jane? no SESC, Projeto Lilith no Instituto Ling, Terça Insana no Theatro São Pedro, Deu Guru no Teatro de Arena e Se Meu Ponto G Falasse no Centro Histórico Cultural Santa Casa.

Causos do Guri

Datas: 7, 8, 14 e 15 de janeiro
Horário: 21h
Local: Teatro da AMRIGS, Av. Ipiranga, 5311

Sinopse:
Nos palcos, Jair Kobe apresenta um show com diversas novidades, novos causos, clipes ao vivo e as paródias de Guri Marley, Gurillage People e The Guritles, além da participação especial do gaúcho emo Licurgo, que agora toca bateria, anda de skate e dança chula! Assistido por mais de 2 milhões de espectadores ao vivo, o gaúcho diverte o público com seus incríveis causos e seu talento como cantor eclético, interpretando versões do famoso Canto Alegretense em diversas melodias. Neste espetáculo de comédia com censura livre para todas as idades, o Guri de Uruguaiana dança e conta causos hilários, como o do tempo em que era viciado em erva mate. É a tradição gaúcha contada de uma forma divertida!

Elenco: Guri de Uruguaiana: Jair Kobe e Licurgo “Gaúcho Emo”: Vitor Leal

Duração: 90 minutos
Classificação: Livre

Homens de Perto Desgovernados

Datas: 11,12 e 13 de janeiro
Horário: 21h
Local: Teatro da AMRIGS, Av. Ipiranga,5311

Sinopse:
Homens de Perto “Desgovernados” é a terceira incursão de Oscar Simch, Rogério Beretta e Zé Victor Castiel na sublime arte de fazer rir, utilizando elementos do Teatro de Revista. Desta vez o trio, sempre sob a batuta de Néstor Monastério e com textos de Artur José Pinto, dá ênfase à política nacional. O espetáculo traz cenas e músicas inéditas.

Duração: 90 minutos
Classificação: 14 anos

O que terá acontecido a Baby Jane?

Datas: 11, 12 e 13 de janeiro
Horário: 20h
Local: Teatro do SESC, Av. Alberto Bins, 665

Sinopse:
Inspirado no filme de 1962, dirigido por Robert Aldrich e baseado no livro homônimo de Henry Farrel, a trama traz à cena a terrível história das irmãs Hudson. Jane Hudson é uma artista que, quando criança, ficou famosa e conhecida como Baby Jane. Depois de um acidente, ela caiu no ostracismo e, já adulta, vive trancafiada na casa que divide com sua irmã Blanche. Destinada a voltar aos palcos, a atriz vai tentar retomar o personagem que a fez famosa, mesmo que para isso precise passar por cima de algumas pessoas bem próximas. Junto a isso, um grande mistério do passado, que envolve as irmãs Hudson, se torna cada vez mais presente e pode modificar o convívio de ambas. Este drama psicológico, com pitadas de humor, mostra justamente a rivalidade entre as duas irmãs. Jane foi, quando criança, um sucesso do vaudeville, despertando o ciúme da irmã Blanche. Quando adultas, o cenário se inverte, Blanche é uma estrela de cinema, enquanto Jane não consegue mais se destacar. A peça, portanto, é um brilhante exercício narrativo, cuidadoso na construção dos personagens, de suas relações e, consequentemente, na tensão que permeia toda a produção.

Duração: 60 minutos
Classificação: 12 anos

O que terá acontecido a Baby Jane | Foto: Alisson Aguiar

Projeto Lilith

Datas e Horários: 12 de janeiro às 20h e 13 de janeiro às 18h
Local: Instituto Ling, Rua João Caetano, 440/ Centro de Eventos

Sinopse:
Pixações em Corpos Histéricos é uma criação teatral, movida por questões que afligem um universo de opressões íntimas e sociais do feminino. As cenas se inventam a partir de uma investigação acerca da invisibilidade e naturalização de violências contra as mulheres. Reestruturando performances em ocupação de espaços públicos, investigadas anteriormente, agora para um espaço alternativo. Dando continuidade em experimentações de processos anteriores, o Coletivo Quântico dá voz às atrizes, usando-se de mitos da culpabilização da mulher, como Lilith e Pandora.

Duração: 60 minutos
Classificação: 17 anos

Terça Insana

Datas e Horários: 12 e 13 de janeiro às 21h e 14 de janeiro às 18h
Local: Theatro São Pedro, Praça Mal.Deodoro SN- Centro Histórico

Sinopse:
O Projeto Terça Insana criou um show especialmente para o Festival Porto Verão Alegre. As apresentações serão com Roberto Camargo, Agnes Zuliani e um convidado especial em uma sessão. E outras sessões com Grace Gianoukas, Agnes Zuliani e Roberto Camargo, mostrando clássicos e novidades do Projeto. O Projeto Terça Insana foi idealizado pela atriz e diretora Grace Gianoukas. Desde a estreia, em 2001, a Terça Insana se tornou um divisor de águas no cenário da comédia no Brasil. Levou aos palcos cerca de 480 espetáculos diferentes, repletos de personagens, cenas e textos originais, que hoje compõem um enorme repertório de criações.

Duração: 70 minutos
Classificação: 14 anos

Deu Guru

Datas: 12,13 e 14 de janeiro
Horário: 21h
Local: Teatro da Arena, Av. Borges de Medeiros 835

Sinopse:
A comédia teatral se passa no interior de um templo. Questões filosóficas, como vida após a morte, e cotidianas, como futebol, são tratadas de forma bem humorada durante o show. Nesse templo, o guru Zen Banho busca um substituto para o seu discípulo Bátcheman, que foi morto e era considerado um herói. Várias pessoas se candidatam à vaga. No decorrer do espetáculo, os pretendentes desfilam suas habilidades: um palestrante motivacional, um árbitro de futebol, um androide de fantasias sensuais e um centauro. Quem será o escolhido? Entre um candidato e outro, o guru apresenta a filosofia do templo e demonstra poderes, como telepatia. O próprio discípulo falecido reaparece, após ser invocado pelo guru.

Duração: 65 minutos
Classificação: 12 anos

Se Meu Ponto G Falasse

Datas: 12,13, 14 e 15 de janeiro
Horário: 21h

Local: Centro Histórico-Cultural Santa Casa, Av. Independência,75

Sinopse:
Uma das comédias de maior sucesso do teatro gaúcho completa 21 anos de estrada em 2018. Conta a trajetória de duas mulheres comuns que viveram as etapas obrigatórias da mulher do século XX. Sonharam com seus príncipes encantados, se decepcionaram com eles, viveram a dor da separação, a conquista da autoestima e do poder da sexualidade, conquistaram seu espaço no mercado de trabalho, através da descoberta de seus talentos, e desvendaram um mundo novo e cheio de possibilidades. Bia e Ana representam a mulher que se autoretrata depois de todos os avanços da revolução feminista e traça, com muito humor, muita autocrítica e uma pitada de autoajuda, o perfil da nova mulher.

Duração: 75 minutos
Classificação: 14 anos