Porto Alegre recebe entre os dias 7 e 16 de dezembro a Mostra de Cinemas Africanos, que será realizada na Cinemateca Capitólio Petrobras. Serão exibidos no evento 22 filmes, entre longas e curtas-metragens de ficção e documentário, produzidos a partir de 2011 em países como Sudão, África do Sul, Quênia, Nigéria, Senegal e Burkina Faso, além de obras dirigidas por cineastas de origem africana em diáspora, especialmente na França. Os ingressos custam R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia-entrada). A programação contará também com quatro debates em sessões comentadas por especialistas em cinema, África e temas afins à mostra. É uma chance rara de conhecer e discutir uma cinematografia vibrante e diversa em temáticas, paisagens e estéticas nessa que será a última mostra da Cinemateca Capitólio Petrobras em 2018.
A curadoria, assinada pela jornalista, produtora e pesquisadora Ana Camila Esteves (Brasil) e pela curadora e pesquisadora Beatriz Leal Riesco (Espanha/Estados Unidos), foi pensada como forma de proporcionar ao público brasileiro o acesso a filmes produzidos na África nos últimos cinco anos, bem como promover o contato com as estéticas e narrativas presentes numa cinematografia quase completamente desconhecida no país.
A abertura da Mostra de Cinemas Africanos em Porto Alegre será na sexta-feira, dia 07 de dezembro, às 20h, com o longa-metragem queniano “Supa Modo”, de Likarion Wainaina. O filme, inédito no Brasil, narra a história de Jo, uma garota de nove anos que tem uma doença terminal e é levada de volta à sua vila rural de origem para viver seus últimos dias. O único conforto nesse momento difícil é sonhar em ser uma super-heroína. Fugindo dos clichês de “filme de doentes terminais”, “Supa Modo” comove pela doçura, humor e simplicidade de uma história para todas as idades. Estreou no Festival de Berlim 2018 e desde então tem sido exibido em diversos eventos pelo mundo. O longa foi escolhido para representar o Quênia na disputa pela indicação de melhor filme estrangeiro no Oscar 2019.
A mostra também traz em primeira mão a Porto Alegre o longa-metragem queniano “Rafiki”, da diretora Wanuri Kahiu, que se tornou um dos filmes mais importantes do ano no circuito internacional de festivais, após a exibição em Cannes. O longa mostra uma história de amor entre duas meninas e foi banido no Quênia, país onde a homossexualidade é proibida por lei. Um detalhe importante sobre a curadoria é que mais da metade dos filmes que integram a programação foi dirigida por cineastas mulheres e as obras permitem discutir temáticas voltadas ao feminino, como sexualidade lésbica negra, representatividade feminina negra e os conflitos entre tradição e modernidade na África contemporânea.
A Mostra de Cinemas Africanos tem parceria com o Instituto Francês, o New York African Film Festival (NYAFF, que em 2018 completou 25 anos), o FESTiFRANCE e o Wallay – Barcelona African Film Festival, além da Cinemateca Francesa e do Instituto Francês. A realização é da empresa produtora Ana Camila Comunicação & Cultura, com apoio da Secretaria da Cultura de Porto Alegre, através da Cinemateca Capitólio Petrobras. O evento tem duas edições no Brasil: em novembro, a mostra aconteceu em Salvador. A produção local da edição de Porto Alegre é da jornalista, pesquisadora e professora universitária Gabriela Almeida.
Eixos Curatoriais
Se o acesso aos clássicos do cinema africano é pequeno e recente, o mesmo ocorre com a produção contemporânea do continente, que vem se destacando pela singularidade de suas tramas, seus formatos, o alcance de suas mensagens e os trânsitos e a fluidez entre os gêneros narrativos, enquanto se afirma em termos autorais de forma autônoma. Os títulos escolhidos pelas curadoras para compor a mostra dão especial destaque a três eixos temáticos-narrativos:
O feminino: a produção feita por mulheres no continente africano é destaque na programação, com os longas “Rafiki” (Quênia, 2018, de Wanuri Kahiu), “Solte a voz” (França, 2018, de Amandine Gay) e “M de menino” (Nigéria, 2013, de Chika Anadu). Não só dirigidos por mulheres, mas que trazem à tona os dilemas da mulher negra na sociedade contemporânea, uma aproximação importantíssima entre África e Brasil.
Universo da infância: longe de ser filmes para crianças, a curadoria selecionou filmes que tratam do universo infantil a partir de um olhar de cuidado e muita sensibilidade para as angústias e tropeços da vida de crianças negras na África e na diáspora. “Supa Modo” (Quênia, 2018, de Likarion Wainaina) e “Wallay” (Burkina Faso, 2017, de Berni Goldblat) são os longas que representam este eixo, enquanto uma sessão de curtas curada em parceria com o New York African Film Festival, com obras do Senegal, Burkina Faso e Quênia, se desdobra em sensíveis abordagens da infância.
Ativismo e micropolíticas: ainda que os dois eixos acima possam ser considerados micropolíticos em seus ativismos, a curadoria selecionou alguns títulos que mostram ao público brasileiro como os africanos lidam em seu cotidiano com situações de vulnerabilidade. Longas como “Vaya” (África do Sul, 2016, de Akin Omotoso) e “No ritmo do Antonov” (Sudão, 2014, de hajooj kuka) apresentam narrativas realistas sobre seus respectivos países, além de outros curtas e longas que oferecem um panorama dos dilemas contemporâneos da vida em diferentes regiões do continente.
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