Da Redação
“Escuta bem, vou repetir no teu ouvido, muitas vezes: a única coisa que posso fazer é escrever”, afirma Caio Fernando Abreu em crônica publicada no jornal O Estado de S. Paulo, em 1994, época em que descobriu ser portador do vírus HIV. O escritor gaúcho, considerado um dos grandes nomes da literatura brasileira, completaria 70 anos nesta quarta-feira (12).
Nascido em Santiago, no interior do Rio Grande do Sul, Caio F. desempenhou diferentes papéis dentro da literatura: foi contista, dramaturgo, cronista, colunista, romancista, além de atuar como jornalista em diversas publicações do país. Vencedor de três prêmios Jabuti, publicou obras como Limite Branco (1970), primeiro romance do escritor, Inventário do irremediável (1970), Ovelhas Negras (1974), O Ovo Apunhalado (1975), Morangos Mofados (1982) e Pequenas Epifanias (1986).
Em seus livros e textos, Caio F. falava sobre temas que em geral eram pouco abordados na época em que viveu. Em um Brasil marcado pela censura, o escritor criticou a ditadura militar e chegou a ser perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), em 1968. Caio também trouxe a temática LGBT para dentro de sua escrita e falou abertamente sobre o vírus da AIDS, assuntos que ainda eram tabus na literatura e na sociedade brasileira. O medo da doença era presente nos textos do escritor: “Heteros ou Homos (?) a médio prazo iremos todos enlouquecer, se passarmos a ver no outro uma possibilidade de morte. Tem muita gente contaminada pela mais grave manifestação do vírus – a aids psicológica. Do corpo, você sabe, tomados certos cuidados, o vírus pode ser mantido a distancia. E da mente?”
O autor também falava sobre amor, solidão, alegria, esperança, desigualdades sociais e sobre as cidades onde viveu, como Porto Alegre, São Paulo, Londres. Abordava relacionamentos, lutas diárias, sonhos, medo, morte, drogas e sexo. Nos últimos anos, o escritor passou a ganhar grande atenção do público jovem, principalmente por meio das redes sociais. No Facebook e no Twitter existem diversas páginas e perfis dedicados a frases de Caio.
Neste ano que marca o 70º aniversário do escritor e 28 anos de seu falecimento, a Companhia das Letras lançou o livro ‘Contos Completos’, uma reunião de contos publicados entre 1970 e 1990. A obra traz dez contos avulsos, além dos livros ‘Inventário do ir-remediável’, O ovo apunhalado, Pedras de Calcutá, Morangos mofados, Os dragões não conhecem o paraíso e Ovelhas negras.
Também em homenagem ao escritor, o Google lançou nesta quarta-feira (12) um Doodle interativo que redireciona para links de notícias, informações e imagens de Caio F.
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