Vai ser no tradicional Bar Ocidente a celebração de encerramento da turnê do álbum The Power of Love de Luciano Leães. Acompanhado dos The Big Chiefs, o pianista apresenta canções de seu primeiro disco – que dá nome à turnê – no dia 15 de março, às 22h, no projeto Ocidente Acústico. Além de seu trabalho autoral, Leães leva ao público um repertório com grandes clássicos do blues, R&B e New Orleans Piano.
Com casa lotada, The Power of Love foi lançado em dezembro de 2015 no Centro Histórico-Cultural Santa Casa. Desde então, foram realizados cerca de 100 shows, dezenas de cidades foram percorridas no Brasil e no exterior, tocou em locais renomados como o Antone’s em Austin e o Buddy Guy’s Legends em Chicago, canções foram executadas em renomadas rádios norte-americanas como a WWOZ de New Orleans e a 88.1 KDHX de St. Louis, mais um Prêmio Açorianos foi colocado na estante e muita vivência para acrescentar a seus próximos trabalhos. Somente em 2017, Leães realizou três turnês nos Estados Unidos e uma na Argentina, consolidando a relevância de seu trabalho além do território nacional. Acompanhou a cantora Annika Chambers – indicada ao Blues Music Awards – em shows no Focsani Blues Festival, na Romênia, e no Lucerne Blues Festival, na Suíça. Também participou de festivais nacionais como Ilhabela Folk & Blues Fest, Festival de Blues de Ribeirão Preto, Festival Blues de Londrina e Maringá Midnight Hour Jazz & Blues.
Para o segundo semestre deste ano, Leães projeta o lançamento de um single. Em seguida, entra em estúdio para dar vida ao seu segundo disco, ainda sem data prevista para finalização. O novo trabalho deve seguir bebendo da mesma fonte do blues, R&B e New Orleans piano. Porém somando elementos que foram assimilados na turnê do primeiro disco. Os lugares, pessoas e sonoridades com que Leães teve contato somaram-se à história e à concepção do músico, originando novas inspirações que certamente vão refletir neste novo momento musical. Se o primeiro disco foi um apanhado geral dos primeiros 15 anos de Leães como músico, o próximo álbum provavelmente vai ser uma continuidade desta história, porém enriquecida com muitas experiências sonoras, visuais e sensoriais que o primeiro trabalho rendeu. É quase como abrir um baú cheio de objetos e fotos de uma viagem de mais de dois anos e tentar organizá-los, adicionando ainda tudo que ficou em casa e que também faz parte dessa história.
Considerado um dos principais pianistas do país, Leães foi vencedor por duas vezes do Prêmio Açorianos de Música na categoria de melhor instrumentista pop. É responsável e curador do projeto Clube do Blues, que insere o Rio Grande do Sul na rota de shows de blues nacionais e internacionais. Abriu o show de Elton John em Porto Alegre tendo sido selecionado pela produção do músico inglês. É integrante da Black Soul, banda que acompanha Fernando Noronha, e também tem seu trabalho solo ao lado dos Big Chiefs. Carey Bell, Magic Slim, Hubert Summlin, Larry McCray e John Primer são alguns dos grandes nomes com quem Luciano Leães já dividiu o palco.
::: SERVIÇO:
Sobre The Power of Love, por Marcio Grings
Com The Power of Love, álbum de estreia, Luciano Leães afirma-se como protagonista no cenário do blues nacional. Já ouvi muitos discos atestados com selo de qualidade soando ilegítimos como uma fraude. Pense numa garrafa de bourbon cheia de chá preto… Não serve pra nada. A cor até engana a torcida, mas quando a luz bate no vidro ou o sabor é colocado à prova, não resta dúvidas.
No entanto, grande parte da humanidade necessita apenas de rótulos bonitos. Não é o caso de “The Power of Love”, disco de estreia do pianista gaúcho Luciano Leães, pois nos basta apenas um breve vislumbre, para termos a certeza de que o conteúdo faz jus a embalagem.
“Gosto de imaginar que o mundo todo é uma coisa só”, diz o músico. Afinal, o blues do século XXI é uma pátria sem bandeira. Tentar cerceá-lo ou limitá-lo a um território específico é tão inútil quanto colocar arame farpado numa fronteira invisível.
Buddy Guy sabiamente nos relembra: “Não é necessário ser negro ou branco para fazer blues”. E nem ter nascido no sul dos Estados Unidos…
Depois de duas décadas gravando ou se apresentando como sideman de diversos nomes de peso da música nacional e internacional, Leães desvela seu primeiro trabalho autoral. E todas as onze canções do álbum são assinadas por ele. A première é no próximo dia 3 de dezembro, no Centro Histórico-Cultural Santa Casa, em Porto Alegre, quando Leães tocará ao lado dos Big Chiefs, mesma banda que o acompanha no álbum: Edu Meirelles (baixo); Alexandre Loureiro (bateria) e Gabriel Guedes (guitarra).
COLABORAÇÕES DE PESO
Leães coproduziu “Power of Love” ao lado de Paulo Arcari (que também fez a mixagem), com finalização e masterização em Nashville, Tennessee (EUA), por Russ Ragsdale. O engenheiro de som e produtor norte-americano leva no currículo colaborações com Michael Jackson, Muddy Waters, Leon Russell, Edgar Winter, Travelling Wilburys, entre outros: “A dedicação e o comprometimento do Russ foram surpreendentes”, fala Luciano.
E Ragsdale não poupa elogios ao trabalho de estreia do bluesman brasileiro:
“Esse é um álbum que definitivamente as pessoas vão continuar falando nos próximos anos. A autoridade e o domínio de Leães nas teclas, o modo como expressa e busca as influências de seus artistas prediletos, abduz o passado para uma perspectiva atual. Ouvir as 11 canções de ‘The Power of Love’ é como cair no buraco do coelho de ‘Alice no País das Maravilhas’ e ter uma incrível experiência com imagens multissensoriais”, diz o produtor.
Entre as participações, Ron Levy, pianista e organista de B.B. King nos anos 1970; a guitarra do músico gaúcho Solon Fishbone; a atual sensação do blues tupiniquim, o guitarrista Igor Prado; a gaita de boca de Gaspo Harmônica; além dos norte-americanos Rex Gregory (Clarinete), Ben Polcer (trompete) e John Ramm (trombone), trio de sopros capitaneado por Matt Aguiluz, engenheiro de som da Preservation Hall, e proprietário do Marigny Studios, em Nova Orleans.
O ÉDEN DE LEÃES
“New Orleans sempre foi o paraíso pra mim e a maior influência na minha forma de tocar”, afirma o músico. Entre abril e maio de 2014, Leães fez um tour pela cidade. Por lá, passeou pelas mesmas vielas que alguns de seus heróis um dia gastaram a sola dos sapatos. Assistiu apresentações, sentiu o cheiro de mofo dos antigos papéis de parede nos quartos de hotel, apreciou a francesia decadente das casas e edificações, tocou na rua como se fosse um músico local, conheceu pessoas, se impregnou e imergiu de corpo e alma na cultura local. Sem pressa, teve suas epifanias e revelações.
E toda essa imersão pelo Éden do gênero, norteou parte do processo de composição e gravação de “The Power of Love”. “Esse disco não apenas representa o que sou agora, ele também revela boa parte da minha vida como músico”. E como estudioso do gênero, Luciano ainda buscou aperfeiçoamento na língua inglesa: “Não fiquei pirando em soar como um nativo dos Estados Unidos, mas achei importante ser bem entendido”. As pronúncias tiveram a afinação da professora norte-americana Maureen Turnbull Arbelo e da musicista Myla Hardie.
AULA DE PIANO BLUES
“Luciano é um pianista e organista que conhece como poucos a linguagem do blues e principalmente a sonoridade de New Orleans. Além do talento nato, ele ainda é um pesquisador incansável. O resultado disso não poderia ser outro: musica de altíssima qualidade”, disse Solon Fishbone, guitarrista em “The Best of Me”, uma das melhores faixas do disco, que também conta com o Hammond de Ron Levy.
“Aprendi a tocar piano ouvindo blues, então é quase impossível não sofrer influência e não utilizar esse influxo em qualquer tipo de música que eu faça”, nos avisa o protagonista. E apesar do disco contar com nomes de peso, quem realmente brilha durante a audição é o próprio Leães.
LIBERDADE MUSICAL
Faixas como o blues arrasa quarteirão ”Sinner, not a Saint” confirmam a sensação de revisitação ao passado. A mixagem também reforça a identidade com o vernáculo do gênero:”Utilizamos algumas trucagens velhacas de mixes, sacadas utilizadas nos antigos discos da Staxx, por exemplo,”, reforça o artista. Esse espelhamento pode ser facilmente entendido em temas como “Fight the Power” (autêntica canção/vodu vinda direto dos pântanos da Louisiana, com vocais de apoio bruxuleantes de Luana Pacheco); “Life’s a Game (puro dixieland); “Song for JB (homenagem a lenda do piano blues James Booker); “Take to the Top” (ecos de rock’a’billy com a marca do guitarrista Igor Prado) e “Blackout Party” (típico blues com o gingado sulista acentuado na gaita de Gaspo Harmônica).
Quem também ouviu “The Power of Love”, foi Bob Lohr, pianista que já atuou em gravações e turnês com Billy Boy Arnold e Chuck Berry: “Luciano é um dos mais surpreendentes músicos que se arriscam no rhythm & blues e teclados ao estilo de New Orleans”. Com tanto endosso e arrebatamento, fica fácil apostar meus cavalinhos em “The Power of Love”, título que se credencia naturalmente a um dos melhores discos de blues já lançados no país.” Trata-se de um trabalho feito para ouvir em qualquer época”, bate o martelo Russ Ragsdale.
Se Luciano Leães comemora vinte anos de carreira em 2015, o presenteado é o público que o acompanha. “Quero tocar o que me faz vibrar. O grande lance é sermos livres pra revelarmos algo real, construindo a nossa verdade, sempre respeitando a verdade dos outros”. Bob Lohr diz algo mais: “Leães toca tão bem e com tanta alma que se você, no caso, também for um pianista, após ouvi–lo, vai ficar afim de duas coisas: abandonar ou praticar. Definitivamente um dos melhores caras que tocam no estilo clássico de New Orleans, fora de lá. E fim de papo”.
Sim, fim de papo! Tire o lacre daquela garrafa de bourbon reservada para um momento especial e coloque sua roupa de festa – o show do próximo dia 3 será uma celebração!
Eu estarei lá.
Arrede as cadeiras da sala e ouça “Take Me to The Top”, nova faixa revelada. O tema conta com a participação de Igor Prado (Prado Blues Band). → https://youtu.be/G2l-OYPGQPI
Para ouvir The Power Of Love
https://open.spotify.com/album
Deixe um comentário