O livro origina-se de projeto, de mesmo nome, que promoveu em 2015 um ciclo de debates sobre as identidades regionais, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Os encontros envolveram profissionais da psicanálise, das artes, teatro, cinema, música, história, economia, filosofia, sociologia e educação, promovendo a reflexão, conversas e questionamentos sobre quem somos e como somos e como nos relacionamos.
“NósOutros Gaúchos: as identidades dos gaúchos em debate interdisciplinar”, organizado por Jaime Betts e Sinara Robin (Editora da UFRGS, 352 páginas), será lançado no dia 12 de julho, quarta-feira, às 19h. O evento incluirá uma roda de conversa com os palestrantes sobre questões que lhes marcaram ao longo do ciclo de debates.
A obra reúne textos dos autores que participaram das discussões, dispostos em forma de diálogo, buscando registrar a interação e sobreposição das múltiplas leituras que surgiram do conjunto de atividades, dos autores e das ideias. Além da versão impressa, está prevista também sua publicação em formato digital.
O projeto, que deu origem ao livro, teve sua concepção e execução em um trabalho conjunto entre o Departamento de Difusão Cultural da UFRGS e o Instituto APPOA – Associação Psicanalítica de Porto Alegre e contou com o apoio cultural da Celulose Riograndense. Incluiu um ciclo de debates, exibição de filmes, apresentações de teatro e de música.
Sobre o livro
Reúne abordagens interdisciplinares e propõe-se a contribuir para reflexão e compreensão sobre as identidades dos gaúchos, em seus traços mais arraigados, destacando os principais conflitos decorrentes das mesmas, relacionando-se com a ideia expressa pelo jornalista e escritor uruguaio, Eduardo Galeano, “A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la”.
A noção de “bairrista” que se manifesta na forma como os gaúchos relacionam-se entre si e com os “estrangeiros” pode ser motivo de orgulho, mas está na raiz das tensões que minam as relações de confiança, entravam as parcerias, produzem maniqueísmos e impedem o desenvolvimento em diversas áreas.
O título “NósOutros Gaúchos” conferiu uma abertura para diferentes interpretações, desde sua gestação e durante todo o seu percurso (e mesmo depois), que permitiu problematizar o desafio, tornando-o uma questão que se desdobrou em muitas outras. Aponta, por exemplo, que o “eu é um outro” indicando que nossas identidades também vêm do outro, por mais que reconhecer esta alteridade, ao mesmo tempo familiar e estranha, possa ser por vezes incômoda, ou até mesmo insuportável, levando nesse caso a embates mais ou menos violentos.
Outra leitura é a que suscita o “nosotros”, pronome equivalente no espanhol. Isso indicando tanto que “nós somos outros”, quanto nossas identidades resultam do entrelaçamento de diferentes idiomas, como o português e o espanhol, além das línguas e dialetos indígenas e africanos, e mais tarde com o alemão e o italiano com a chegada dos imigrantes ao RS.
Além disso, os gaúchos carregam em sua história o fato de ser um estado de fronteira, de colonização tardia em relação ao resto do Brasil, cuja configuração presente é resultado de tratados, conflitos armados e guerras entre os reinos de Portugal e Espanha pelo território, bem como da escravidão e genocídio dos povos indígenas realizados por ambos os lados. Associado a isso, ainda há as influências da presença africana e dos embates da própria formação política dos períodos imperiais e republicanos.
Debater as identidades dos gaúchos e colocar em questão as dificuldades e desafios, necessariamente tem que ser conduzida sob numa perspectiva interdisciplinar, a partir de quatro princípios norteadores: nenhuma disciplina dá conta do todo; não há hierarquia entre as diferentes disciplinas; ninguém é dono da verdade; e o real é impossível de simbolizar.
Assim, ao longo das páginas, o leitor poderá percorrer as questões propostas em cada um dos encontros, como: Por que colocar NósOutros Gaúchos em questão; quais são nossos sintomas sociais e qual o mal-estar e sofrimento que produzem? Quais são as raízes e seus desdobramentos contemporâneos que conformam a cultura no RS? Quais são as expressões dos conflitos de base do RS em seus diversos campos de expressão cultural? Qual a visão dos outros sobre a cultura gaúcha e os modos de ser dos gaúchos? Quais as questões e sintomas sociais de nossos vizinhos e como os enfrentam?
Os textos articulam respostas a essas e a outras questões sobre NósOutros, sempre inconclusivas por princípio, e levantam novas interrogações na perspectiva de abertura à continuidade dos debates e busca de melhores soluções para nossos conflitos e impasses.
Sobre o projeto
O projeto NósOutros Gaúchos, desenvolvido ao longo de 2015, abrangeu um ciclo de encontros no Salão de Festas da UFRGS, que abriga a exposição do Acervo da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo. Em cada encontro, a arte dialogou intensamente com o tema. Além dos quadros de artistas contando a história do RS nas telas, participaram do diálogo apresentações de música, performance, teatro e dança.
NósOutros Gaúchos compreende uma plataforma virtual que inclui informações gerais sobre a iniciativa, os encontros, com vídeos e documentos, e pode ser acessada no endereço: www.ufrgs.br/difusaocultural/nosoutrosgauchos.
Conheça alguns dos palestrantes do ciclo de debates do projeto NósOutros Gaúchos:
Alfredo Jerusalinsky
Ana Costa
Bruno Ferreira
Caterina Koltai
Cesar Augusto B. Guazzelli
Claudia Fonseca
Deborah Finocchiaro
Donaldo Schüler
Eduardo Mendes Ribeiro
Inês Marocco
Jaime Betts
José Miguel Wisnik
José Rivair Macedo
Liz Nunes Ramos
Luís Augusto Fischer
Luiz Osvaldo Leite
Maria Ivone dos Santos
Mario Corso
Mario Delgado
Paulo Gomes
Pedro Figueiredo
Pirisca Grecco
Renato Borghetti e Fábrica de Gaiteiros
Rualdo Menegat
Sinara Robin
Tau Golin
Vitor Necchi
Vitor Ramil
SERVIÇO
Data: 12 de julho (quarta-feira)
Hora: 19h
Local: Salão de Festas da UFRGS – Av. Paulo Gama, 110 – 2º andar.
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