Milton Ribeiro
Creio que nunca ter visto um filme peruano, mas este A Passageira é tão elogiado que devemos fazer nossa estreia neste desconhecida filmografia. Já o restante da lista de continuações podemos indicar com grau excelente de conhecimento.
A Comunidade, Marguerite e Aquarius, todos em cartaz, são presenças certas na lista de melhores de 2016. Vimos ontem este excepcional A Comunidade, filme que mistura ciúme, democratismo — no sentido da exacerbação da aplicação do sistema democrático, da forma ingênua pela qual o ideal democrático costuma se perverter — e frustrações durante uma experiência pós-hippie na Dinamarca.
Mas há também um bom concerto da Ospa na próxima terça-feira e o eterno e justo retorno de Bailei na Curva.
Todas as semanas, o Sul21 traz indicações de filmes, peças de teatro, exposições e música para seus leitores. Não se trata de uma programação completa, mas de recomendações dos melhores espetáculos que assistimos. O critério é a qualidade. Se você tiver sugestões sobre o formato e conteúdo de nosso guia, por favor, comente. Boa semana!
Ah, de segunda a sexta, atualizamos nosso Guia21 com a programação do que acontece em POA.
Cinema – Estreias
A Passageira (****)
(Magallanes), de Salvador del Solar, Peru, 2014, 105 min
Nesse primeiro filme do ator Salvador del Solar como diretor, o que temos é uma trama que lida com as consequências de nossos atos, que mais cedo ou mais tarde virão bater à nossa porta. Harvey Magallanes (brilhantemente interpretado por Damián Alcázar), cujo sobrenome dá o título original ao filme, dirige um táxi nas horas em que não é o chofer particular de um ex-coronel do exército de Ayacucho, onde Magallanes o serviu. Eis que um dia uma de suas passageiras desperta lembranças não muito bem-vindas, de uma época em que o mal que se fazia não parecia tão assustador ou abrangente. Um mal que chega a ser divertido, chega a nem parecer nada demais. E se alguém pode medir o quão profundo e traumatizante esse mal de fato foi, essa pessoa é Celina (sim, a passageira do título brasileiro), mantida em cativeiro e servindo aos caprichos sexuais do coronel e de outros soldados por quase um ano, quando não tinha nem 15 de idade. Essas duas personagens irão se encontrar algumas vezes e vão dar o tom dramático ao filme. Forte, arrepiante até, principalmente quando Celina faz um rápido e raivoso discurso de alívio em quechua (língua indígena), enterrado em seu peito há tantos anos: por mais que não se entenda e as legendas são propositadamente retiradas, a força da interpretação de Magaly Solier é de arrepiar. Em meio a isso tudo, tem um golpe sendo armado por Magallanes, que acaba por ser sua redenção. Ou não. (Retirado do site O que tem na nossa estante).
No Guion Center 2, às 15h20 e 19h20
Cinema – Em cartaz
A Comunidade (*****)
(Kollektivet), de Thomas Vinterberg, Dinamarca / Holanda / Suécia, 2016, 112 min
Este é o melhor filme de 2016 ao lado de A Juventude e Francofonia. A Comunidade, de Thomas Vinterberg, autor dos excelentes Festa de Família, Submarino e A Caça entra em apenas uma sala e um horário, um verdadeiro absurdo. A seguir, coloco um trecho do que Luiz Carlos Merten escreveu sobre o filme: “Até pensei, por um momento, pelo título – The Commune -, que seu novo filme também pudesse ser de época (a Comuna de Paris), mas está mais para o espírito de Festa de Família, sem o Dogma, embora seja uma produção da dinamarquesa Zentrope, de Lars Von Trier. A cena é contemporânea, um homem herda o casarão do pai, mas a mulher o convence a chamar amigos e formar uma comunidade alternativa. No começo tudo parece ótimo, mas logo chegam as tensões, o fim da utopia. Um marido arranja uma amante jovem, que leva para morar com o grupo. A mulher implode, enlouquece. A filha incita a mãe a partir. E há um garotinho, uma graça, que tem sopro no coração e vive dizendo que vai morrer aos 9 anos. Ele se apaixona por uma garota de 14, mas ela tem a própria vida, a própria agenda. O filme de Vinterberg é sobre a fragilidade e o egoísmo do amor. Qualquer um, embriagado pelo sentimento, não liga a mínima para o sofrimento que pode estar provocando nos outros. Da escrita à realização, A Comunidade é forte, muito bem interpretado. Os atores dinamarqueses… Meu Deus! O desnudamento emocional é completo. Em mais de um momento tive vontade de aplaudir em cena aberta”.
No Guion Center 2, às 17h15 e 21h15
O Silêncio do Céu (****)
(Era El Cielo), de Marco Dutra, Brasil / Chile, 2016, 100 min
Diana (Carolina Dieckmann) carrega consigo um grande trauma: ela foi vítima de um estupro dentro de sua própria residência. Entretanto, prefere esconder o caso e não contar para ninguém. Mario (Leonardo Sbaraglia), seu marido, também tem seus próprios segredos — e, assim, ambos vão matando aos poucos a relação do casal. Neste excelente filme, o conflito explode logo de cara. Através do vidro, Mario enxerga Diana ser violentada por dois homens. Atormentado, procura a melhor maneira de reagir sem que a mulher seja morta. Ele então pega a pedra no jardim e entra em casa, mas percebe que não teve uma boa ideia, deixa a rocha na mesa de trabalho da esposa, enquanto procura uma tesoura. Ao longo do processo, os agressores terminam e fogem, sem perceber que eram testemunhados pelo marido. Mario sai no encalço dos homens e só é interrompido por uma ligação da esposa, que pede, com calma, que ele busque as crianças na escola. Ele atende ao pedido e, quando retorna, Diana não fala sobre a agressão. Aliás, ninguém conversa sobre o ocorrido. O resto você descobre. Bom filme.
No GNC Moinhos 3, às 16h15
Na Sala Paulo Amorim, às 17h30
Aquarius (*****)
de Kleber Mendonça Filho, Brasil, 2016, 145 min
Kleber Mendonça Filho já marcara seu nome no cinema brasileiro com o extraordinário O Som ao Redor. Em vez de apenas colher a glória de seu grande filme, bisou o feito, realizando outro também notável. Clara (Sonia Braga) tem 65 anos, é jornalista aposentada, viúva e mãe de três adultos. Ela mora em um apartamento localizado na Av. Boa Viagem, no Recife, onde criou seus filhos e viveu boa parte de sua vida. Interessada em construir um novo prédio no espaço, os responsáveis por uma construtora conseguiram adquirir todos os apartamentos do prédio, menos o dela. Por mais que tenha deixado bem claro que não pretende vendê-lo, Clara sofre todo tipo de assédio e ameaças para que mude de ideia. Uma história lotada de Brasil.
No CineBancários 19h
No Espaço Itaú 6, ás 21h
No GNC Moinhos 4, às 13h20, 16h, 18h50 e 21h40
Na Sala Eduardo Hirtz, 16h
Marguerite (*****)
(Marguerite), de Xavier Giannoli, França/Bélgica/República Checa, 2015, 129 min
Nos anos 1920, em Paris, Marguerite Dumont é uma mulher rica, apaixonada por música e ópera. Há anos canta regularmente para seu círculo de conhecidos. Marguerite é muito desafinada, mas isso nunca ninguém lhe disse. Seu marido e seus amigos mais próximos sempre mantiveram suas ilusões. Tudo se complica no dia em que Marguerite põe na cabeça que vai cantar diante de um público de verdade na Ópera Nacional de Paris. O filme é baseado na biografia real da vida da cantora estadunidense Florence Foster Jenkins. Marguerite podia ser surda para os tons musicais, mas o filme de Giannoli acerta em todas as notas.
https://youtu.be/-CYWf2RgBvA
Na Sala Norberto Lubisco, por 15h
Funcionário do Mês (****)
(Quo Vado?), de Gennaro Nunziante, Itália, 2016, 84 min
Esta comédia dirigida por Gennaro Nunziante arrecadou mais de € 65 milhões (US$ 71 milhões), transformando-se no filme italiano mais rentável de todos os tempos. Com humor ácido e muitas críticas ao funcionalismo público na Itália, o longa traz a história de Checco, interpretado por Checco Zalone. Ele nasceu numa família que possui uma larga linhagem de burocratas que nunca soube o que é ter que colocar a mão na massa e trabalhar duro. Em sua vida adulta, ele desfruta da confortável e ultra vantajosa posição de funcionário público numa repartição que não exige muito. Uma verdadeira sinecura. Depois de muito evitar o trabalho duro, sua situação começa a mudar quando um governo mais austero assume a missão de fazer cortes no funcionalismo público, forçando sua demissão ao colocá-lo em funções cada vez piores. Eu curti.
https://youtu.be/WrkY2G5YDhU
No Guion Center 2, às 13h50
Exposições e Artes Plásticas
Exposição “Maria Lucia Cattani: Gestos e Repetições
Pinacoteca Barão de Santo Ângelo do IA/UFRGS (Rua Senhor dos Passos, 248, primeiro andar)
Até 27 de outubro de 2016 com visitação de segunda a sexta, das 10 às 18h
Abre no dia 29 de setembro, quarta, às 19h, na Pinacoteca Barão de Santo Ângelo do IA/UFRGS a exposição “Maria Lucia Cattani: Gestos e Repetições”, que traz a público um pequeno recorte da abrangente e vigorosa produção poética da artista gaúcha. No rico e sensível legado de Cattani, as marcas, resultantes de repetidos gestos, trazem um olhar atento e singular sobre o múltiplo – perfazem um percurso “do único ao múltiplo e do múltiplo ao único”, sutil provocação aos limites, inócuos, na arte contemporânea. Com curadoria de Maristela Salvatori e Paulo Silveira, a exposição busca preservar a memória da obra e da pessoa de Maria Lucia Cattani, que por vinte e oito anos atuou como pesquisadora e professora no IA/UFRGS, integrando o corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV) de 1991 até sua aposentadoria, em 2013.
Exposição Brésils – regards croisés
Aliança Francesa Zona Sul: Wenceslau Escobar, 3206 – Tristeza
Até 12 de novembro
Resultado do diálogo entre o ilustrador brasileiro Ricardo Manhães e o roteirista francês Jean-David Morvan, a exposição Brésils – regards croisés estreia em Porto Alegre no dia 29 de setembro, na Aliança Francesa Zona Sul. O encontro inusitado entre estes artistas, ambos de renome internacional no universo franco-belga dos quadrinhos, gerou uma nova leitura visual e poética da periferia brasileira. Os olhares cruzados desses artistas convidam todos a brindar a alegria e o colorido do homem comum e a valorizar o modo de ser e de viver do povo brasileiro. Morvan tem como hábito viajar pelo mundo sozinho, descobrindo locais diferenciados e os fotografando. De maneira intimista e descontraída, registrou o cotidiano das pessoas das periferias nordestinas e enviou para Manhães opinar. Daí surgiu a ideia de uma exposição que casasse as duas artes: a fotografia e a ilustração.
Retratos Indígenas, por Marilene Bittencourt
Galeria 189 – Rua Bagé, 189. Petrópolis
Segunda a Sexta das 13h às 19h, Sábados das 10h às 18h
Até 8 de outubro
As fotografias da exposição foram captadas durante os I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas que ocorreu em Palmas Tocantins em novembro de 2015. A fotógrafa esteve fazendo a cobertura do evento e acompanhou bem de perto varias tribos brasileiras neste raro momento “festivo”. Os Retratos Indígenas da mostra são registros atuais dos traços fortes e belos daqueles que foram os primeiros habitantes do nosso país e ainda hoje carregam em seu DNA heranças ancestrais de uma civilização sábia que trata e cultiva a terra em que vive com profundo respeito e sabedoria. Para Marilene, realizar este trabalho teve um significado especial. “A natureza e as pessoas são temas que me comovem. É um resgate de minhas origens, da nossa história”, conta. A exposição segue aberta para visitação até 8 de outubro.
Salão da Câmara reúne 22 artistas do Estado
2º piso da Câmara (Avenida Loureiro da Silva, 255)
Até 7 de outubro, das 8 às 18 horas, de segundas a sextas-feiras
Trabalhos de 22 artistas do Rio Grande do Sul estão expostos no 21º Salão de Artes Plásticas Câmara Municipal de Porto Alegre, aberto neste mês. São 37 obras de 11 diferentes técnicas que podem conhecidas até 7 de outubro, com entrada gratuita. O evento deste ano também presta uma homenagem aos 80 anos do pintor gaúcho Paulo Porcella, um dos mais importantes artistas do Estado.
Nilza Haertel: Experimentações Gráficas
De 13 de setembro até 15 de outubro, de terça a sexta, das 10 às 19h; sábados, das 11 às 18h
No Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, Rua dos Andradas, 1223, 1° andar
Professora de gravura e desenho no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul por quase 30 anos, com grande dedicação à gravura, Nilza Haertel expôs em raras ocasiões. Seu legado artístico chegou recentemente à UFRGS por doação de seus familiares. A abertura de suas pastas desvelou um acervo inestimável, confirmando o perfil investigativo da artista nesta área de conhecimento e revelando uma produção de grande fôlego e sensibilidade que poucos tiveram o privilégio de conhecer. A exposição traz a público uma leitura sobre esta importante coleção que apresenta inquietações artísticas contemporâneas e que, certamente, suscitará a curiosidade de muitos outros olhares.
Coleção da Fundação Edson Queiroz
Na Fundação Iberê Camargo, Av. Padre Cacique, 2.000
Até 17 de outubro
A exposição reúne um conjunto de 76 obras da Fundação Edson Queiroz, uma das mais amplas e sólidas coleções da arte brasileira do País. A mostra tem como foco a produção de artistas atuantes no Brasil entre as décadas de 1920 e 1960, abrangendo do modernismo à arte abstrata. Trata-se de uma oportunidade única para o público de Porto Alegre entrar em contato com esse período tão singular da arte nacional.
Abertura: 23 de junho, das 19h às 21h
Exposição: de 24 de junho a 17 de outubro
Apenas sextas e sábado, das 13h às 18h
Na Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2.000 – Porto Alegre)
Música
Concerto da Ospa | Série Theatro São Pedro
Dia 4 de outubro de 2016, terça-feira, às 20h30
No Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/n – Centro, Porto Alegre)
A Orquestra Sinfônica de Porto Alegre prepara uma noite espanhola para o público da Capital gaúcha. No dia 4 de outubro, terça-feira, às 20h30, os músicos interpretam programa dedicado à música da Espanha na ocasião da Festa Nacional do país. Promovido em parceria com a Embaixada da Espanha no Brasil e o Consulado do país em Porto Alegre, o concerto, parte da Série Theatro São Pedro, será regido pela maestrina Isabel Costes, diretora da Orquestra Sinfônica do Atlântico. O solista é Eduardo Monteiro, um dos grandes expoentes do piano no Brasil. Os ingressos custam entre R$ 10 e 40 e já estão à venda na bilheteria do Theatro São Pedro, o local do evento. O concerto celebra o legado do compositor espanhol Enrique Granados (1867-1916), cujo centenário de morte é lembrado em 2016. A orquestra executa duas de suas obras: o Intermezzo da ópera “Goyescas”, inspirada na vida do pintor Francisco de Goya y Lucientes, e “Andaluza” (versão para orquestra de Joan Lamote de Grignon), peça da série “Danças espanholas”. O programa contempla também a “Rapsódia Espanhola” de Maurice Ravel (1875-1937), obra impressionista que, segundo a maestrina Isabel Costes, equilibra a elegância que habitualmente associamos “ao francês” e o caráter mais radical, mais “rústico”, ligado “ao espanhol”. Além desta peça, a música do famoso balé “El Sombrero de Tres Picos” (Suítes 1 e 2), de Manuel de Falla (1876-1946), ganhará destaque.
PROGRAMA
Maurice Ravel: Rapsódia Espanhola
Ronaldo Miranda: Concertino para piano
Enrique Granados: Intermezzo “Ópera Goyesca”
Enrique Granados: Andaluza – Danças Espanholas
Manuel De Falla: El Sombrero de Tres Picos (Suítes 1 e 2)
Regente: Isabel Costes (Espanha)
Solista: Eduardo Monteiro (Brasil | piano)
Teatro e Dança
Bailei na Curva
De sextas a domingos, de 30/09 a 16/10 (sextas e sábados às 21h / domingos às 20h)
Teatro AMRIGS (Av. Ipiranga, 5311)
Completando 33 anos de história, o espetáculo Bailei na Curva estará em cartaz a partir deste final de semana no Teatro da Amrigs, em Porto Alegre, para uma temporada de nove edições: todas as sextas, sábado e domingos de 30 de setembro a 16 de outubro. Bailei na Curva mostra a trajetória de sete crianças, vizinhas na mesma rua em abril de 1964. Como pano de fundo, impõe-se uma forte realidade. Um golpe militar num país democrático da América Latina. A peça desenha, ao mesmo tempo, um quadro divertido e implacável da realidade. Divertido sob o ponto de vista da pureza e ingenuidade das personagens que, durante sua trajetória, enfrentam as transformações do final da infância, adolescência e juventude. E implacável graças às consequências de um Golpe Militar que vai refletir na vida adulta destes personagens. A peça é um clássico que emociona gerações há 33 anos e atualmente é o espetáculo mais montado no Brasil. Esta temporada comemorativa do maior clássico do teatro gaúcho é uma co-produção do Complexo Criativo Cômica Cultural com a Artistaria Produtora de Humor.
Para Sempre Terra do Nunca
De 14 de agosto a 30 de outubro, sempre aos domingos às 17h
Teatro Novo DC – DC Shopping, na Rua Frederico Mentz, 1561 D – Navegantes
A Terra do Nunca, um lugar de sonhos e aventuras do imaginário infantil, se vê repentinamente abandonada. As crianças do mundo estão com outros interesses e os personagens dos clássicos infantis esquecidos. Algo precisa acontecer para que aquele universo tão rico volte a ser o refúgio de encantamento que até os adultos, mesmo que em sonho, sempre retornam. Pensando nisso, o Capitão Gancho decide atirar uma garrafa ao mar com uma mensagem dirigida a todas as crianças. O que o Capitão Gancho não esperava é que muita coisa irá acontecer na Terra do Nunca a partir de então.
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